sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

o quase fim do mundo

Essa coisa do fim dos tempos coincidir com o fim do ano, época em que todos estão naturalmente mais emotivos, só pode ser conspiração dos Maias. Esses cabras sabem das coisas...
Apesar de ridícula, eu achei boa essa paranoia toda, porque gera uma reflexão sobre os tempos em que vivemos. Será que queremos seguir assim? Será que não há outra forma de se relacionar, de consumir? Será  que não estamos no limite de forças, de recursos, de estratégias, de burocracias?
Para mim, é fato que o fim do mundo já começou, e faz tempo! Estamos aniquilando nossa própria espécie. Criamos um sistema insano de necessidades, uma rede intrincada de siglas, taxas, sem a qual não é possível viver. Colocamos o dinheiro como senhor de nossas vidas. Nos desconectamos da natureza, da sabedoria que ela nos dá de graça, diariamente, sem pedir nada em troca. Nos ensimesmamos, acreditando que manifestar emoções, loucuras e instintos seja algo unicamente dos "bichos". E nós, somos o quê?

O mundo precisou quase acabar pra nos tocarmos. Aproveite então, e se toque. Toque no seu coração, no seu corpo, na sua alma. Faz tempo também que existem milhões de pessoas fazendo diferente, construindo novos valores, praticando economia solidária, atuando em rede, crowdfunding, pensando no desenvolvimento de forma coletiva e realizando-o de forma colaborativa.

O que faz sentido pra você?

Hoje é um dia de reflexão, de meditação, de celebração. De se religar com algo sagrado.

Então se liga aí: se quiser continuar desfrutando desse presente maravilhoso que é a vida, reinvente-se. 

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

o amor que a vida traz

Você gostaria de ter um amor que fosse estável, divertido e fácil. O objeto desse amor nem precisaria ser muito bonito, nem rico. Uma pessoa bacana, que te adorasse e fosse parceira já estaria mais do que bom. Você quer um amor assim. É pedir muito? Ora, você está sendo até modesto.

O problema é que todos imaginam um amor a seu modo, um amor cheio de pré-requisitos. Ao analisar o currículo do candidato, alguns itens de fábrica não podem faltar. O seu amor tem que gostar um pouco de cinema, nem que seja pra assistir em casa, no DVD. E seria bom que gostasse dos seus amigos. E precisa ter um emprego seguro. Bom humor, sim, bom humor não pode faltar. Não é querer demais, é? Ninguém está pedindo um piloto de Fórmula 1 ou uma capa da Playboy. Basta um amor desses fabricados em série, não pode ser tão impossível.

Aí a vida bate à sua porta e entrega um amor que não tem nada a ver com o que você queria. Será que se enganou de endereço? Não. Está tudo certinho, confira o protocolo. Esse é o amor que lhe cabe. É seu. Se não gostar, pode colocar no lixo, pode passar adiante, faça o que quiser. A entrega está feita, assine aqui, adeus.

E agora está você aí, com esse amor que não estava nos planos. Um amor que não é a sua cara, que não lembra em nada o amor solicitado. E, por isso mesmo, um amor que deixa você em pânico e em êxtase. Tudo diferente do que você um dia supôs, um amor que te perturba e te exige, que não aceita as regras que você estipulou. Um amor que a cada manhã faz você pensar que de hoje não passa, mas a noite chega e esse amor perdura, um amor movido por discussões que você não esperava enfrentar e por beijos para os quais nem imaginava ter tanto fôlego. Um amor errado como aqueles que dizem que devemos aproveitar enquanto não encontramos o certo, e o certo era aquele outro que você havia encomendado, mas a vida, que é péssima em atender pedidos, lhe trouxe esse e conforme-se, saboreie esse presente, esse suspense, esse nonsense, esse amor que você desconfia que nem lhe pertence. Aquele amor em formato de coração, amor com licor, amor de caixinha, não apareceu. Olhe pra você vivendo esse amor a granel, esse amor escarcéu, não era bem isso que você desejava, mas é o amor que lhe foi destinado, o amor que começou por telefone, o amor que começou pela internet, que esbarrou em você no elevador, o amor que era pra não vingar e virou compromisso, olha você tendo que explicar o que não se explica, você nunca havia se dado conta de que amor não se pede, não se especifica, não se experimenta em loja – ah, este me serviu direitinho!

Aquele amor discretinho por você tão sonhado vai parar na porta de alguém para o qual um amor discretinho costuma ser desprezado, repare em como a vida é astuciosa. Assim são as entregas de amor, todas como se viessem num caminhão da sorte, uma promoção de domingo, um prêmio buzinando lá fora, mesmo você nunca tendo apostado. Aquele amor que você encomendou não veio, parabéns! Aproveite o que lhe foi entregue por sorteio.

[Martha Medeiros]

terça-feira, 20 de novembro de 2012

porvir

Não me reconheço. Ando sumida de mim mesma. A vida não está. Eu sempre disse que a indiferença é o pior dos sentimentos. Vazio. É assim que a vida está: indiferente a mim. Ela está passando por mim. De relâmpago, esqueço-me de tudo de tão bom que já fiz e já vivi, de tudo que realizei, do tanto que aprendi e ensinei. De nada valem os caminhos que viajei, o tanto que aproveitei, ri e chorei de rir, de como eu sou corajosa, audaciosa, intensa e bem intencionada. De repente, talvez tudo tenha que voltar a ser como era antes. De repente, eu não tenho certeza nem do meu próprio nome, nem da senha do cartão de crédito, nem do que me causa brilho nos olhos. De repente eu desisto de ter filhos, sonho de criança. E meu horizonte, por mais amplo que todos os dias majestoso se apresente, de repente se torna restrito, curto, limitado. Como é difícil dizer adeus ao que se ama! E jogar-se novamente no vácuo, começar do zero, mas nunca mais a mesma depois daqui. Quando a cor mais bonita do mundo pintou o céu uma tarde, eu lembro de ter falado: “pode até ser besteira o que vou dizer, mas sinto que esses são os meses mais felizes da minha vida”.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

31

De repente percebo que começo a ter rugas. São marcas indeléveis de uma vida intensa, lindamente construída sobre minhas vontades e escolhas. Trago marcas pra todos os gostos, de tristezas profundas e alegrias indescritíveis, amores muitos, viagens loucas, poucos excessos, porque sempre amei muito meu corpo.
Mas viver conforme a orientação da minha alma é muita guerra. É preciso buscar coragem lá no fundo do coração, coragem para agir com fé a amor, coragem para desapegar-se do que não está para mim. Eu, que pouco me importo com “os outros”, me percebo triste ao constatar que um ato tão puro como agir a partir das vontades da minha alma gera incompreensão alheia. Aos olhos dos outros parece descaso, parece loucura, mas na verdade é só altruísmo, porque quando você liberta, está prestando um serviço a várias dimensões, não só a você mesmo.
Esta não é a primeira solidão da minha vida – e nem será a última. Já sobrevivi antes, às vezes mais morta do que viva, e aqui estou, mais viva e fiel do que nunca. Eu amo demais, amar é coisa muito boa. E parto para novas viagens com o coração aberto, pra mostrar fotos ainda inéditas, contar e ouvir causos e descobrir novas canções.

sábado, 8 de setembro de 2012

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

por enquanto

Admiro teu modo de viver: esse jeito de fazer o tudo a partir do nada, de tornar o remediado o melhor do mundo. Adoro essa tua capacidade de animar o inanimado, tangenciar as dores para esquecê-las, deixar passar as trevas por saber que, invariavelmente, a luz está logo ali. E esse teu ser criança meio peter pan, o tom do riso, o jeito de mergulhar no mar, de contar histórias com tanto sabor como se fosse a última vez que pudesse contá-las. Você vive todos os dias com a minha intensidade e dá respostas inocentes de menino levado às minhas perguntas - sempre sérias. Você me desmonta. Me desalenta. Me causa novas sensações das quais quero me esquivar.

Não sei se já te contei o tanto que adoro de você.
Você me ensina a ser menos aquela que eu quero menos ser.
Sei que nosso caminho, por vezes, anda descaminhado. Mas não tenho medo de sair da trilha. São várias as estradas que levam a nós.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

precisão

Ando imprecisa. E precisada de mais. Mais suor, mais leitura, mais aventura. Me pergunto porque a vida não pode ser ser só isso - que já é muito. Mas saber que é mais, que pode ser muito mais, é um caminho sem volta: é uma viagem que vicia.

Ando atônita, inquieta, flutuante, precisando de calma produtiva. Dormir não me descansa, falar não me alivia, aquietar não me integra.

Ando apenas. Ando por aí buscando domar meu dragão, minha impulsividade, minha exigência.
Ando sabendo que preciso de muito pouco, mas não sei que cara ele tem.

Ando imprecisa.
Preciso de mim, de volta.

domingo, 29 de julho de 2012

amor bandido

Nem estou certa de que estás, mas sinto seu olhar sobre mim, seguindo meus movimentos pelo lugar. Seus olhos querem disfarçar a vigília, mas não conseguem desviar, porque a gente se imanta. Eu tiro os óculos para embaçar um pouco a vida: às vezes gostaria de não te enxergar. Mas sinto seu cheiro. E isso basta pra eu saber que você está, mesmo que a gente ainda não tenha se cruzado, olá como vai, eu vou indo, e você tudo bem? ... o que é isso de nem precisar encostar minha pele na tua pele pra saber ser a mesma textura, a mesma temperatura? De nem precisar te enxergar pra saber que estás? Pelo faro já sei. E então sair rodopiando pelo salão até o pé criar asas, flutuando, até os rostos colarem de suor, até eu fechar meus olhos por minutos a fio confiando em cada passo que dou com você. Só sei dançar com você.
E então fujo. Fujo das incertezas, das improfundezas.
Eu queria saber dar laços, mas eu só sei dar nós.
E acabo embaraçada toda.

