quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

até 2009

Estou embarcando pra Manaus.
Levo o bom e velho caderno para blogar com a minha caneta, alguns livros, meu ipod e um repelente de insetos que não vai funcionar muito, dizem...
Na volta, conto as peripécias.
Feliz Ano Novo!!!!!!!!!!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

um desejo martelo

Tanto choro e pranto
A vida dando na cara
Não ofereço a face nem sorriso amarelo
Dentro do meu peito uma vontade bigorna
Um desejo martelo

Lenine

minha cama

Estou com saudades da minha cama. Como ela não há. Ela é muito gostosa, disse hoje depois de horas dirigindo.
A sua também era. Adorava dormir e acordar naquele colchão que escolhemos juntos, acordar grudados, horas intermináveis de nunca levantar. E me lembrei, num sopro, de nós deitados na loja de colchões na teodoro sampaio, olhando para o teto, luzes de neon, achando que fosse pra sempre.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

piracema

Às vezes me sinto como um peixe de piracema, que enfrenta a correnteza para chegar à fonte, à cabeceira do rio e ali desovar, para recomeçar a vida de uma nova forma. Hoje percebi, literalmente, que somos puro pó.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

dama da noite

A vida tem sido generosa comigo, não posso reclamar. Aliás, sempre foi. E eu, entre tropeços, sempre reclamei. Agora chega, é hora de reconhecer: sou feliz pra caralho.
Mesmo nos momentos mais cruéis, tenho conseguido sentir com clareza e serenidade que tudo está bem, como deve estar.
Ele se despede da vida, à beira dos 83 anos. É triste, claro, mas foi mais que bem vivida! Fui comemorar sua morte, no bar, como ele gostaria, me divertindo, dando risadas e contando estórias.
Ao voltar pra casa, há poucos minutos, senti um leve perfume de dama da noite, uma das plantas preferidas do seu jardim. "Que cosa, no? Parece que está dentro de un vaso de perfume!", ele dizia com seu sotaque enquanto ia nos acompanhar até o carro, depois de jantares de verão. Isso já faz tempo, era quando ele cozinhava suas iguarias das quais se orgulhava tanto.
Saí à procura da planta, deveria estar por perto afinal. E estava. Parei um instante à sua frente, agora inebriada pelo intenso perfume. Mesmo molhada, aquela micro-flor tinha um odor tão poderoso, realmente o velho tinha razão, parecia que estava dentro de um vidro de perfume.
Colhi alguns galhos da flor, trouxe para enfeitar minha sala em sua homenagem. Amanhã vou levá-los para me despedir muito perfumada, como ele certamente gostaria.
Vai, meu velho, vai. Que a vida é muito mais que isso.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

jungle girl

A Amazônia Legal Brasileira é formada pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e grande parte dos estados do Maranhão e Mato Grosso.
Constitui 60% de toda a região amazônica (Pan-Amazônia), possui o maior rio do mundo, o Amazonas, cuja extensão é de cerca de 6500 km, possui o ponto mais alto de todo o território brasileiro, o Pico da Neblina, abriga a maior diversidade de fauna e flora do planeta, abrange uma superfície equivalente a mais de 30 países da Europa, possui a maior reserva mineral do planeta, abriga mais de 20 milhões de habitantes.
Esqueceram de mencionar os mosquitos, vou ter de me haver com eles...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

o que me desespera

O que me desespera não é o fim.
Não é a ausência.
Não é o vazio.
Não é a dor.
É saber que ela vai durar por muito tempo.

