domingo, 28 de fevereiro de 2010

nananinanão

Uma das prerrogativas da minha vida é a intensidade. Nem sempre isso é bom, às vezes fica tudo meio embolado, não dá tempo de digerir direito. Mas na maior parte das vezes é sensacional viver as coisas como se fossem únicas, porque elas de fato são singulares e irrepetíveis. Tudo está muito interessante, mas tem acontecido com uma rapidez que meu corpo não consegue acompanhar. Quero ter brechas para fugas repentinas, para me lançar ao mar, para reforçar o desapego.
Hoje, regados a bom vinho, música nutritiva e comidinhas deliciosas, falamos muito sobre a necessidade de se dizer NÃO. Isso parece super batido, mas é tão importante... porque fomos criados acreditando que dizer não é sinônimo de desamor, de falta de disponibilidade, agressividade, quando na verdade é exatamente o contrário: ao dizer não para o outro, você está reconhecendo suas limitações e deixando claro o quanto de você há à disposição.
É duro ouvir não. Não, não é fácil. Mas é saudável. Porque 'não' não é o antônimo de sim, é só seu contraponto.
Não porque não me faz bem - e se não faz bem pra mim, não vai fazer bem pra você.
Não porque preciso ser verdadeiro comigo mesma pra poder ser verdadeira com você.
Não porque não estou com vontade. Simples assim.
Não porque não preciso te falar sim pra ser aceita por você.
Não porque não quero.
Não porque não consigo.
Não porque não há espaço dentro de mim para isso.
Não porque não te amo mais.
E eu realmente sinto muito se você não gosta de nãos.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

quase um Almodóvar

Às vezes, é preciso tomar algo forte para sair da realidade - ou para entrar nela, como queira. Mas é antes dos goles que o filme começa.

CENA 1 - SALA DE ESTAR / INTERIOR / DIA
ELA entra com naturalidade na casa, quase fosse um membro da família e sempre tivesse estado lá. PONTO DE VISTA DELA: seu olhar atravessa lentamente, de ponta a ponta, os vãos livres da grande casa luminosa. Se detém em quadros de aquarela pregados na parede e nos porta-retratos com fotos de família.
CORTA PARA

CENA 2 - COZINHA / INTERIOR / DIA
A cozinha é sempre o lugar para o Satsang. Todos sorriem e estão muito à vontade. CLOSE em sorrisos. Faz calor. As pessoas se abanam e bebem água. CLOSE em olhos e mãos. CRIANÇA corre pela cozinha. FRIDA se aproxima para receber cafunés. ELA faz carinho em FRIDA e se sente observada com simpatia. ELE a observa. ELA finge não perceber.
CORTA PARA

CENA 3 - ESCOLA / INTERIOR / NOITE
ELE fala para uma platéia atenta. Gesticula muito e faz caretas engraçadas. A platéia ri, o ambiente está descontraído. ELA o observa com admiração. Morde o lábio inferior, como sempre faz quando fica insegura. Logo em seguida, esboça um leve sorriso com o canto da boca, satisfeita.
CORTA PARA

CENA 4 - COZINHA / INTERIOR / NOITE
Pessoas sentadas em volta da mesa comem e conversam. Na mesa, comida caseira. DETALHE nas mãos DELE cortando manga Haden. DETALHE na cumbuca de balas de menta Kids. DETALHE no pequeno copo de whiskey. Faz muito calor. Tiram fotos. CONGELA em uma foto.
FADE OUT PARA

CENA 5 - FILIAL / INTERIOR / NOITE
Bar lotado. Sentados à mesa, bebem cerveja e Seleta. Conversam animadamente, gesticulam muito, abrem largos sorrisos. ELA cobre o rosto com as mãos envergonhada. CLOSE no par de óculos que estão sobre a mesa. ELA pega na bolsa o Moleskine verde limão e escreve.
DETALHE DELA escrevendo: O que te move?
ELE faz careta. ELA passa o Moleskine para ELE.
DETALHE DELE escrevendo: a curiosidade, o desafio, o novo, a insegurança, o amor, o tesão, o medo.
ELA lança um olhar de aprovação.
CORTA PARA

CENA 6 - CARRO / EXTERIOR / MADRUGADA
Forte chuva. Eles estão no carro. Para-brisas em movimento frenético. Conversam e riem. DETALHE na flor colorida presa no cabelo DELA. WIPE horizontal para o vidro do carro. STEADYCAM na chuva torrencial desfocada do lado de fora. FOCO gradual nas gotas que escorrem pelo vidro do carro.
FADE IN para BLACK.
FIM

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Novo Olhar sobre as Relações de Trabalho

Esse vídeo é fruto de um trabalho incrível do qual estou participando com um grupo de pessoas inspiradoras e pulsantes. A elas, e a todas as outras que por tabela conheci, manifesto minha maior gratidão pelos novos óculos que estamos aprendendo a usar, pelo crescimento que estamos mutuamente nos proporcionando.