 

sexta-feira, 27 de julho de 2012

A primeira faz bum, a segunda faz tá

Hoje é dia de palavra que arrase. Que arrase o quarteirão, o coração, a Conceição. "Minha palavra vale um tiro e eu tenho muita munição", porque cansei de fazer cara de paisagem em meio a tanta indecência. A ostentação é indecente. A leviandade me ofende, me afeta, me fode. Me recuso a fazer parte, a ser conivente, a me misturar com a escória. Quem gosta de lavagem é porco. Tô precisando de um conhaque, de um shot, de um chute. Dar um chute. A gol. Anseio por aquele frio na barriga de antigamente, para que alguma coisa me emocione, para que qualquer coisa me motive a dar o primeiro passo. E de repente percebo a raiva como minha aliada. Ela, só ela neste momento, pode me impulsionar.

Agora é:
Atenção,
Disciplina,
Neutralidade emocional,
Observação positiva da realidade.

E chega de mimimi.

sábado, 14 de julho de 2012

nice 'n' easy

Estamos a caminho do nada. Não adianta contemporizar, adiar, fingir. É preciso de uma boa dose de coragem para admitir certas coisas, e de alguma praticidade para seguir em frente. Coragem me sobra, praticidade me falta. É que eu preciso traçar algum objetivo, começar um livro novo, começar a escrever outro livro, comprar uma casa - ou um all star - para me sentir segura do próximo passo. Preciso cuidar de mim pessoalmente, seguir um pouco os conselhos que dou pros outros. Cuidar do meu coração.
Estamos a caminho do nada,  mas você não percebeu. Eu estou pretensiosa, ambiciosa, voluntariosa. Dei um nó em mim mesma e não consigo desatar. Você é um laço de setim: esvoaçante por aí, sem amarras. Eu não queria deixar de te amar, mas é meu dever te alertar que andar a caminho do nada não me faz te querer bem. Já jurei muitas vezes não mais colocar pontos, apenas vírgulas. Mas não consigo viver com este desconforto por tempo nenhum. Paciência é uma virtude que me falta. Então ponto. Estamos a caminho de um fim doloroso, porque todos os fins são mais ou menos dolorosos, mas eu não gostaria de ser protagonista desta vez. Eu não quero mais ser protagonista de fins, entende? E pra isso, não posso começar grandes coisas. Sim, parece contraditório à minha natureza, me privar da vida assim para não sofrer. Mas é uma escolha sensata, depois de tudo. Então me ajuda a fazer tudo isso ser fácil e leve, sem muitas delongas. Nice and easy, pra que o amor permaneça entre nós.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

anemia

De repente, no meio do pontinho de felicidade, a lágrima borra o olho. Passo a ver neblinado, dia cheio de suspiros. Sobretudo quando se aproxima a noitinha, ventosa, farfalhar de folhas enlouquecidas do lado de fora da minha segurança. O gato mia. A garganta dói por algo que não é dito. E sigo sem saber o que dizer. Gostaria de me sentir diferente, de acreditar em olhares cúmplices, na possibilidade de voar juntos, em roteiros de viagem. Mas algo lá no fundo chove. E não para de chover...

terça-feira, 10 de julho de 2012

banho quente

Sorrio pensando que passei um ano tomando banho frio. Não era um grande problema quando chegava da praia, corpo quente de sol. Mas em dias chuvosos era uma verdadeira tortura chinesa. Nessa época, namorava um cara que tinha uma casa com um chuveirão quente, eu costumava dizer que só estava com ele por causa daquele benesse – e talvez fosse mesmo. A gente teve uma história conturbada de algumas indas e vindas, e toda vez que terminávamos eu pensava que um banho frio estava à minha espera. Agora a vida mudou um pouco. Eu me mudei. Tenho meu próprio chuveiro quente, que está a postos para fazer minha felicidade nestes dias nublados. Aqui é minha casa, é onde me sinto bem, onde escolhi estar. Pari uma viagem cheia de sonhos. Voltei convicta. Sofro porque é da minha natureza mediterrânea, mas sei que tudo não passa de uma grande brincadeira. E, sejamos honestos, não há um dia em que brincar não se faça necessário. Loucos, famintos, desamados, buscadores: estamos novamente todos sob o mesmo céu, cheio de estrelas.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

aborígene do lodo

Há dias ele caminha sobre minha cabeça. Veloz. O ruído abafado de seus passos frenéticos torna minhas noites brancas. Ele é insistente, curioso demais. Meu maior desejo é que ele se vá. Que se vá para sempre. Meu desejo é que ele morra. Porque ele estava esperando eu chegar pra me lembrar que ainda há muito cinza em mim. Eu, euzinha, quem diria, com medo de encarar meu cinza... Cinza, justamente o tom dos milhares de tons, com tantas nuances, sutilezas. O tom do equilíbrio perfeito. Ele apareceu pra me lembrar de que nada é preto no branco, tudo são tons de cinza. Pra me despertar alguma raiva adormecida e um novo jeito de lidar com ela. Pra me expor ao que se esconde no escuro. Ele apareceu para me enlouquecer um pouco, afinal esses últimos meses foram de uma responsabilidade enorme comigo. Foram minha lição de casa. Agora, a prova final: encarar o rato.

domingo, 27 de maio de 2012

a terceira margem do rio

Quando dei um passo rumo ao outro lado do rio, Red Hot começou a tocar "Parallel Universe" no meu ipod. Essa sincronicidade me fez sorrir secretamente, como se aquele universo paralelo fosse na verdade meu universo particular, como se somente eu no mundo, naquele momento, pudesse compreender o significado daquela coincidencia. "Parallel Universe" era a musica perfeita para cruzar aquela ponte.
A ponte representava o surrealismo indiano que nem Dali, com toda sua criatividade e loucura, pode imaginar. A ponte, diria Lenine, "nao é para ir nem pra voltar, a ponte é somente atravessar, caminhar sobre as aguas desse momento". Me bateu uma nostalgia antecipada ao perceber que aquela seria a ultima vez (desta vez) que cruzaria a ponte. Aproveitei ao maximo todas as sensaçoes, dei passos em camera lenta, troquei longos olhares com estranhos, observei tudo com a inocencia de uma criança, como se fosse a primeira vez. Fui caminhando por entre o barulho, as buzinas, as vacas, os mendigos, os macacos, os turistas, acompanhada pelos urros de Antony Kiedis, que fazia toda aquele fantastico parecer normal, todo aquele universo paralelo estar ao alcance das minhas maos.
Chegando à outra margem, nao olhei pra tras. Olhar pra tras nao serve pra nada, senao pra aprender, pensei. Mas neste momento me faria sentir mais nostalgica. Me restavam apenas algumas horas antes de tomar o taxi para Delhi. Apesar de menos de 300 Km separarem Rishikesh da capital, a viagem poderia durar ate 8 horas, dependendo do transito. Assim, em decisao pensada e cuidadosamente avaliada, contratei um taxi particular para me levar diretamente ao aeroporto, sem a desagradavel passagem pela insana Delhi. Me certifiquei de que o taxista era de confiança e sobretudo de que nao dormiria ao volante, ja que pegariamos a estrada à noite.
Malas prontas, por volta das 23h30, como combinado, o taxi me buscou no ashram. Nao pude deixar de derramar algumas lagrimas nao de tristeza, mas sobretudo de gratidao pelo intenso mes de aprendizados. Tentando me distrair do meu estado emotivo, o motorista se apresentou calorosamente, com seu jeito bonachao, como uma inacreditavel piada pronta:
- Boa noite, madam. Qual seu nome?
- Beta.
- Beta? Prazer, Beta! Meu nome é Sono.
Sono?!?!?!
Achei melhor nao explicar pra ele o que "sono" significava em portugues.
- Prazer, disse. E seja o que Deus quiser.
Entre as muitas coisas que aprendo com a minha mae, a primeira é: confie. E a segunda: ouça atentamente sua intuiçao, ela nunca se engana. Eu estava confiante. No fundo, la no fundo mesmo, eu tinha certeza de que minha integridade fisica nao seria comprometida. No começo da viagem, dei uma relaxada, mas minha intuiçao nao me deixava dormir...
Logo, Sono parou o carro. "Estou cansado". Estavamos na metade do caminho, e poderiamos parar por uma hora para descansar e chegar em Delhi a tempo de pegar meu aviao, afirmou. Concordei, mas dez minutos depois, Sono nao conseguia pegar no sono e resolveu seguir viagem. Trocadilho infame a parte, a viajante aqui começava a ficar tensa. Ainda teriamos mais de tres horas ate Delhi e nao estava muito animada com a perspectiva de um motorista cansado.
Tentei puxar assunto e, de repente, Sono simplismente dormiu ao volante. Dei-lhe um chacoalhao e perguntei se ele queria que eu dirigisse. A resposta veio imeditamente: ele encostou o carro no "acostamento" e pediu para que eu pulasse para o banco do motorista. Enquanto eu dirigia numa estrada indiana, na mao direita, no meio da noite, Sono dormia o sono dos justos praticamente deitado no meu colo - e ganhava 60 dolares por isso! Parallel Universe.
Eu nao sabia se rir ou chorar, mas como em quase todas as situaçoes desta viagem, escolhi o riso. Dirigi por quase duas horas, apreensiva e atenta, zelando pela minha vida que tanto amo, por entre caminhoes na contramao e motoristas sonambulos, buzinando a cada 30 segundos, porque assim se dirige na India. Eu que tanto odeio buzinar, veja voce que ironia... Sono, vez em nunca, abria os olhos e escancarava um sorriso: "indian driver!!! Good!!!". Nas proximidades de Delhi, o transito se intensificou e pedi a Sono que pegasse o volante. Estava cansada e muito brava com a cara de pau dele, mas so queria chegar ao aeroporto o mais rapido possivel.
Quando entrei no aviao, tudo aquilo parecia um sonho. Percebi que o universo paralelo estava muito alem da ponte: o fantastico estava presente em cada momento, em cada cena alucinante dessa incredible India.
Feliz em poder voltar pra casa, adormeci suavemente.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

