quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

de mudança

Faz tempo que não apareço por aqui. To sentindo falta de escrever. Um misto de preguiça e absoluta falta de inspiração me fizeram dar uma pausa. Não foi por ausência de estímulos, aliás, muito pelo contrário. Acho que esses foram até excessivos, por isso a falta de inspiração: como organizar tanta intensidade, encontros, novidades sem a cotidianidade de antes? Sem a pontualidade de antes? A vida está absolutamente desordenada e anti-burocrática, o que é bom, mas me deixa um pouco sem chão às vezes...

Só que ontem, depois de ouvir que esse blog serviu novamente de inspiração para alguém voltar a escrever, resolvi retomar palavras a colheradas.

Estou de mudança. Dessa cidade, dessa vida, dessa eu. Não sei por quanto tempo e nem direito o porquê, mas no esforço de tentar não entender muito, apenas sentir, me deixo levar pelo que acredito ser bom neste momento. Nas arrumações, encontro objetos, escritos e fotos (muitas fotos) que me trazem uma saudade antiga e conhecida. Saudade de quem parte sem muito norte. Percebo que o tempo começa a passar rápido demais, porque já tenho tantas histórias pra contar que nem cabem mais nas caixas, álbuns, vídeos ou blogs. Percebo que tudo o que conheci, vivi e cruzei (seja mulher, paisagem ou caminho, como disse o Ruy Duarte), eu amei com todo o coração que tem em mim. E em mim tem muito coração.

Então vamolá, agora é pegar esse coração e colocá-lo a serviço do mundo.
Mais e sempre.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

um pouco mais sobre mim

Hoje, depois do almoço mais indigesto de 2010, senti uma imensa sensação de gratidão. Aprendi muito mais sobre mim e sobre o mundo. Falei pouco, ouvi muito, coisas muito importantes, fortes, difíceis. Este ano do tigre veio com tudo, pra destruir o que não é pra ser, pra limpar os caminhos: começa com um estrondo, termina com um choramingo.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

algo(s) sobre mim

De manhã eu gosto de dormir. Muito. E até tarde. E quando acordo, adoro ficar na cama me espeguiçando e vendo as cores do dia entrar pela cortina florida do quarto. Gosto de comer bem, sou vegetariana torta e prefiro alimentos saudáveis, sempre. Acredito em Deus e em todas as energias que nos cercam, que nos fazem sentir vivos: nada é por acaso, tudo tem sua razão de ser. Sou intensa em tudo que faço. Gosto de banhos de chuva, conversas difíceis e música instrumental. Adoro o verão, mas detesto ar condicionado.
...
Talvez, com um olhar otimista, sejamos apenas complementares.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

tanto, só um pouco

nunca antes ela pôde ser tão grande, mas nunca antes se sentiu tão pequena. um aperto no centro do peito. um parto. uma partida. muitas partidas. um incômodo permanente. nunca antes tanta melancolia sem tanta razão, como piano e violino em dia de chuva. nunca antes tanto amor não correspondido, tanto afago traído. fala sozinha, ouve coisas que só ela ouve, percebe um mundo sutil, parece ser a única nas entrelinhas. grita sozinha um grito abafado, na fronteira entre a raiva e a dó. serão os obstaculos para serem superados ou servem pra nos indicar que devemos mudar de caminho?

realmente não sei.
e de repente percebo a vida tão frágil - e minha dor parece insignificante.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

alento

Não há canto da minha casa que eu não conheça. Já chorei em muitos de seus cantos, encolhida, ferida, esparramada. Eu sorrio muito, mas choro muito também, numa tentativa de me libertar: cada tanto que choro é um pouco de alforria que ganho. Hoje fechei a porta, sapatos nas mãos, tudo ia bem. Mas não aguentei a intensidade. Não aguentei saber que posso distinguir seu timbre em meio a tantas vozes, que ainda me move a tua presença. E que ainda ganhas minhas lágrimas. Sapatos ao chão, costas escorregando pela porta, até chegar ao chão num choro convulsivo. Já não sei teu gosto, teu cheiro me é estranho, mas tudo que guardo de ti são lembranças agradáveis. De alguma forma bizarra ainda estás em mim, num tom de desespero que te é peculiar.

Eu só desejo, com estas lágrimas, te expulsar definitivamente e me libertar (definitivamente).

sábado, 27 de novembro de 2010

roleta russa

Eu queria que a nossa história tivesse gosto de sorrisos pueris que passeiam de bicicleta pela madrugada da cidade. Olhos bem espertos e confiantes, brilhando com os faróis dos carros. Eu queria saber da gente felicidade tranquila, amor em paz, peito aberto pra encarar a vida juntos.
Mas eu, que acho que sei tudo, não sei nada.
Vou aprender aqueles acordes pra tocar o laranja de um fim da tarde veranil.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

cólera

eis que as palavras emperram. e a cada vez que tento, sai uma kanvuanza que não faz sentido nem pro meu léxico, que anda um tanto quanto confuso. é a raiva, a pena, a injustiça, a chuva, a indecisão, a lágrima, o sono, a geladeira.

sou eu?
é muito foda ser eu.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

retorno de saturno

eu não sei bem o que é, mas quero crer que seja ele o culpado. Sim, porque há de haver um culpado nessa história toda de angustias injustificáveis, decisões a serem tomadas e sempre adiadas, certezas que se confundem com a absoluta falta de saber o que fazer. Ou o oposto: fazer exatamente o contrário do que se tem certeza. Tem de haver um responsável pela imobilidade emocional, catatonia, estado de pseudo-loucura, sensação de desamor e de incapacidade. O contexto se mostra complexo, cada vez mais, estou à beira do precipício: ou me lanço ou me lanço. Não me concedo outra possibilidade.

na minha vontade de simplificar o mundo, na verdade percebo que "no pain, no gain" - sem dor, não há conquistas.