Movimento Novo Olhar sobre as Relações de Trabalho from rita monte on Vimeo.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

mauzinha

É muito libertador reconhecer a maldade na gente. Reconhecer o egoismo, a raiva, a falta de vontade. A gente se liberta, ainda que momentaneamente, das pressões, das reponsabilidades, das expectativas que nos impelem a um comportamento protocolar. No fundo, percebemos que só queremos ser aceitos com normalidade e com doçura pelos outros, mas por dentro... ahhhhh, por dentro queima, arde, não encaixa (de jeito nenhum). É uma sensação perene de deslocamento. É aí então que a verdade faz-se cada vez mais necessária, mesmo que cause conflitos e desconfortos - porque coloca o outro frente a frente com a sua hipocrisia social, com a sua inverdade interior. Mas a verdade é do coração, não é da razão, por isso é tão difícil de ser aceita.
Quando eu crescer quero ser igualzinha à tita. Meditar todo dia e cantar kiirtan com voz de anjo.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

a perda

O sol batia dourado no para-brisas. Nenhum ar condicionado podia vencer o calor, secar o suor, nem esvaziar a tristeza. A única coisa desta vida que não tem jeito invadiu nosso carnaval de uma forma cruel e inesperadamente dolorosa. E não há palavra capaz de atenuar a dor cortante, não há como evitar o gosto do fel. O peito feito buraco e as lágrimas que não se devem conter. Não há como não pensar na falta de significado com que vestimos o cotidiano, na pouca importância que damos aos gestos corriqueiros, nos diálogos impensados, naqueles pensados demais, nas raivas guardadas por tempos injustificáveis, nos abraços não dados.

Sabe, essa vida é puro pó.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

colombina

Ser solteira exige um malabarismo absurdo. É preciso estar sempre bonita, arrumada, cheirosa, simpática, sorridente. A cada novo caso, já vai você contar da sua vida, do que você gosta, do que não gosta e é preciso estar disposta a fazer isso com muita energia, afinal a sua vida é muito interessante: "veja como eu sou bacana, tenho uma rede de contato fantááástica (na maior parte das vezes, muitos dos amigos são os mesmos, nessa minúscula bolha em que vivemos) e faço programas incrííííveis".
Ai, que preguiça.
Ando com uma preguiça descomunal de fazer esse papel.
Não me admira que muita gente ande por aí com a intenção de satisfazer apenas seus desejos carnais imediatos. Depois, vira pro lado e dorme - isso quando dorme - ou diz beijo-tchau-não-me-liga, como se tivesse tomado um chopp com você falando sobre amenidades. Porque realmente dá trabalho! Se comprometer com aquele momento, com aquela pessoa, com aqueles olhares é muito arriscado, representa um provável descontrole. Melhor não. Nem precisa contar da vida, das coisas todas. Vai direto pro abraço.
Mas eu sou à moda antiga. Não sou malabarista, nem trapezista, muito menos palhaça. Aproveitando o ensejo carnavalesco, sou Colombina. Só falta o Pierrô.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

piripiri do piauí

Depois de um almoço regado de lembranças, o google me levou a visitar virtualmente esse município brasileiro de 62 mil habitantes no interior deste Estado esquecido. Lá tem árvores e passarinhos e redes de Imbira do seu Zé e também beijú de tapioca que a vizinhança se reúne pra comer. Nesse inverno choveu bastante, segundo contou dona Amparo, mas agora demora a chover de novo, é uma quentura danada.
Lá é bem bom, dá saudades de balançar na rede no alpendre depois do almoço. Vou ganhar uma rede Tucum de presente em 2011. O pai é quem faz. Mas lá tem que trabalhar o mês inteirinho pra ganhar 80, 100 reais. Por isso é que o pessoal vem pra cá. Agora a dona Amparo tem um celular da Oi e ela pode falar até cansar a língua, então toda quarta ela liga aqui em São Paulo. Amanhã é dia dela ligar.

Tinha esquecido como era bom almoçar em casa para ouvir histórias de Piripiri.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

tás a ver?

É isso, gente. E muito mais.