chama-se viagem

Voce pisca os olhos e ja passou. Voce faz tantas coisas, vive experiencias inimaginaveis, conhece pessoas que mudam sua vida, e tudo nao passa de um lapso da sua breve existencia. Chama-se viagem. Eu lembro que, antes de partir, nos encontramos para um cafe numa padaria de uma esquina familiar. Como sempre, voce tirou com a minha cara: "Claro...esta viagem vai mudar a sua vida, voce vai voltar oooutra pessoa", disse com um sorrisinho ironico. Faltou entendimento de que eu mudo todo dia, sou mutante, buscadora, a impermanencia é o que me alimenta. Sou curiosa, atenta e observo cada detalhe, fotografo cores, recorto palavras. Eu sou assim. To ligada na V-I-D-A. Viajar me transforma, pode acreditar.
Lembro tambem que, no dia antes de partir, sempre quero desistir. Me da uma dor de barriga dos infernos, e a sensacao de que nao vai ter ninguem me esperando no aeroporto me enfraquece. Mas depois que eu entro no aviao, viro uma leoa. E na vespera da volta, nunca quero voltar. Sempre acho que poderia ficar uns dias a mais, ou simplesmente ficar.
Na outra noite, minha mae me perguntou por telefone:
"E ai, ja ta de saco cheio da India ou quer ficar mais??".
"De saco cheio da India eu to desde a primeira semana... mas... quero ficar!", respondi.
Vai entender... a India é assim.

Algumas observaçoes inusitadas/uteis/talvez interessantes, porque eu gosto de fazer listas (sempre):
  • Pra que outro sapato?! Tudo o que voce precisa chama-se "HAVAIANAS"! Leve, lavavel, nao da chule, confortavel, é brasileira, barata e ta no pé do mundo inteiro.
  • REALMENTE nao use roupas justas, bermudas, camisetas sem mangas, shorts e saias curtas nem pensar. Isso muda a qualidade da sua relaçao com as pessoas, especialmente se voce for mulher.
  • As vaquinhas soltas nas ruas sao uma gracinha e sagradas pros hindus, mas nao pra voce. Nao se meta a besta com elas, principalmente se forem touros, eles tem chifres.
  • Em 5 minutos, o preço de qualquer item - desde uma corrida de rickshaw ate uma encharpe de seda - pode cair de 2000 pra 10. Sorte de quem sabe barganhar. Nao é o meu caso...
  • Nao pergunte muitos porques. As coisas sao como sao, nosso conceito de "razao" nao se aplica por aqui.
  • A Lei Universal da Fisica de que dois corpos nao ocupam o mesmo lugar no mesmo tempo tambem nao se aplica. Na India, muitos corpos podem ocupar um lugar onde mal caberia um, no mesmo tempo - e por muito tempo!
  • Quando voce acha que todas as bizarrices ja aconteceram, pode se preparar que vem mais por ai.

India. Nunca mais ou até ja. Para sempre.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

cuca fresca

Este post eh sobre muitas coisas - essa eh a desculpa que eu dou quando minha cabeca nao consegue organizar tudo que eu tenho pra dizer.
Estou revendo muitos dos meus conceitos aqui na India. Eh uma viagem transformadora porque todas sao, mas sobretudo porque resolvi mergulhar em mim - coisa que poderia ter perfeitamente feito no Brasil, mas nao sei porque resolvi fazer aqui. Enfim, como ja escrevi em algum momento, esta eh uma viagem pra dentro.
Comecei a fazer um tratamento ayurvedico (medicina tradicional indiana) de alguns dias. Procurei alguns medicos, fui conhecer clinicas e optei pela Dra. Usha - eu desconfio que as mulheres consigam entender mais sobre as questoes femininas, sera?
Conversamos por mais de uma hora, ela me fez muitas perguntas sobre meus habitos, meu estado de saude e como encaro as situacoes da vida. Depois de definido o tratamento, decidi comecar no dia seguinte - nao foi uma decisao facil: o tratamento seria via anal. Engracado, pensei, os indianos tem todo esse pudor com o corpo de nao poder se mostrar, se tocar... mas na hora de enfiar o dedo no cu do outro, tudo bem, ne?! E ao mesmo tempo, nos ocidentais temos toda a liberdade com o corpo, usamos fio dental na praia, mas em geral temos uma imensa dificuldade em lidar com o corpo-verdadeiro, com suas manifestacoes absolutamente naturais. Confessa ai que fazer coco na casa do cara onde voce dormiu pela primeira vez na vida eh a coisa mais facil do mundo?! Ou que voce nao vai morrer de vergonha se, no meio daquela festinha com seus amigos mais cools, sair correndo pra vomitar? Ishh, nao deu tempo de chegar no banheiro??? Ai voce quer abrir um buraco no chao e se enterrar ate ninguem mais lembar que voce existiu! E aquele pum que nao da mais pra segurar?! Voce se alivia fisicamente, mas o peso na consciencia nunca foi tao grande, fala a verdade? Ainda por cima, olha pro resto da galera que ta na mesma sala com aquela cara de "poxa, que sem nocao soltar esse peido aqui, hein?!".
Pois eh, aqui isso nao existe. Arrotos, escarros, vomitos e quetais sao manifestacoes NATURAIS do nosso corpo - justamente - e portanto consideradas com tal naturalidade. Quem foi o imbecil que inventou que a gente nao pode arrotar em publico?? Meu pai sofre de esofagite ha decadas e sempre foi um problema em casa quando ele passava mal durante as refeicoes. O coitado tinha que ficar aguentando caras feias e, constrangido, se levantava da mesa para que o corpo pudesse se manifestar em paz. Mesma coisa com os escarros: sempre achei deploravel a mania dele cuspir na rua, mas se eu nao tivesse engolido tanto catarro na minha vida, certamente estaria respirando melhor agora. Minha existencia estaria mais leve.
De maneira alguma acredito que seja justificavel a falta de higiene dos indianos e alguns habitos, que, apesar de saudaveis, sao muito radicais para minha mente obtusa ocidental. Mas acredito sim que temos muito o que aprender com eles. Nao, nao se preocupem: nao vou voltar pra casa sem simancol - certas coisas estao tao enraizadas em nossa cultura, que nem paramos para pensar se poderia ser diferente - so quando nos deparamos com situacoes opostas a tudo que praticamos ate hoje.
Trocando em miudos, meu tratamento foi tao simples quanto tomar um comprimido. A naturalidade com que a terapeuta me tratou foi tamanha que, no segundo dia, eu ja estava achando normalissimo. E depois de tudo, ganhei deliciosas massagens a quatro maos, saunas, e um oleo na cabeca "efeito-bala Halls". Minha cuca ficou fesquinha, fresquinha...

Em tempo: dentre todas as vontades do nosso corpo alheias a nossa racionalidade, a que considerei mais absurda de tentarmos conter (se eh que tem alguma menos ou mais absurda...) sao nossas lagrimas. Por que sera que elas sao motivo de tanto constrangimento e sempre associadas a tristeza?? Deixa vir, deixa chorar. Na melhor das hipoteses, seus olhos vao ficar limpinhose lubrificados, prontos para enxergar melhor as belezas do mundo. 

segunda-feira, 30 de abril de 2012

contrarios complementares

Eu gosto de uma boa feijoada com cerveja. Mas nada como uma salada fresca, crocante, vegetais recem saidos da terra regados a azeite de oliva estourando na boca!
Eu adoro a noite, a madrugada, seus brilhos, suas lascividades, sua libertinagem, mas que delicia colocar o corpo para descansar cedinho e acordar com os primeiros raios de sol convidando para uma linda pratica de yoga. Confesso: sou chegada numa cama, adoro ficar nela hooooras, de dia ou de noite, sozinha ou acompanhada. Sou bastante dorminhoca. Mas o que dizer da manhazinha, com seu frescor e suas cores palidas, na certeza de que ainda tem um dia inteiro para inventar pela frente??
Adoro viajar, mas nao ha lugar melhor do que a minha casa - onde quer que ela seja, neste momento de suspensao.No fundo, sou caseira, adoro curtir o lar, arrumar, perfumar, embelezar, mas sou rueira como poucos: o pe ta sempre na soleira da porta, pronto pra pisar delicadamente nas delicias do mundo.
Na verdade, eu sou faladeira pra caramba. Gosto mesmo eh de contar causos nos minimos detalhes durantes noites ragadas a vinho bom. Mas impagavel eh o prazer de saber ouvir calada para absover, aprender.
Amo a musica - entre todas as minhas paixoes, esta eh, sem divida, a numero um. Mas descobri como o silencio acalma, traz consciencia e toca num lugar onde musica nenhuma se atreve a entrar. Eh a musica da alma.
Estar em bando entao... rodeada por amigos queridos, eh certamente uma das coisas mais prazeirosas para mim! Mas como nao apreciar em igual medida a solitude, com toda sua melancolia e profundidade?!
E tem mil outras coisas que eu adoro, como gosto de seus contrarios, muitos diriam "inconciliaveis", eu digo "complementares". A vida eh uma grande lousa onde da pra riscar varios caminhos, mudancas de rota, escolhas aparentemente opostas, todas as experiencias e vontades. Eh pra isso que estamos aqui: pra riscar essa lousa louca com vontade, sem apagador.
Eh bom assim: esse vortice me faz sentir viva, eu gosto! Se bem que um pouco de quietude nao eh nada mal... eheheh...!

