domingo, 23 de janeiro de 2011

bebamos!

Aqui tudo chega de barco, até o correio. Deve ser o único lugar do Brasil onde o sedex leva 10 dias pra chegar. Dependendo dos naufrágios, chuvas, marés e vontade dos homens de bem, o barco às vezes não chega. Aí falta água. Falta gás. Falta comida. Fruta? Artigo raro. E caro. Também deve ser o único lugar do Brasil onde a banana custa uma fortuna. Mas não são só bens de consumo que faltam aqui.
Falta vergonha na cara do Governo de Pernambuco. Falta vontade política, falta educação, consciência ecológica, economia criativa. Falta tudo isso. Mas cerveja nunca falta.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

felinianas

Os gatos de Noronha são carentes. Eles miam muito, gratuitamente. Um miado firme, decidido, de quem não se arrisca no pedido. Mimados, insistentes, obstinados, chegam a ser grosseiros: aprenderam que para viver aqui, ou é assim ou vão morrer de fome. Em 10 dias de ilha, morando com 14 homens em um alojamento coletivo, lavando roupa na mão, indo a pé pro trabalho debaixo de tempestades, mergulhando até 18m de profundidade, nadando com tubarões e raias, trabalhando muito, comendo pouco... percebi que pra viver aqui precisa mesmo ser muito macho! Falo daquele estereótipo de macho nordestino, forte, duro, imbatível, de poucas gentilezas, machista, mas no fundo muito carente. Os homens aprenderam com os gatos que aqui, para viver, é preciso de uma crosta protetora. Eu, avessa a qualquer barreira que me impeça de acessar gatos ou seres humanos, estou sofrendo um bocado - mas aprendendo dia-a-dia. Reforço que a afetividade, a amorosidade, o sorriso e a gentileza são a única via possível para mim. Ontem mesmo já conquistei o primeiro gato. Miado estridente atrás de um pão de queijo que eu comia. Dividi com ele, fiz um afago. E ele ronronou.
Simples assim.