terça-feira, 11 de agosto de 2015

meu vô

Hoje precisei sair cedo e chegar tarde. Deu uma saudade danada. Foi a primeira vez que você passou o dia inteiro sem mim e adormeceu sem mamar. Fiquei tranquila porque você estava com seus avós, nossos parceiros nessa jornada. Mas à noite sua vó teve um curso e precisou sair. Fiquei receosa porque seu avô nunca havia trocado uma fralda. Mas ele se garantiu. Não só trocou sua fralda, como deu banho, janta, afago e fez você dormir.
Quando eu cheguei, fiquei emocionada e cheia de orgulho.
Percebi a magia que há em ser avô.
É viver tudo aquilo que não foi vivido com os filhos.
É redimir o passado.
É tornar-se ídolo.
É reencontrar-se com você mesmo e encontrar-se com o novinho em folha, que acabou de chegar e tem tanto a ensinar.

Gratidão ao meu pai, seu avô, que no dia seguinte do dia dos pais, me deu este presente. 

segunda-feira, 22 de junho de 2015

enquanto você dorme

Te coloco na cama e suspiro. Passaram-se pouco mais de 500 dias desde que você chegou, e este segue sendo um ritual solene. Suspiro, te olho com ternura, faço uma oração ao seu anjo para que você durma bem - no começo ele estava meio distraído, mas tem dado mais ouvidos as minhas palavras ultimamente.
Então você dorme. E hoje te olhei com inveja - queria mesmo ter deitado ali ao seu lado e só acordar com os primeiros raios deste sol invernal. Mas saboto meu desejo. Me boicoto por responsabilidade, por pressão, pra ter paz de consciência. Me boicoto pra dar conta. Enquanto você dorme, eu tenho uma lista de coisas pra terminar, realizar, começar... e se eu não fizer por nós, quem vai fazer? Não temos com quem dividir tarefas. Somos só eu e você, filho. Então, por mais duro que seja, eu preciso sair de uma cama quentinha no meio da madrugada gelada pra voltar pra casa antes de você acordar. Sem peso, isso faz parte do pacote.
Mas às vezes gostaria que minha maternagem solitária fosse mais compreendida nas pequenas coisas. Sim, numa sociedade em que amamentar uma cria até os 6 meses é luxo, deve ser difícil entender como alguém escolhe ainda amamentar seu filho até 1 ano e 7 meses. Meu suspiro é de cansaço, de pesar por me sentir nada pertencente a este sistema. Mas sobretudo meu suspiro é de missão cumprida: enquanto você dorme, eu cuido pro mundo te receber.

"Desejo que quem mergulhe na maternidade como eu mergulhei, possa entender que, por mais que pareça que você só está perdendo, (perdendo amigos, perdendo o corpo de antes, perdendo dinheiro, perdendo carreira) acredite, você está ganhando: um sentido maior para a vida".

segunda-feira, 15 de junho de 2015

carta pro filho [2]

Essa coisa de ser mãe tá ficando cada dia mais interessante: você agora entende tudo o que eu te digo. Tudo não é força de expressão. É tudo mesmo! Entende na medida da sua curiosidade pelo mundo, com a inocência de quem nunca ouviu aquela novidade antes. É lindo de ver.

Hoje te contei que, neste planeta que habitamos, não existem duas pessoas iguais. Tem loiros, rastafaris, budistas, baixos, altos, orientais, muçulmanos, cegos, morenos, meninas que gostam de meninos ou de meninas (ou dos dois)... mas pra muito além disso - e você me olhava muito sério e compenetrado - não existem duas pessoas com a essência igual.

Essa é a grandeza mágica de ser humano, filho: somos parte de uma espécie imensa, mas nem sequer um representante desta espécie é igual ao outro. Tão complexos e fascinantes, cada qual com caminho de evolução, cada um de nós galgando um aprendizado diário único e individual. 

Mas ao mesmo tempo, somos muito parecidos. Precisamos nos parecer para pertencer. Nossa parecência é coisa que nos identifica. Sentimentos, emoções e sonhos em comum nos unificam. Um dia você vai ter a sorte de encontrar alguém que não se parece em nada com você, mas vai ser idêntico a você. Soa estranho, mas isso vai te fazer sentir um bem estar indescritível, como se sua alma tivesse encontrado outra alma idêntica a sua, uma complementação perfeita. A isso damos o nome de amor. Desejo que você cultive sempre o amor no seu coração, filho. É só o amor que nos faz superar diferenças, limitações, preconceitos.
O amor nos faz ser Humanos.



quinta-feira, 16 de abril de 2015

eu não sei mais escrever

Minha escrita anda quase irremediavelmente enferrujada. Fico aqui pensando que já tá muito tarde, que deveria aproveitar para descansar enquanto o bebê dorme, que a pressa não vai deixar a inspiração chegar.

Escrevo, apago.

Escrevo, apago.

Não consigo mais amar as palavras que um dia já foram tão minhas. Acho que desaprendi a escrever. Acho que tive que guardar minha sensibilidade numa caixinha. Engavetei emoções. Me perdi no rebuliço da maternidade. Respiro curtinho, enredada em mil afazeres profissionais, domésticos, maternais, filhais... Esqueci das minhas vontades. Há quanto tempo não suspiro de prazer?

Neste que é, até agora, meu momento mais cheio de vazio, de incertezas, de desrumos. Nesta era de crises planetárias, nacionais, governamentais. Neste tempo de excesso de egos, de ofertas, de virtualidades... neste tempo, me desencontro de mim, da minha essência. Não sei onde vim parar. E nem como daqui sair. Talvez o retorno a estas letras me ajude a encontrar o caminho de volta pra casa do coração.