domingo, 22 de abril de 2012

nice mala de mulungu

Tudo comecou quando cismei que queria ter um colar vermelho pra essa viagem. O quintal da casa Radiante estava forrado de sementes de mulungu, vermelhas como fogo. Nao tive duvidas: sai catando e juntei um saquinho bem parrudo. Levei pra Mari com a intecao de fazermos juntas, mas ela me surpreendeu ao entrega-lo prontinho da silva no dia antes da minha partida. Fomos la no atelier, eu, Cumbah e Cintia, e, com lagrimas nos olhos, ela me presenteou o colar e um par de brincos para ornar. Mal sabia ela o sucesso que este colar faria na India... Eu nao tiro mais do pescoco: virou meu amuleto e meu chamariz. As pessoas me param na rua, todos ficam vidrados no meu "mala" (colar, em hindi). "Nice mala!!! Onde voce comprou? Eh feito de feijao??", pergutam curiosos. A semente do mulungu se assemelha muito a um feijao vermelho, comestivel aqui na India. Quando explico que sao sementes brasileiras que eu mesma colhi no quintal da minha casa, eles adoram e enlouquecem. Dizem que aqui eu venderia este colar por um bom dinheiro.
Mas este eu nao dou, nao empresto, nao vendo por nada. Eh meu amuleto, minha conexao com Noronha, com a energia da ilha. Quando eu me sinto em perigo ou sozinha, eu seguro meu "mala", enrolo entre os dedos e aperto com forca, invocando a protecao de Oxum.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

ahimsa

Meu primeiro dia em Rishikesh foi um caos, como nos outros lugares em que cheguei - ate ai nenhuma novidade. Mas aqui fiquei com raiva, porque as ruas sao um grande mercado de espiritualidade, felicidade, bem estar, conexao com o cosmos. Ah tah (pensei), agora tudo faz sentido: atravessei dois oceanos pra comprar um cedezinho de mantras, tomar uns milagrosos remedinhos ayurvedicos e alcancar a iluminacao!
Primeiro (e totalmente paradoxal): eu nao entendo como pode haver tantos iluminados num lugar tao caotico, barulhento, sujo, desrespeitoso, consumista.
Segundo: o que eu vim fazer aqui?!?! (de novo!).
Encontrei um oasis no meio de toda essa zona e resolvi mergulhar - que saudades de mergulhar...Entao ate hoje, esta foi uma viagem rica como qualquer outra. Agora passou a ser uma viagem para dentro, acho que eh isso que a India tem de melhor para oferecer. Se tem uma coisa que eu gosto de fazer eh viajar, e posso dizer que ja embarquei em algumas boas viagens pra dentro. Sei que o caminho eh arduo. Doi pra caramba.
Nunca respirei tanto. Passo pelo menos 4 horas do meu dia observando como respiro, e quanto, e onde. Respirar doi: eh abrir espaco, regar o coracao, ouvir a musica do corpo. Eh encontrar os nos e desata-los na marra, respirando.
O corpo eh o que mais reclama. Tudo doi, porque a minha mente se acha muito esperta e ainda nao aprendeu a respeitar os meus limites. Ela sempre quer o otimo, mas a perfeicao eh violenta, ela eh agressiva e tola, como qualquer vicio. Entao estou aqui, como um bebe, aprendendo a respirar e a praticar ahimsa comigo mesma. Ahimsa significa "nao violencia" e eh um dos principios que regem o yoga. Estou aqui pra aprender que eh comigo mesma, antes de tudo e principalmente, que tenho que praticar ahimsa.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

noites do deserto - parte 1

Olha, descobri que sem marido eu nao fico! Em 8 dias de India, coleciono pretendentes. Este ultimo, um partidao, dono do hotel onde estou hospedada, hoje no cafe da manha me disse que meu pai poderia ficar com todos os seus camelos (dez, ao todo), se eu me casasse com ele - pega essa pai!!! Quem sabe nao eh a salvacao financeira da familia???? :)
Sei nao, viu?! To muito confusa com tantas referencias diferentes. Nem mesmo em Angola senti tantos choques culturais, tanta disparidade entre os generos, entre os habitos... realmente isso aqui eh outro mundo, a Marina estava certa quando disse que neste lugar voce entra em contato com partes suas intocadas.
Entao, meu partidao (o nome dele eh Ashok) me convidou para jantar na casa de sua familia, num vilarejo de mil habitantes a 40 km de Jaisalmer. Ok, vou contextualizar: estou numa cidade medieval no meio do deserto do Rajastao, fronteira com o Paquistao. O Forte, tipico nas cidades desta regiao, eh uma das principais atracoes turisticas e a vida gira em torno dele. No caso de Jaisalmer, ha uma particularidade: o Forte, que data de 1156 d. C., eh habitado. Muitas familias vivem dentro dele (inclusive meu hotel esta aqui dentro), em pequenas casas construidas com pedras encaixadas, sem cimento ou reboco. Pedras que sao tipicas desta localidade, cor de areia, cor de mel, cor de ouro. Aqui o tempo cessou, o relogio atrasou e vive-se a vida seca do deserto. Ja houve um tempo em que muitos anos se passaram sem que sequer uma gota de agua caisse sobre Jaisalmer. Hoje, as mudancas climaticas trazem chuvas anuais na epoca das moncoes (a partir de julho), mas dois dias depois de iniciadas as chuvas, este povo reza aos deuses para que cessem de enviar agua dos ceus... Surreal...! Eh nesta secura toda que me encontro.
...E voltando ao jantar na aldeia de Ashok, foi uma experiencia sobre a qual eu deveria me debrucar e escrever nos minimos detalhes. Foi um teletransporte a nao sei qual seculo, nao sei qual tempo perdido. Cozinharam, conversaram e comemos. Em silencio. As mulheres separadas dos homens, servindo-os como deuses no olimpo. E eu, por ser convidada, tambem comi separadamente, observando cada detalhe, a maneira como tudo era preparado, servido, ingerido, lavado... E o que eu puder escrever ou contar, sera pouco perto da riqueza ritualistica daquele simples jantar.
Voltando para o hotel, o vento da noite refrescava meu corpo. Senti, como aqueles dias na Huila, que esta eh uma experiencia que eu jamais vou esquecer.

P.S.: Obviamente, apos me pedir em casamento, Ashok esclareceu: "Bem, agora voce ja conhece minha familia, viu que sou um homem de bem e que nao sou casado... Pense bem na minha poposta!".
Eu so dou risada.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