sábado, 13 de dezembro de 2008

possibilidades de futuro

Há poucos mais de um mês, um jovem casal se mudou para o micro-apartamento que dá de frente pra janela da minha cozinha. Acompanhei um pouco de tudo: a mudança dos antigos moradores, que tiveram um bebê e precisavam de um lugar maior, o encaixotamento da vida, o choro da criança agastada - mal veio ao mundo e já precisava se mudar?
... e a chegada do novo jovem casal. Poucos pertences, coisas carregadas no carro do melhor amigo dele e da melhor amiga dela - eles não devem ter carro. Uma mesa de vidro é o que consigo ver da minha janela. E deduzo também que tenham colocado um sofá ao pé da janela deles, mas esse eu não consigo ver. Algumas semanas de arrumação, alguns amigos convidados para conhecer o novo casulo, alguns dias depois, um vasinho com flores sobre a mesa de vidro. Ele anda de cueca pela sala, cabelos cacheados sem corte, barba mal feita. Deve ser comunista, diria um amigo meu. Eu acho mais provável que ele seja jornalista (e comunista, por que não?). Ela eu não vejo muito (na verdade não reparo muito nela).
A não ser na outra noite, já era tarde, fazia calor. Janelas abertas, o bairro estava silencioso, eu tentava me concentrar e trabalhar um pouco. Uma voz de mulher vindo de longe me distraia. Fui para a janela fumar um cigarro e percebi o casal sentado no sofá em meio a uma discussão. Ela chorava um pouco e falava muito, gesticulava muito. Ele, de costas para a janela, falava menos. Foi aí que reparei nela, uma mulher. Aquele serzinho que precisa enxergar possibilidades de futuro.
Me deu vontade de gritar aqui do outro lado: "hey, parem com essa conversa estúpida. Abracem-se e acabem com isso! Se vocês soubessem como é inútil discutir e... ".
Pareceu-me triste aquela discussão poucos dias depois de terem se mudado juntos, para debaixo do mesmo teto, concretizando o futuro. Ela falava, ele replicava breve. Ela gesticulava e passava a mão nos cabelos, ele replicava com gestos contidos. É inevitável, eles não têm essa visceralidade: eles não têm utero. O peso que dão para as coisas é outro.
Pensei nisso enquanto via aquela mulher se debatendo para salvaguardar sua possibilidade de futuro, por horas a fio. Retornei ao meu computador e continuei ouvindo sua voz até muito depois da meia-noite. Quando voltei para a janela, as luzes dos vizinhos já estavam apagadas.
Hoje, dias depois do ocorrido, fui acordada por um barulho de furadeira. Mal humorada, fui até a janela recolher a roupa do varal. Ele de cueca, ela olhando atenta. Estavam pendurando uma possibilidade de futuro: uma estante para comungar livros, saberes, fotos e cds. Felizes, trocavam chamegos.
... como quem pendura lustres, quadros e utensílios de cozinha.
Como pendurar juntos possibilidades de futuro e depois não estar juntos no futuro?

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

o que acontece

A vida não é o que nos acontece.
É o que a gente faz com o que nos acontece.

Cristina Guerra

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

um poema na parede

Ganhei de presente do Sérgio Guerra, em Luanda, um lindo pôster com um poema do Drummond. Quando me mudei pra rua diana, pendurei-o devidamente emoldurado num canto da sala. Apesar de querer valorizá-lo, acabei por deixá-lo lá, reinando solitário, sem que ninguém o lesse, nem eu mesma.
Esta manhã - na dura batalha com o mamão disfarçado de granola, mel, banana e o que mais der pra eu não sentir seu gosto - me peguei desapercebidamente olhando para a parede e li o poema, uma e outra vez. E mais outra.
Descobri que tenho coisas maravilhosas dentro de casa.
E dentro de mim também.

As sem-razões do amor
(Carlos Drummond de Andrade)

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
eu te amo porque te amo.
amor é estado de graça e
com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira,
no eclipse.
amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque te amo,
bastante ou demais a mim
porque amor não se troca,
não se conjuga
nem se ama
porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

vanilla caffè

De tanto fazer os mesmos caminhos e andar sem rumo procurando você, seguindo teu cheiro, teus rastros, tua música, uma hora o encontro ia ter de acontecer. Um encontro que não foi propriamente um encontro, foi um esbarrão, desses que a vida te dá quando já não dá mais. Desses que a vida te dá quando é pra você se tocar que precisa mesmo é vomitar o passado. Meu estômago já vinha embrulhado pressentindo talvez esse infeliz esbarrão. E de fato, duas quadras depois, o vômito. Ali, no meio da calçada da consolação, como quem deixa uma parte de seu corpo na rua para não carregar mais peso. Na consolação.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

