quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

envergo, mas não quebro

Eu achei que este dia não ia chegar. Sinto meu coração transbordando de gratidão e uma tranquilidade como há tanto tempo não sentia - ainda desperto por vezes em sobressalto achando ser um sonho. Mas não é sonho. Assim como o passado também não foi pesadelo. Pés descalços no caminho pedregoso sob o sol escaldante, lágrimas secas, coração vazio: nada foi em vão. Sou agora o resultado deste percurso. Olhei bem fundo na cara do medo. Às vezes me desesperei. Pedi muita ajuda e tive muita ajuda. Meus amigos: meus tesouros. Meus anjos, meus gurus. Meus antepassados. Ganhei um amor de presente pra amansar os dias mais difíceis. Honro esses dias, os melhores e os piores. Não me orgulho do sofrimento, apenas agradeço os aprendizados. Hoje valorizo outras coisas, meus desejos se transformaram, sou muito maior. Hoje escolho me libertar de julgamentos que me cegam, de crenças que me limitam, de condicionamentos que me aprisionam. Prefiro olhar pra dentro e me relacionar sem máscaras. Eu, mais eu do que nunca. Coração.
Pode vir. Tô pronta.


sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

blur

As noites têm sido curtas, os dias longos e cheios. Poucas horas de sono, muito trabalho. Eu costumo enfiar a cara no trabalho depois de uma desilusão amorosa. É um jeito produtivo de se distrair. Dei sorte: mal tenho tempo pra tomar banho. Hoje fiquei com vontade de saber como você está. Lembrei do dia em que me disse: "Você vai ver, amor, as coisas vão se abrir pra nós ao mesmo tempo e vamos poder curtir juntos, vai dar tudo certo". Queria saber se as coisas tão dando certo pra você como estão dando pra mim. Você não deve estar muito interessado, mas estou feliz. Fase boa da vida, finalmente tranquila. Sei que você "torce muito por mim" - foi o que me disse da última vez que nos falamos, então de qualquer forma achei que ficaria feliz em saber que estou bem. Todas as manhãs converso longamente com Deus e isso me mantém elevada. Sigo me emocionando muito com a imprevisibilidade da vida e ando muito impressionada com minha intuição. Coração ainda meio tropego, será esta uma característica dele? Mas enfim, já vivemos juntos há 36 anos, temos aquela intimidade que reconhece até o ritmo da respiração do outro, então no fundo é pura conexão. Esbarrei num cara de coração puro como o meu que tem o melhor abraço do mundo e a sensibilidade de poucos homens. Acho que estou me apaixonando por ele, mas quando ainda me pego chorando pelas nossas memórias, fico na dúvida se sou tola ou imbecil. É um misto de raiva e pena de mim mesma. Sei que já estou quase na reta final dessa insana caminhada que é te esquecer. Aos poucos, sua fotografia vai ficando embaçada. Num dia acordo e me dou conta de que esqueci o formato dos seus olhos. Aos poucos, você se esvai.
Um borrão.
Blur: algo que não posso ver claramente.
Ou talvez, nunca pude.


terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

senhora morte

A vida é mesmo um sopro. Osho diz que a morte sempre acontece com a exalação e o nascimento com a inalação. A exalação e a inalação estão acontecendo continuamente. Com cada inalação você nasce; com cada exalação você morre. Mas a gente nunca acha que exalou o suficiente. Nosso maior apego é à vida. E você me pergunta: o que aprendemos de tudo isso? O que as pessoas fazem de diferente, frente a uma nova oportunidade de vida? 

Elas não fazem nada porque não conseguem olhar com sinceridade nos olhos escuros da morte. 

Somos seres tão pequenos que não conseguimos enxergar a imensidão da existência. A ideia de que nos encerramos aqui é tão estreita! É isso que devemos aprender: a viver com pura confiança no mundo espiritual e sem qualquer segurança na existência. Mais uma vez a vida me coloca diante do luto alheio, uma dor imensa que eu nem consigo por em palavras. Eu nem sei o que dizer, eu queria mesmo é te abraçar por muitas horas. Desejo que você possa chorar. E que você consiga mergulhar fundo neste entendimento. Que você consiga externar todo seu amor para que o arrependimento nunca seja uma mágoa. Você pode dizer qualquer coisa agora, como sempre pode (mas não disse). Agora você pode: então diga. Você pode se ajoelhar e pedir perdão. Você pode se surpreender com o que vai ouvir. Deixe-se surpreender então! A proximidade da morte traz clareza a quem está partindo.

Que o caminho seja leve. e breve.

"Estamos vivos, e a morte nos aguarda. Esta é a única verdade que importa. As demais...são nada!
Um mortal consciente não pode permitir semelhante desperdício de seu tempo único e breve sobre a terra. Um mortal consciente é um guerreiro que faz de cada ato, um desafio - o desafio de beber a essência da vida, a cada instante. O desafio de viver digna e impecavelmente seu momento, como sua força lhe permite. Um mortal desfruta e saboreia o valor de cada momento precioso, porque sabe com toda certeza que a morte o espreita e que seu encontro com ela terá de cumprir-se sem lugar a dúvidas.

Como a morte pode chegar a qualquer momento, um guerreiro se dá por morto e considera cada ato, seu último ato sobre a terra.

Um ser que dá o melhor de si mesmo a cada ato, tem um poder especial. Tem uma força e um sabor que não pode comparar-se com as chatas repetições de um mortal. Por isso, o guerreiro tem a consciência da morte como a pedra pilar de todo seu conhecimento e de toda sua luta".

Carlos Castañeda