indigo

Cara, nao da pra escrever sobre tudo... nem que eu quisesse, eu conseguiria. Porque cada acontecimento, cada pausa, cada encontro eh uma historia de varios capitulos!! Eh geralmente assim em viagens, mas garanto que aqui eh imbativel.
Eu sei que depois de almocar na casa da Bharti com toda a familia dela (so este almoco mereceria um capitulo a parte), e ouvir historias de vida de uma moca rebelde de uma familia tradicional indiana (outro capitulo), eu peguei um trem para Jodhpur. Trem este que quase perdi, pois percebi que estava sem agua e nao ia ser legal encarar uma viagem de 6h sem agua potavel. Entao tive a brilhante ideia de descer rapidinho do trem, que comecou a se mover enquanto eu recebia o troco pela garrafa de agua que tinha acabado de comprar. Obviamente, o troco ficou no balcao, ou caiu no chao, ou sei la, ja que eu sai correndo pra pular no trem ja em movimento. Mais legal do que encarar 6h de viagem sem agua, seria o trem partir com a minha mochila la dentro, ne?? Putz, quase tive um treco, mas deu certo. Onus de viajar sozinha...
As 6h de viagem transcorreram tranquilas, comunicacao super fluindo com uma simpatica familia que nao falava sequer uma palavra de ingles... mas a gente se entendeu (na proxima encarnacao, ja combinei que vou voltar para aprender, no minimo, 10 idiomas - incluindo hindi). Sorte que no compartimento tambem estava um senhor que falava um pouco de ingles e, as vezes, traduzia coisas de suma importancia, por exemplo quando a senhora (mais velha) fez as duas perguntas classicas: 1."voce esta viajando sozinha?", 2."Voce nao eh casada???". Caraca, eu nao sou casada!!! Mas, desta vez, eu resolvi dizer que era, e que meu marido teve que desistir da viagem de ultima hora por motivos de trabalho. "ahhhh!", ufa! Todos fizeram uma cara de alivio por eu ser casada! Ate eu fiquei mais confiante, ehehehe... mentirinha inofensiva que amainou o choque cultural.
Enfim, 6h depois: Jodhpur, a cidade azul. A cidade dos tecidos e das especiarias - Carol, voce ia se deliciar aqui com tantos pozinhos e sementinhas magicas pra colocar na comida!!!!! Peguei um rickshaw ate o Haveli que escolhi no LP. To ficando esperta nesse negocio de motorista de rickshaw: eles pedem 100, no fim voce paga 60 e tem que ficar o caminho inteiro repetindo pra onde voce quer ir, senao eles te levam pra outro canto.
Cheguei na guest house quase onze da noite. Uma graca de lugar, toda colorida, decorada com flores e moveis antigos, cheirando a incenso e com lustres de mosaico. Feliz pela escolha acertada, dou de cara com o dono, que estava na recepcao todo descabelado, cambaleante, com calcas molhadas, tipo quase que completamente bebado.
OK. Saio correndo ou dou risada???
Comecei a dar muita risada. Ele mandou trazer uma Heineken pra mim "on the house" - ele disse, "por conta da casa". Bonus de viajar sozinha! Falamos do Brasil, sobre o fato dele estar bebado, a esposa dele apareceu (sobria) e ele nos apresentou. Ela sorriu pra mim e se foi. Ai ele disse: "Desculpe, nao vou poder te acompanhar ate o quarto, porque ontem cai da escada e tou todo fodido! Pois eh... eu desobedeci meu guru, ele mandou eu parar de beber, mas eu bebi, entao cai. Eh pra eu aprender...", concluiu com uma cara de bebado arrependido. Subi para o quarto e abri a cortina; a vista era incrivel!!!! Apesar da escuridao, eu podia ver que o Haveli ficava exatamente embaixo do Forte de Mehrangarh, o principal momumento da cidade. Incrivel, sensacional, o negocio parecia uma pintura bem em cima da minha cabeca!! Fui ate a laje, a lua brilhava linda sobre as casinhas da cidade indigo e iluminava o Forte, imponente como um gigante.
Cenario alucinante que mereceu mais uma Heineken. Cheers!

sábado, 7 de abril de 2012

casamento indiano

Diariamente, os deuses indianos têm enviado pessoas especiais para iluminar meu caminho. Meu anjo de hoje foi Jatin, um moço bonito do deserto. Ele tem 27 anos, webdesigner, praticamente um playboy em jaipur, essa cidade "do interior", capital do estado do rajastão, com 4 milhões de habitantes. Jatin é sério, fechado, trabalhador. Ele pertence a uma alta casta, tem um carro bacana e, apesar de um pouco mal humorado, é bem gente boa. Um gentleman. Mas ele tem um problema: todos os seus amigos estao se casando - não, não só as minhas amigas que estão casando, tá?! "Aqui na índia, um homem de 27 anos precisa se casar, ou estar num relacionamento estável, o que não é o meu caso", disse ele enquanto me levava pra cidade rosa. "E daí?", perguntei eu ingenuamente. "E daí que meus pais já estão fazendo alguns movimentos para arranjar meu casamento. Sabe, as pessoas começam a perguntar se há algo errado, é constrangedor...". "E você vai aceitar isso?! Vai aceitar se casar com uma mulher que nem conhece e por quem nao tem nenhum sentimento??". "Eu nao tenho outra escolha", respondeu ele firme e convicto. "e depois que você começa a viver com uma mulher, você começa a gostar dela..." , essa frase saiu num tom mais resignado. Por alguns segundos, fiquei em estado de choque. Eu sabia de casamentos arranjados. Em angola já havia entrado em contato com essa realidade mais de perto, mas ontem mesmo durante o jantar conversava com uma conhecida indiana sobre isso e ela comemorava o fato das pessoas estarem se tornando um pouco mais esclarecidas e começavam a evitar esse tipo de absurdo. Então eu não entendi muito bem como o Jatin, bem apessoado, esclarecido, viajado, pudesse se submeter a esse tipo de costume. Passado o choque, pensei em reagir. Pensei, rapidamente, em pegar suas mãos tão belas, aperta-las com força, olhar bem no fundo dos seus olhos negros e pedir que ele se libertasse e buscasse seu amor. Pensei em suplicar com todo o meu amor, que diariamente distribuo por ai, que ele buscasse sua felicidade. Mas não fiz nada disso. Respirei fundo apenas e no fundo do meu coração aceitei o seu tipo de feicidade. "Espero que sua futura esposa seja uma boa mulher e que vocês se gostem muito quando se conhecerem", foi o que eu disse. Percebi, num instante, que uma coisa tão normal, quase banal pra nós, é na verdade um tesouro. Às vezes a gente se esquece do valor da liberdade.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

a chegada

quando pisei no solo encarpetado do aeroporto internacional Indira Ghandi, senti uma emocao de quem volta pra casa: coracao na garganta, uma explosao de felicidade dentro do peito. Esbocei um sorriso espontaneo de crianca que durou longos minutos. Welcome to India! Era uma e meia de uma madrugada clara e abafada. Muito cansada e um pouco gripada, pedi com amor (ao meu anjo e) ao taxista que me enfiou dentro do black cab, para que ele me levasse direto ao hotel que eu havia reservado, e nao ficasse dando mil voltas tentando me levar pra outro lugar. Jedi era o seu nome. Ele tinha uma cara boa. Sorriu e disse "all right" em um ingles quase incompreensivel, o que nao impediu uma boa prosa no caminho ate a cidade. O local do hotel era a visao do inferno, ainda mais a esta hora da noite, tudo fechado e com fogareiros isolados iluminando a estrada. Ainda bem que o Joao tinha me avisado que o lugar era "assustador", senao eu teria saido correndo, ou mesmo pedido ao Jedi que me levasse a outro hotel. Mas resolvi encarar. Desci do carro e fui andando por uma viela lugubre ao final da qual supostamente encontrava-se o tal hotel. Acho que foram os segundos 50 passos mais tensos da minha vida - os primeiros foram em Panama City, quando fui parar num bairro igualmente bizarro cercada por cafetoes e traficantes. Enfim... no hotel, o recepcionista dormia confortavelmente sobre um lencol estendido no hall. Caraca, a India eh impressionantemente caricata! Ele nao estava muito comunicativo. Fato eh que queria voltar a dormir logo e foi me dando a chave do quarto: "good night, mam". Ok, good night so se for pra voce! Como eh que eu vou ter uma good night num quarto sem janelas, aparentemente - e apenas aparentemente - limpo (eu adoro usar eufemismos!), e com lagartixas prestes a despencar do teto sobre a minha cama??? Apesar do cansaco dilacerante, dormi apenas algumas horas. O calor era insano, o lugar era insano, na verdade, eu sou insana! Pra que, me perguntei, pra que eh que eu fui deixar minha vidinha insular pra passar por isso??? Minha casinha de frente pro mar, Valentina, rede na varanda, meu preto me fazendo carinho... pra dormir com lagartixas em NOva Delhi?!??!?!?! Contudo, curiosamente, aquela sensacao de felicidade do aeroporto nao havia desaparecido. Tentei controlar o desespero e me lembrei de que, depois de tudo passado, a serenidade que brota eh incrivel e o que foi vivido faz sentido profundo. Foi assim com Noronha, onde muitas vezes me perguntei o que estava fazendo com a minha vida... Confio que sera assim tambem com esta viagem.
Depois de despertar 50 vezes no sono da manhazinha, resolvi levantar e encarar o dia - sem saber muito por onde comecar: procurar um hotel melhor ou resolver rapidamente o que precisava em Delhi para sair daqui o mais rapido possivel?? Estava muito confusa e perdida. Ha muito tempo nao me sentia assim. Muitas buzinas - quero dizer MUITAS mesmo: Napoli + Roma + Atenas + Sao Paulo na hora do rush elevado ao cubo! Todo mundo anda junto na Main Bazaar Rd. Rickshaws, velhos, taxis, motos, cegos, vacas, bicicletas, criancas, gringos...nos dois sentidos, um no sentido do outro, tanto faz, o importante eh buzinar! Tudo se auto organiza da maneira mais caotica possivel. Enquanto a velhinha quer ler minha mao, o cozinheiro me oferece pesteizinhos fritos na hora ao lado do senhorzinho que vende remedios ayurvedicos e incensos. Me sinto alimentada por tantos estimulos que nem tenho fome, ou vontade de comer. Peguei o metro, lindo e organizadissimo (de verdade), e fui comprar minha camera nova e um telefone indiano (ra!). Falei com o Brasil, comi um delicioso e apimentado falafel de lentilhas e espinafre e fui dormir feliz. Sabe que agora, ha poucas horas do desespero que durou poucos minutos, nem tudo eh tao ruim quanto parece, tudo depende de como a gente olha. E pretendo manter um olhar inocente e curioso pras coisas, pras pessoas, e me divertir com as coisas que derem "errado". Mudei pra um quarto com janela e, no apice da insonia, vi que a lua la fora ta linda, quase cheia.
Se vemos a mesma lua, nao estamos assim tao distantes, nao eh mesmo?

