sábado, 28 de maio de 2011

panela de pressão

Outra tarde, entrei numa igrejinha com uma portinha que parecia de um conto de fadas. Era muito pequena mesmo, tanto a igreja quanto a porta. Sentei no banco ao lado do altar, olhei pra nossa senhora da Conceição e comecei a conversar com ela com toda inocência de uma criança que faz um pedido pro Papai Noel - e acredita piamente que seu pedido será atendido.

"Eu quero o pai pros meus filhos. Um cara bonito, pero no importa mucho - que fique claro que se for bonito, não vou achar ruim. Mas que seja, acima de tudo, bonito por dentro. Sincero, honesto, boa indole. Que goste dos meus amigos. E que meus amigos gostem dele. Que tenha um papo bom, bom, bom de doer de tão bom, porque isso é o que me dá mais tesão na vida: conversar. Não precisa ter dinheiro, mas sem dívidas é um requisito. Que seja bom de cama (não vou entrar em detalhes, mas pra ela eu pedi tudinho!!). Uma pessoa que tenha tons de cinza, mas muitas cores pra dividir. Que tenha um humor leve e uma boa relação com a mãe. Que tenhamos os mesmos gostos, porque esse negócio de opostos que se atraem só funciona na física mesmo. Eu quero um homem a quem eu possa amar em igual medida à medida que ele me ama. Com quem eu possa trocar de pele de vez em quando. Saborear doces e salgados, ter gatos e ver as mesmas belezas da vida".

Mas teve um pedido que eu esqueci de fazer naquela tarde pra Conceição: que esse homem seja livre e seu coração, desempedido.

domingo, 22 de maio de 2011

prisioneiros do amor livre

...acho que é da Martha Medeiros essa frase. Título de uma crônica dela que li há algum tempo, sobre aquele livro bonito que ganhei da Ju, que conta a história da Simone de Beauvoir e do Sartre. Queria ter esse livro agora em minhas mãos, para reler um trecho que certamente sublinhei na época, em que Simone dizia da incapacidade de seu homem de ser verdadeiramente livre no amor. Sartre apregoava a liberdade suprema, uma relação aberta com Simone: ele tinha outras mulheres e ela, por sua vez, seus amantes. Mas no fim das contas, nenhum dos dois bancava a brincadeira. Ela arranjava mulheres pra ele e literalmente adoecia, prisioneira do seu amor por Sartre. Ele, escravo da sua ideologia de liberdade, parecia obcecado em se ater a este estilo de vida mais para provar sua teoria do que por acreditar nela. Enfim, um desastre.
Aí acontece que, quase um século depois da Simone e do Sartre, percebo que não sabemos lidar com nada disso. E acho que não aprenderemos. É muito da boca pra fora que a gente aprova que o outro tenha outros. Principalmente para os homens, é muito difícil aceitar que topamos o que eles propoem - na verdade eu acho que eles nunca nos levam a sério. Então bom mesmo é o que vem do coração, quando ele fica todo preenchido com alguém insubstituível, alguém que você não vai encontrar em mais ninguém. Amor livre o cassete! Descobri que sou bem egoista nesse ponto: eu quero um só pra mim.

domingo, 15 de maio de 2011

c.o.r.a.g.e.m

Em qualquer lugar, até mesmo no paraíso, têm dias em que o desconforto toma conta. A alma fica pequenina, não vence a falta de sol, não encontra espaço para o amor. O corpo adoece, a mente se culpa, a auto estima se esconde. Com certa frequência, minha voz desaparece. Geralmente ela se vai porque deixei de falar algo que precisava. Mas desta vez, foi diferente: ela se calou para eu me calar. Preciso aquietar o coração e olhar para dentro. Ouvir mais a intuição, que é a voz da alma, gritando para mim.

E - fundamental - preciso de coragem para segui-la.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

você-é-a-mulher-mais-bonita-que-eu-já-conheci

Antes, me penetra fundo seu olhar, na dor da indecisão. Seu olhar, sem medo de encarar, encontra o meu ainda mais destemido e se fixa, sem desviar, como se quisesse me garantir nossa felicidade.

Depois, é quando a gente se abraça, e o mundo para por alguns segundos. Se encaixa sua cabeça na minha saboneteira. Perfeitamente. Fica ali, armazenando meu cheiro, que você diz que adora. Emaranhando nos meus cachos, que você diz que adora. Vontade de te aninhar no meu colo, meu coração amolece de ternura. Busco conectá-lo, pulsante, com o seu adoentado. Sinto sua barba mal feita roçando no meu rosto, sem entender porque essa não pode ser uma cena cotidiana. E então percebo que, mesmo que seja pouco (e eu nunca me contento com pouco), prefiro ter você inteiro nestes minutos do que o dia inteiro pela metade.

Pílulas de felicidade que não me deixam desconfiar do amor.