eyes wide shut

...porque quando descobrir que vê melhor de olhos fechados do que de olhos abertos, aí vai perceber que está realmente enxergando.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

garotas de janela

Os encontros na vida nunca são por acaso. Podem se passar meses, anos, elas sempre estarão lá, prontas pra rir, fazer chorar de tanto rir, rir pra não chorar. Qualquer riso é bem-vindo, mesmo os de dor. Nas imensas diferenças e desencontros, momentos são também de tanta cumplicidade como os de hoje.
Momentos de janela, janela que venta, que mostra a paisagem mutante. Janela que abre um mar de possibilidades, todas elas válidas. Janela que deixa a luz entrar, que está para a contemplação.
Garotas de janela, nunca nos separamos, apenas tivemos hiatos necessários - e ainda hemos de ter!

domingo, 7 de dezembro de 2008

a insistência do amor

Escrevo para que você me leia. Você aí, no seu computador sob a mesa que compramos juntos, pode escolher se vai me ler, se vai me deletar, se vai me responder. Não importa. Eu apenas preciso escrever porque ainda há coisas que não fazem sentido. Talvez escreva também na ilusão de que você leia e volte, para que você leia e pense que há algo surpreendentemente belo em mim, algo que você não viu, algo que passou por nós despercebido. Mas isso também não importa, porque é apenas uma ilusão, você não vai voltar. Escrevo também para que você me ame. Ou mesmo que você não me ame, que essa leitura seja também uma forma de amor.

Mesmo que amar não seja assim tão fácil, você pensa, amar não é assim tão fácil quando já não se ama. Que depois do amor ter surgido, vivido e morrido e virado qualquer coisa feito uma planta ou qualquer matéria orgânica, não vai virar semente. Amar não é semente para virar planta e regar e cuidar e essas coisas tolas que a gente gosta de pensar quando está feliz, essa felicidade tola como são todas as felicidades e tudo mais que nos faz pensar que é possível recuperar o irrecuperável. Tudo isso você deve estar pensando agora enquanto me lê.

Ontem fiquei pensando nisso, no amor, na insistência do amor, como se o amor pudesse nos salvar do ódio, da loucura e até do desejo. Eu acredito nisso porque ainda te amo. Quer dizer, te amo e pronto (sem ainda). Porque amor que é amor não acaba nunca. Ele fica guardado numa gavetinha reservado pra aquela pessoa apenas. Então fiquei pensando se nem mesmo do amor o amor nos salvaria, mas acho que o amor nunca será suficiente para aplacar o amor.

Um amor tão grande, você entende? Nesse amor cabem os segredos que se escondem nas frestas da aparência, as falhas desse personagem que inventamos diariamente. Nesse amor cabe a histeria, cabem manias doces de arrumar pacotinhos de açúcar na mesa do restaurante. Nesse amor cabem o vício e o conflito, como também a compreensão do silêncio - que eu não tive, mas agora percebo que cabe. Nesse amor cabe a suavidade da pessoa mais sensível que conheci e também o arrebatamento necessário. Nesse amor cabem nossas forças e nossas fraquezas. Nesse amor cabe. Ponto.

Mas é preciso coragem para receber todo esse amor.
Eu entendo, você simplismente não tem essa coragem. O medo, o medo que nos paralisa, o medo que nos detém, o medo que nos faz recortar tudo em fatias.
Primeiro, segundo, terceiro.
O medo enumerando razões para me deixar.

sábado, 6 de dezembro de 2008

hoje canto

Hoje canto. Canto porque amo.
"Canto pra esquecer a dor da vida
Sei que o destino do amor
É sempre a despedida
A tristeza é um grão
Saudade é o chão onde eu planto
Do ventre da solidão
É que nasce o meu canto".
(Teresa Cristina e Pedro Amorim)

Estão todos convidados.
Rua Cardoso de Almeida, 704 - a partir das 20h00

Help

"Você tem todos os defeitos de uma mulher perfeita".
Por mais que me esforce, não consigo significar essa frase.
Alguém palpita?