sábado, 31 de março de 2012

devaneio parisiense

Depois de uma noite espremida numa lata de sardinha, a aeromoça joga o cafe da manha em cima da minha bandeja ainda mal aberta. Buen dia!, diz seu espanhol rascante. A boca pastosa, os olhos ardentes, a coluna em frangalhos denunciam: voce acordou do outro lado do mundo. Tinha esquecido como é linda e louca essa possibilidade! Adormeci em sao paulo, acordei em madrid, segui para paris, que me recebeu com um dia tipico de printemps - céu claro e brisa fresca. Tinha esquecido também: a cada cinco passos, um café charmoso, uma boulangerie colorida, uma lojinha desprenteciosamente linda. Bistrôs expoem seus menus suculentos escritos em giz sobre lousinhas de criança. Plat du jour: franceses saem pra rua com a chegada da primavera, sedentos por uma nesga de sol. Paris esta alegre. Pedimos uma taça de vinho na calçada. Enquanto devaneio sobre tudo isso, meio bebada de cansaço, Marie me relembra como é agradavel redescobrir sua propria cidade pelos olhos de outra pessoa. Sim, renovar o olhar é sempre precioso. Hoje a brincadeira começou.

terça-feira, 27 de março de 2012

são paulo

Eu amo você. Não, não é porque agora já não mais te habito. Eu sempre tive com você um casamento daqueles que a gente se espanca e se ama com a voracidade dos loucos. Nada saudável, por isso a escolha de me afastar de você. Mas na verdade, sinto que sempre vou te habitar. De alguma forma eu te pertenço. Porque você me oprime e me obriga a refletir sobre a minha condição, porque você me empurra pra frente, me impele aos meus múltiplos movimentos, me cobra resultados. Sua vibração é tão intensa que me assusta. Eu te amo, minha cidade maltratada, mal querida, mal aproveitada. Você acolhe a todos e seu valor salta aos olhos. Graças a tudo que você me deu até hoje, estou preparada para circular por outras vias com passos firmes, apreciar cada paisagem com olhos úmidos de curiosidade. Graças a todo os interesses que você me desperta, a todos os estímulos que me oferece, a todos os encontros e reencontros que nos proporciona, enquanto percorro suas artérias me sinto viva. Obrigada Sampa, até logo e até sempre.

quinta-feira, 22 de março de 2012

muito simples

querida, não complica: não é porque o cara te dá uma escova de dentes na primeira noite em que você dorme na casa dele, que ele está te pedindo em namoro. Ele só te deu uma escova de dentes. Não quer dormir com uma mulher com mau hálito.
Ele não é um canalha, nem esqueceu tudo de lindo que vocês viveram se, com a boca ainda quente da sua boca, afoga as mágoas em outra boca. Ele só experimentou outra boca, deu risadas com outras piadas, dançou as mesmas músicas com outras pernas. Provavelmente ele vai te dizer que não significou nada - e talvez não tenha significado mesmo.
O cara não está arrependido se, meses depois, te manda um email pedindo desculpas por tudo que te fez amargar e desejando boa viagem. Ele só está dizendo, de um jeito meio torto, que gosta de você - e que deseja boa viagem.

Mas se ele faz uma comidinha gostosa pra você, pode ter certeza de que não vai ser a macarronada que ele vai querer comer depois...

Então, veja você, a complexidade e a simplicidade são bem relativas.
Tudo é apenas uma questão de ponto de vista.

Às vezes, bem poucas vezes, eu desejaria conseguir agir como um homem.

terça-feira, 20 de março de 2012

elas estão casadas

Eu sei que de repente trinta. Saímos do país, de casa, da cidade, da terra firme em momentos diferentes, mas nunca nos separamos de fato. Somos muitas, o suficiente para fazer uma bagunça boa, fechar o bar, rir até dobrar - até passar vergonha. Perdi a conta de quantos brigadeiros de colher fizemos, de quantas vezes choramos no colo uma da outra - por homens, é claro. E depois por muitas outras razões triviais. Viajamos juntas, menos do que eu gostaria, mas nunca é tarde. Celebramos nascimentos, mortes e muitas separações. Intensamente. Brigamos, sem dúvida, porque o conflito é fundamental. Mas crescemos e nos entendemos. E, por mais maluco que tudo possa parecer, nos apoiamos. Acreditamos em nossas buscas. Então agora, de repente, como os trinta que chegaram num bater de asas, estão todas "casadas". O que era uma virou dois. A família cresceu com pessoas legais. E eu chego de longe, olho de perto, e vejo todas felizes, com brilhinho nos olhos e contando histórias, zelando pelo amor. Eu as vejo fazendo malas, fazendo planos, comprando passagens-destino-felicidade. E me sinto orgulhosa: meninas de janela que viraram mulheres incríveis. Viva o amor e a amizade. Sempre.

terça-feira, 13 de março de 2012

change the world

Porque vim não sei. Trouxe quase nada. Livros suficientes para o tempo pretendido, bastante creme hidratante e meu inseparável mat da yoga. Cheguei já pensando em voltar, mas não sei bem o que aconteceu, nem quando, nem como. Fui ficando... e lá se foi um ano fabuloso de encanto, beleza, muito mais felicidades do que dores. Um ano privilegiado de crescimento e amores. O que Noronha representa agora? Arrisco: os dias mais felizes da minha vida até hoje. Porque plenos por dentro, porque de auto conhecimento profundo, de encontro comigo mesma, de sol e lua ao mesmo tempo num céu infinito. Onde a lindeza é proporcional à aberração, onde o azul brilhante pode se transformar no breu profundo num piscar de olhos, exercita-se o desapego em igual medida ao apego máximo. Na tentativa de afinar a corda, estica-se até sua tensão-limite. Os insights são diários. E vive-se tudo com uma intensidade só suportável por mentes muito insanas como a minha. Então, nestes últimos dias de intensidade quase insuportável, tento encontrar espaço para organizar sentimentos contraditórios: necessidade louca de partir + vontade louca de ficar. Saudades já do que nem passou ainda. Saudades de tudo que não fiz, e do que fiz, de quem encontrei, e de quem só conheci, e também de quem deixei de conhecer por preconceito ou desamor. Dentre tantas mudas germinadas e plantadas, levo comigo a sementinha da mudança, mais forte do que nunca. Mudança de mim pro mundo, confiança de que o melhor ainda está por vir e de que ainda vou dizer muitas vezes - como já arrisquei dizer aqui: estes são os dias mais felizes da minha vida até hoje.

domingo, 4 de março de 2012

professores da leveza

Tenho encontrado professores muito competentes em matéria de leveza. Faltei nessa aula na escola, na faculdade e também na pós graduação, mas nunca é tarde para se aprender. Queria dar um toque para aqueles que tentam me ensinar a ser leve me dando tapas na cara: não funciona. Não adianta me abandonar no meio do caminho, endurecer, negar. Estas são atitudes que, nos piores momentos, espelham as minhas. E o espelho não é uma estratégia eficaz para uma libriana com ascendente em aquário. Preciso de leveza pra aprender a ser leve. Preciso que coloquem um balanço no meu quintal, que me façam ouvir música de criança, que tirem sarro da minha cara enquanto esbravejo, que me façam docemente perceber o quão ridículas são minhas atitudes, como é patético meu comportamento, como eu perco a vida passando ferro quente nas roupas amassadas - é necessário que eu mesma entenda que tem amassaduras que nunca vão desamassar. E tudo isso com delicadeza. Porque a visão altruísta é um ato de amor. E eu acredito que o encontro seja uma magia para nos melhorar: eu nunca mais vou ser a mesma depois de alguém ter cruzado meu caminho. Ninguém é insignificante, qualquer um agrega alguma coisa - principalmente os que nos incomodam. Então eu preciso te dizer de novo como a sua dureza me fere. Sua formalidade e sua rigidez me agridem. Porque eu tenho um pouco de dificuldade de aceitar que talvez eu não seja tão especial assim. Porque talvez você, ao contrário de mim, acredite que as pessoas apenas passem, sem deixar nada. E talvez eu seja uma dessas na sua vida. Porque talvez, pensando bem, nós sejamos mais parecidos do que eu gostaria. Você também anda buscando a leveza, só que não teve, como eu, a sorte de encontrar professores tão bons. Aulas que não se esquecem.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

desejo

"E eu tenho vontade de segurar seu rosto e ordenar que você seja esperto e jamais me perca e seja feliz. E que entenda que temos tudo o que duas pessoas precisam para ser feliz: a gente dá muitas risadas juntos. A gente admira o outro desde o dedinho do pé até onde cada um chegou sozinho. A gente acha que o mundo está maluco e sonha com sonos jamais despertados antes do meio-dia. A gente tem certeza de que nenhum perfume do mundo é melhor do que a nuca do outro no final do dia. A gente se reconheceu de longa data quando se viu pela primeira vez na vida."

