segunda-feira, 22 de junho de 2015

enquanto você dorme

Te coloco na cama e suspiro. Passaram-se pouco mais de 500 dias desde que você chegou, e este segue sendo um ritual solene. Suspiro, te olho com ternura, faço uma oração ao seu anjo para que você durma bem - no começo ele estava meio distraído, mas tem dado mais ouvidos as minhas palavras ultimamente.
Então você dorme. E hoje te olhei com inveja - queria mesmo ter deitado ali ao seu lado e só acordar com os primeiros raios deste sol invernal. Mas saboto meu desejo. Me boicoto por responsabilidade, por pressão, pra ter paz de consciência. Me boicoto pra dar conta. Enquanto você dorme, eu tenho uma lista de coisas pra terminar, realizar, começar... e se eu não fizer por nós, quem vai fazer? Não temos com quem dividir tarefas. Somos só eu e você, filho. Então, por mais duro que seja, eu preciso sair de uma cama quentinha no meio da madrugada gelada pra voltar pra casa antes de você acordar. Sem peso, isso faz parte do pacote.
Mas às vezes gostaria que minha maternagem solitária fosse mais compreendida nas pequenas coisas. Sim, numa sociedade em que amamentar uma cria até os 6 meses é luxo, deve ser difícil entender como alguém escolhe ainda amamentar seu filho até 1 ano e 7 meses. Meu suspiro é de cansaço, de pesar por me sentir nada pertencente a este sistema. Mas sobretudo meu suspiro é de missão cumprida: enquanto você dorme, eu cuido pro mundo te receber.

"Desejo que quem mergulhe na maternidade como eu mergulhei, possa entender que, por mais que pareça que você só está perdendo, (perdendo amigos, perdendo o corpo de antes, perdendo dinheiro, perdendo carreira) acredite, você está ganhando: um sentido maior para a vida".

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