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

poeta no ônibus

Em casa de menino de rua
O último a dormir
Apaga a lua.

Giovani Baffô

porque há coisas que demoram a existir

Dizem que a separação nunca é uma urgência. Dizem que ela comeca em seu avesso. E que é justamente no momento mais suave, o primeiro encontro, o primeiro olhar, que a separação começa a existir. Eu prefiro acreditar que a separação nunca termina, e que o último dia, a última noite, é um instante que se repete, a cada espera, a cada volta, cada vez que sinto tua falta, cada vez que pronuncio teu nome. Eu acredito que, ao te chamar, um encanto seja capaz de fazer com que você se vire e olhe, e, sem perceber, estenda entre nos um atalho, uma ponte.

Mas como a gente chama alguem que foi embora? Alguém que esta longe, alguém que não está, que não quer estar? A distância deveria impor um tom menos íntimo, mais solene. Mas como a gente trata com distanciamento alguém que acabou de estar tão perto, ao meu lado, há pouco deitado ao meu lado, na minha cama, onde todo dia, todas as noites, algo tão íntimo como dividir a cama e os lençóis da cama quando o dia amanhece e os lençois ficam lá escancarados com suas manchas e sua noite impregnadas. Como alguem sai da cama da gente para a formalidade?

Imagino neste instante você aí na sua casa, uma xícara de café, quiçá, lendo esta carta e se perguntando, talvez irritado, por que isso agora, afinal já acabou, já fomos embora, pra que continuar indo embora indefinidamente, você poderia se perguntar.

Eu te respondo que não sei, mas faz-se a necessidade de recuperar alguma coisa - segundo voce irrecuperável. Que outra razão poderia haver? Como algo pode ser irrecuperável?

Tento imaginar a expressão do teu rosto, o teu rosto, a tua boca, o teu olhar neste momento, agora, que nada mais é do que um vão que nos separa, a distância entre as minhas e as tuas mãos, os meus dedos que passeiam pelas teclas dessa máquina, e os teus. Você, sentando num banquinho de plastico preto, o apartamento que conheço tão bem, as letras, as palavras que eu escolho, o encadeamento das palavras que é sempre outro. Como ultrapassar esta distância que nos separa? Este intervalo entre o que eu digo e o que voce lê? Você esta por toda parte, em cada livraria que eu entro, em cada café sem açucar que eu tomo. Na biblioteca nacional, você estava lá. Tua presença inesperada e inexplicável.

Por isso minha insistência, outra carta. Porque há algo que eu quero te dizer, algo que ficou pela metade, o apartamento vazio, uma frase incompleta ou com alguma reticência. Porque ha algo que ficou pela metade, algo que vem depois. Porque há coisas que demoram a existir. E que é necessario repetir, uma e outra vez.
A separação.

(créditos à maravilhosa Carola Saavedra, que inspirou meu feriado).

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

voltei

Noite dessas, cheguei em casa desesperada. Chorando muito, rolava no chão da minha pequena sala, me contorcendo como um animal moribundo, com vontade de arrancar os cabelos, vomitar. Não era raiva, era pura dor. Apesar de me compreender - ela sempre me compreende - a Vitória me olhava com estranhamento, me acompanhando em meus rastejos.
No afã de extirpar a visceralidade da vida que levei até agora - da qual não me arrependo, nem de um segundo (é importante que fique bem claro), rasguei roupas, fotos, livros. Queria apagar todos os vestígios. Destruí também arquivos virtuais, entre eles este blog.
Agora voltei, arrependida. Nunca destruam seus escritos. Eles são seus e de mais ninguém. É como o amor. Um amigo me disse antes desse incidente: "Esse amor todo é seu, querida, te pertence. Esse amor não está no outro, está em você".
Tudo está em mim.
Nunca devia ter ido, mas o importante é que voltei.
Inteira.