[Tati Bernardi]

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

azul

Então lá estava eu, novamente, toda paramentada como uma astronauta pra visitar as profundezas do oceano. O mar estava especialmente generoso, o instrutor especialmente inspirado, a companhia especialmente especial. Caímos num ponto corriqueiro, mas a emoção tinha sabor de novidade. E como na natureza cada dia é um dia novo, nada nunca é igual. Cardumes imensos de sargentinhos, xaréus, xiras, piraúnas... um desfile do coloridíssimo ciliares, dois frades brincalhões, tartarugas, tubarões... lagostas, lagostins, corais multi-coloridos. Pequenas cavernas, azul, azul, azul brilhante. E me peguei filmando visualmente cenas lindas pra cobrir seu roteiro tão singelo; ou talvez nosso roteiro imaginado, na ânsia de preenchê-lo com cenas nunca vividas. Minha mente entrou em estado de pausa, deslizando com a correnteza para além. Fui revendo tudo o que se passou. REC: mão espalmada sobre sua camisa branca numa noite linda de celebração "oi, você mora aqui?"; conversas às avessas; carona; peixe de manhazinha; ardor; olhares; cafés da manhã; cartas ao vento; espera; muita espera; mais espera; intuição: STOP. PLAY: o mar estava realmente esplêndido, ou fui eu que acordei com os olhos superlativos, enxergando mais suculências nessa minha vidinha nada cotidiana.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

o ovo e a galinha

Entre todos, este é de longe o conto mais hermético e fantástico da Clarice. Já reli várias vezes, assisti a linda adaptação pra teatro da Vanessa... e a cada revisitada, novas belezas surgem dele, imagens recheadas de significados. O ovo é mesmo uma coisa impressionante!! Uma das coisas mais privadas do mundo, é, provavelmente, um ovo antes de ser quebrado. Eu agora moro entre dois galinheiros. Um pertence ao vizinho do lado esquerdo e o outro, ao do lado direito. Todas as manhãs, acordo com o galo cantando alto, muito alto - bem melhor do que o brega do vizinho anterior, fato. Vez por outra, me pego curiosa observando o comportamento das galinhas. Entendi muita coisa sobre elas, e sobre as expressões que usamos, como "essa mulher é uma galinha", "briga de galinheiro", "gritando que nem uma galinha", "mãe galinha" etc. Reinava um silêncio absoluto até que duas bípedes começaram a brigar. Foi tanto cocorocó que eu fui até o quintal espiar. Duas galinhas se enfrentavam com bicadas, dando voadelas. A grande surpresa foi que o galinheiro inteiro se uniu em coro, cacarejando sem parar e num volume impressionante, como se estivessem torcendo para uma vencedora. Esta cena durou muito tempo. Descobri que no galinheiro a briga é feia... eu, hein!? Já ontem, estava lendo na rede e vi um teju (grande lagarto) rastejando para dentro do outro galinheiro, que estava em paz divina. "Vixe", pensei, "já eram os ovinhos caipiras que eu ia ganhar do vizinho...". As madames galinhas, empoleiradas mães zelosas, ou são muito sonsas ou se fizeram de estátua pra despistar o teju: nem um pio. Até que ele comeu todos os ovos que estavam ao seu alcance! E foi ele sair do galinheiro que a mãe "roubada" (suponho) começou a gritar de desespero. Um cacarejar-pedido-de-socorro ensurdecedor, contínuo e monotom. Minutos a fiooooo. Realmente, essa mãe é um escândalo, pensei comigo. .

O Ovo e a Galinha - de Clarice Lispector from Teatro Para Alguém on Vimeo.

"O ovo é o grande sacrifício da galinha. O ovo é a cruz que a galinha carrega na vida. O ovo é o sonho inatingível da galinha. A galinha ama o ovo. Ela não sabe que existe o ovo. Se soubesse que tem em si mesma o ovo, perderia o estado de galinha. Ser galinha é a sobrevivência da galinha. Sobreviver é a salvação. Pois parece que viver não existe. Viver leva a morte." [Clarice Lispector, in Felicidade Clandestina]

domingo, 12 de fevereiro de 2012

sinto muito

Por favor, toque com gentileza. Eu sou flor que se cheire. E quero ser cheirada, e que meu cheiro seja lembrado. Eu sinto muito. Sinto felicidade, dor, amor, um milhar de sentimentos. Sinto o que está no ar e nem foi respirado ainda - e sinto muito pelos que sentem pouco. Acho que acabo sentindo um pouco por eles, de tanto que eu sinto. Eu tenho vários defeitos, como qualquer um. Sentir muito pode ser um deles, dependendo do ponto de vista. Apesar de todo sentimento, sou controladora e racionalizo processos que até mesmo eu duvidaria se não me conhecesse tão bem, se não tivesse consciência do que nossa mente é capaz de fazer com o poder que atribuímos a ela. Eu sei. Mas eu também fraquejo. E então uso deliberadamente todos os subterfúgios que tenho à disposição para que as coisas saiam como eu quero. Ainda assim, a vida me escapa por entre os dedos, e então percebo (de novo e de novo) que nada, NADA pode ser controlado, previsto, escrito. O próximo momento é uma ilusão e a vida é impermanência pura. Por isso, quero seguir sentindo cada vez mais: porque a razão é limitada e forjada por uma mente voluntariosa. Sentimento brota do centro, naturalmente, como a flor que desabrocha depois da chuva. Sentimento é atemporal e real. É só deixar sentir.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

morna

Estou vazia. É uma sensação curiosa, como se finalmente estivesse sobrando espaço pra nada, pra ninguém, espaço pra nenhuma expectativa, só vazio criativo. Aqui na varanda da casinha mais gostosa com que um dia tive o privilégio de sonhar, a lua gigante manda recado de novo ciclo. Apesar do cansaço, não tenho vontade nem de dormir. Quero viver cada gota. Meu sangue italiano ferve, depois esfria, depois amorna. Morna é a temperatura da ternura. Então minha pele se enternece, fica macia pro seu aconchego. Fico amortecida, como se não fosse mais doer a queda. Mas dói, porque nunca é igual. Porque eu nunca estou preparada pro pior, estou sempre desarmada, no fundo sou uma romântica desprovida de táticas para jogar esse jogo que me afasta do que é essencial: o amor. Só estou disponível inteira. Ao contrário do que eu pensava, versão Beta não é para testes. Não é provisória, mas definitiva. Sempre por ser melhorada, claro, mas já pronta para o uso. 100% de mim. Meu sangue ferve e me faz lembrar de que estou muito viva, e isso é bom. Mas você tem razão: ter mais calma vai ser melhor para mim, este é um ajuste necessário que estou fazendo por ninguém, senão por mim mesma. Obrigada por assoprar isso no meu ouvido. Ouço atenta e cuidadosamente cada recado. Um dia escrevi que sou um mosaico enorme, formada por pecinhas deixadas por cada pessoa que passou pela minha vida. É isso: você já está. Seu lugar no meu mosaico está garantido.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

pé na estrada

Volto pisando rente aos passos que eu mesma dei pra ir. Não há rastro tão seguro quanto o que eu já tracei. Porque já ousei demais, sim. Essa é minha faísca. Só que agora é diferente: é ousadia equilibrada, é impulso cauteloso. Vida que continua pulsando, mas com maturidade. Na aflição de uma viagem que se promete transformadora, percebo, na verdade, que ela já foi iniciada. Ela é todo este caminho percorrido, já pisado, revisitado agora com passos paralelos, mas nunca sobre as mesmas pegadas. Ela é pra dentro e para fora, ao mesmo tempo, sem ponto de chegada definido. Ela é feita de paisagens jamais monótonas, certamente muitas montanhas a serem atraversadas.
Esta viagem é necessária e inevitável.

domingo, 22 de janeiro de 2012

como faz?

Subject: como?
Date: Thu, 19 Jan 2012 22:01:33 -0200

Ei. Essa coisa de sumir do mapa e ir pra longe...
Como faz?
Tua opção me cativa um bocado.
Ouviria histórias se quiser contar.
Bjo.
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Muitos amigos têm me escrito manifestando vontade de voar.
Deixo aqui um pouco da minha transpiração - que a cada dia se transforma em muita inspiração.

Meu querido,
Sou tão feliz pela minha escolha, que poderia passar a noite aqui te dando motivos para me imitar. Como? Como é muito fácil: arrume uma mala pequena, compre a passagem e parta pra onde o teu coração sugerir, mesmo que você não saiba direito o que está indo fazer lá. Foi assim que eu fiz.
Mas eu sei que não é a este "como" que você se refere. O movimento, ao contrário do que parece, é algo que está dentro de nós, então você só o fará se ele fizer profundo sentido para você. E mesmo que ele faça sentido, não é fácil. Na verdade, eu diria que é difícil pra caramba. É preciso ter muito desprendimento, força de vontade, confiança e alegria pra suportar a distância total da sua zona de conforto. Mas vale à pena, porque se afastando dela, você abre espaço para o novo, um espaço que você nem sabia que existia dentro de você. Se estiver disposto a enfrentar o medo do desconhecido, o medo de baratas, o medo da solidão, será recompensado de maneira absolutamente surpreendente, com um pote dourado dentro do qual estarão todas as ferramentas para a sua FELICIDADE. Se estiver com a mente aberta para aceitar verdadeiramente as diferenças, se tiver tempo para olhar a natureza e diariamente se der conta da efemeridade da vida, será muito menos penoso lidar com as crises existenciais e com as coisas que te desagradam. A vida se tornará mais leve e você, uma pessoa melhor.
Não sei te dizer exatamente "como", não tem receita de bolo. Levei alguns anos para efetivar essa escolha. Fui arando o terreno, regando um pouquinho todos os dias, preparando a retirada e, sobretudo, consultando meu coração, precioso oráculo. Me perguntava se a vontade de partir não era meramente uma fuga. No fundo, não me iludo: acho que todas as partidas são fugas, mas fugir consciente é diferente de fugir por fugir. Então, atenção a este ponto. E se for uma fuga descarada mesmo, que seja bem claro do que você está fugindo, porque pode ter certeza de que vai voltar - mesmo que você more no paraíso.
Ontem ouvi que minha vida é uma "montanha russa". Achei essa imagem bem engraçada. Irônico que, quando criança, eu ia ao playcenter e nunca gostei desse brinquedo que me deixava com enjôo e me dava muito medo - nunca subi em uma. No imaginário coletivo, a montanha russa é um desafio delicioso: todo mundo quer andar nela, pra poder gritar a vontade, extravasar, viver os medos face to face. No fundo, a gente gosta.
Então, depois de tudo isso, se eu puder te dar um conselho: vá andar de montanha russa, passe pelos loopings, frios na barriga, vômitos, frios, suadouros. Passe pela experiência, por todas as possíveis, se possível. Não deixe que as experiências passem, passe você por elas. Depois você vai ter muito mais do que um bocado de histórias pra contar: vai perceber que ainda tem um SEM FIM de descobertas por fazer.
Beijos,
Beta

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

feliz aniversário

que engraçado: eu não me livro de você. Mesmo se eu for morar no Butão ainda vou encontrar alguém que ouça interessado à história de como a gente se conheceu, que eu te pedi em casamento no primeiro encontro e que você adorou. Por que, convenhamos, qual é a chance de alguém me abordar na rua e perguntar se eu te conheço numa ilha no meio do oceano??? Passam os anos e nossos caminhos voltam a se cruzar, por um motivo ou por outro, a gente se encontra na fila do cinema, ou no meio da noite eu te ligo pra te perguntar... "que música é essa mesmo?". Eu não sei porque isso acontece, você é tipo uma ressaca. Nem sei como ainda sei seu número de telefone decor, acho que deve ser o único no mundo que eu sei decor, mesmo sem discá-lo há anos. Mas eu desconfio que tem amor demais na música que sempre nos uniu, e que talvez a gente tenha se gostado o suficiente pra nunca nos separarmos definitivamente. Não importa quem a gente namore pro resto dos dias, com quem a gente case ou tenha filhos. A gente já foi pra nova iorque e comprou all stars coloridos e pegou o "A train".
Apesar de tudo, eu acho nossa história linda. Fomos passaportes pra sermos pessoas melhores. Feliz aniversário.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

ilhada

Tô. Tô sim. Melancólica até debaixo d'água. Fui mergulhar cinza, esperando voltar azul, mas lá embaixo a melancolia só tem outro peso, outra densidade, outra cor. Ela continua penetrando, viscosa e opaca. O mar estava inquieto, exigiu concentração. Só depois, navegando de volta ao porto, barco feroz rasgando ondas escuras, me deu tempo de pensar em como a felicidade desaba sobre mim com a mesma intensidade que a tristeza. Altíssimos e baixíssimos, diria sabiamente a Gabi. Tô melancólica porque há 4 dias estou absolutamente desconectada do mundo, sem internet, sem telefone, sem a liberdade de poder me comunicar. Pela primeira vez, me sinto literal: estou ilhada. Tô melancólica porque a saudade dos meus amigos está cortante, falta-nos coragem para transpor a distância. Porque sinto falta repentina de cheiros conhecidos, de deitar no meu futon com a Vitória, fechar a porta de casa e deixar o mundo lá fora.

Hoje eu só queria soltar a cabeça no colo da minha mãe e usufruir do melhor cafuné do mundo.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

como é bom voltar a ler clarice

"(...) Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que amaria - e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa (...)".

[Clarice Lispector]
in Felicidade Clandestina - Perdoando Deus

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

o que eu mais gosto

O que eu mais gosto daqui não é difícil de dizer. É estranho - pensei: é como dizer qual é a minha música preferida... impossível! ... porque este lugar é um presente diário, são tantas lindezas, tantas sensações boas, realmente é um lugar que te proporciona muitas coisas das quais é fácil gostar muito. Mas a coisa que eu mais gosto, estranhamente, é fácil de dizer. Não é uma praia, não é um bicho, não é uma vista, não é uma pessoa. É um encontro fugaz, sempre inesperado, que te leva pra outro planeta: mini-conversa de troca intensa, que revela tanto sobre a cultura do outro, que pode servir pra você conhecer alguém novo, ou só mesmo pra rever um conhecido e perguntar como foi o dia de hoje. Esse ato tão simples pode, na verdade, mudar a sua vida. Dar carona é um hábito que perdemos porque perdemos a confiança em nós mesmos. É maravilhoso e libertador recuperar essa sensação de confiança: dormir de porta aberta, largar a chave no contato do carro, deixar a vida solta para inspirar. Dar carona é sensacional: é confiar que a essência do homem é pura, que ele não quer se apossar das “suas” coisas, que ele não quer te ferrar, te estuprar, te matar... Por que diabos ele faria isso??? É estranho como desaprendemos sobre nós mesmos desde que nascemos: somos ensinados a ser quem não somos e criamos uma imagem terrível da humanidade.

Numa dessas mini-conversas, um desconhecido se transforma no portador de palavras colocadas em sua boca exatamente para mim. Em breves minutos, minha vida, que andava sombreada, se torna pura luz, como se toda a sensatez tivesse sido despertada, como se um véu, um vento bom, uma mão tivesse passado sobre a minha testa. E noutra ocasião, um casal vira meu guru: me diz (sem saber) o que devo fazer com uma precisão cirúrgica. É uma graça estar receptiva a tantos sinais. Talvez exatamente por saber que o momento vai acabar logo ali, na esquina.

"Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade (...)"
[Clarice Lispector]

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

soluço

Chove, mas segue seco.

A cada nova chuva, soluço poeira. Ou pó - porque tem cheiro de coisa velha. Daquelas que ficam ali estagnadas, até que alguém resolve tirar do lugar, pra descobrir que não devia ter feito isso. Porque agora há tanto pó pra limpar. Tanto pó pra soluçar. Tanto pó pra espirrar, que nem toda a chuva do mundo faria molhar.

Sinto seco.
Boca seca, olhos secos, coração seco.

Eu não disse que ia chover e que eu ia secar?

domingo, 8 de janeiro de 2012

elevation of love

Então me espreguiço e suspiro uma maquiagem no rosto pra vida ficar mais colorida. Mas tem dias que só pintando a cara toda mesmo, ai como eu queria pintar a cara toda, passar um batom vermelho, muito blush, encher os olhos inchados de rimmel, talvez o nariz da Levita também caísse bem. Pena que algumas coisas eu fui abandonando pelo caminho... também não dá pra carregar a vida toda numa mala, né!? E como a cara toda também não dá pra pintar, deslizo suavemente o pincel, clareza e suavidade pra enfrentar o dia com a beleza protegida.
Outra coisa que não dá mais é pra continuar matando uma a uma essas atormentadas formigas voadoras, tem que haver outro jeito de eliminá-las coletivamente - sim, eu sou eco cri cri, mas já tentei até inseticida; não funciona. Estou exausta de ter que fazer absolutamente tudo por mim: sinto vontade de me abandonar um pouco. Mas olho pro lado e não consigo. Na verdade, é acima de tudo de mim que tenho que cuidar, dá trabalho mas é retorno garantido. Investimento seguro. Entendo quando meu pai diz que lhe falta motivação. Como encontrá-la, se já não há? Onde buscá-la, se já partiu? E como fazer isso... sozinho?!?
Simplicidade (com ternura). Voltar à paz de não precisar fazer nada e sentir o prazer do ócio criativo sem culpa. Voltar pras artes, mais música, mais pintura, mais teatro. Voltar pro coração, sem medo. Voltar pra dentro.

Viajar.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

lé com cré

Onde escrever tudo aquilo que você não pode contar pra ninguém? Aquelas vontades secretas ou lembranças lambuzadas? Como expor suas ansiedades sem assustar o mundo??

Não. Não me venha com essa de que "não é preciso escrever, nem se expor e nem sofrer". Escrever é imperativo para mim (bem como me expor, bem como sofrer). É vital, para clarear a existência, para que nossas reações façam sentido, depois de reagidas.

Mas sim. É difícil escrever sobre as nossas fragilidades. Deve ser por isso que existe a ficção: é muito mais confortável fazer outro alguém carregar seu lado nojentinho, que você custa admitir. Mais fácil se esconder atrás da loucura alheia, difícil é admitir as próprias - já escrevi sobre isso, várias vezes.

Então, por favor, não me entenda mal. Eu não sou over, não sou louca (sim, sou muito louca!!). Sou muito mulher, mas às vezes, menina. Não tenho grandes vergonhas, só sei ser espontânea. Não sou nada, senão eu mesma.

Me lembrei de uma frase singela que a Julia Roberts fala pro Hugh Grant em Notting Hill: "I'm just a girl, in front of a boy, asking him to love her".

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

alô?

Alô? Alou! Oiiii, ahhh... Feliz ano novo!!!!!!!!!!!
É que as linhas aqui estão impossíveis, não estou conseguindo falar com você... que bom que deu certo agora! Como você está? Pulou sete ondinhas? Fechou os olhos e desejou coisas boas? Abraçou muito sua mãe? ãhn? Quê, não to ouvindo, tá cortando a ligação... Sim, por aqui tudo ótimo. Fui à praia, tomei banho de mar. Foi sagrado. Meditei um pouco, rezei um pouco, agradeci muito. Fiquei leve como uma flauta. Desejos? Desejei poucas, mas grandes coisas. O tempo aqui parece andar na velocidade da luz, a única coisa que parece chegar nunca é o dia da sua volta.

Vontade urgente de te ver.

Alô? Você tá aí?