SUPER PAIN = SUPER GAINS?

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

muito simples

olha, eu só queria dizer que tô com saudades. Preparo chá de erva cidreira, coloco naquela caneca colorida bonita e espero você entrar, sedento para se aquecer do frio que tá lá fora e fazer um ninho no meu colo. Tô com saudades do seu cheiro, que eu não encontro em ninguém.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

fantástica fábrica de fantasias

são paulo. insalubre. insana. insaciáveis os que a habitam. teatro, boate, cinema, qualquer prazer não satisfaz. me desencontro nessas ruas de incongruências, nessa espontaneidade tão fria e suja, paradoxalmente tão acolhedora e repleta de possibilidades.

me encontro nessas esquinas de loucura.

me inspira andar sobre suas veias, uma quantidade de sangue jorra, dando vida ao que por vezes está quase morto.

sob o vão do masp, muitas cenas felizes: o translúcido nos olhos de curiosos, passantes, mendigos, crianças, todos vidrados no filme de john ford. juntos compartilhando fantasias.

no caminho de volta, já sinto saudades do que não quero mais que me causes.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

tempo, tempo, tempo

A vida tá interessante, mas incessante. Tô com muita vontade de arrumar uma mala bem pequena e tomar um avião pra lugares distantes onde ninguém, ou pouca gente, me conheça.
Então acho que é isso que eu vou fazer.

domingo, 17 de outubro de 2010

meu pensamento

ai, se você pudesse ler a minha mente... aaaaai, se você pudesse, eu ia passar muita vergonha! Porque quando você me olhou naquele instante, assim fundo, conectado e firme, sem desviar, aqueles olhos doces que só falta calda de chocolate pra acompanhar, eu fui tão espontânea como se deve ser. Não quis (nem pude) evitar um pensamento assim tão puro, tão pueril, como quem se declara aos 12 anos: puxa, se você é uma graaaaaaça!

eu sou terrível
não é preciso nem avião
eu vôo mesmo aqui no chão
[roberto e erasmo carlos]

sábado, 16 de outubro de 2010

what the fuck

que que é isso, mano??? que que tá acontecendo com esse mundão de meu deus?!? Quanto mais eu tento entender, menos tudo faz sentido. Por isso tenho buscado entender cada vez menos, sentir mais apenas e só. E você acha que pode chegar assim do nada tentando me fazer sentir o que não é?! Que merda é essa? No fundo você repete tudo, fala as mesmas coisas de sempre achando que tá inovando e sendo super original... Você não tá não! Você tá na mesma vala comum dos sentimentos desmerecidos.

Então, me faz um favor?
beijo-não-me-liga.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

bom dia amor

Só a calmaria de dias de amor pode trazer tamanha lucidez. A grama do vizinho não é mais verde. A pancada não é saudável. O que é bom é a construção - e o mais difícil também. E enquanto finjo não saber, fico esperando pela pancada: estou viciada naquela sensação de adrenalina, de torpor, e não quero saber de sentir outra coisa. Depois das velas consumidas, 90% é volúpia, apenas 10% é paz. Obstinada, me pergunto: o que precisamos provar pra quem - a não ser pra nós mesmos?
As coisas estão bem na frente do nosso nariz. É só querer enxergá-las.

sonhei que acordava ao teu lado e te dizia bom dia amor, bom dia
que sonho este sonhando acordar ao teu lado, bom dia
que dia cheio de outros dias que deitamos juntos, amor
que dia, acordar nos teus braços do lado de cá do teu lado
bom dia amor, bom sonho de amor dormir assim
teus perfumados graus centígrados bem perto amor, bom dia
a tua pele e a manhã aconchegada, bom dia amor, que dia quente
bom dia de luz que entra e já não sai do quarto
um sonho amor, um sonho de luz que já não sai mais do dia
amor, sonhei que acordava ao teu lado e te dizia bom dia amor, bom dia
[Nuno Milagre]

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

ano novo

É muito bom fazer aniversário!! Queria que fosse todo mês. Receber abraços longos, afagos, amigos, palavras bonitas e desejos de tudo que é mais lindo e positivo no mundo. Ter vontades e mimos realizados num piscar de olhos. Ganhar bolo, sorrisos, presentes, sonhos de padaria e beijos.
Definitivamente: aniversário devia ser mensal!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

que graça

Eu fico me achando boba de achar graça em você. Mas eu acho.

Graça nessa sua melancolia, que faz o mundo chover fininho. É uma melancolia super londrina, curtida, sentida até a última gota. Ela transborda pela sua fisionomia, seu rosto fica macio, seu olhar de soslaio, fingindo não ver.

Eu fico me achando boba por ter certeza. Mas eu tenho.
Tô me sentindo uma menina de 15 anos.
Que graça.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

lá longe

Sem fôlego, sem rumo, erro o caminho.
Respira-se melancolia na cidade fria.
Todo mundo tem um amor que não cicatriza.

sábado, 2 de outubro de 2010

impressões

Sabe o que eu acho? Que você deve ser solitário. Como todos os que exercem seu ofício, você deve sofrer muito, mas achar na vida todos os dias uma delícia. Você se diverte. Você tem cara de quem se emociona muito. E parece tímido também, daqueles que disfarçam fazendo graça. Você é bom com as palavras, como todo bom solitário. No fundo, você gosta dessa solidão. Você é bom observador. E tem cara de se dar bem com a sua mãe.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Um nó na garganta.
É o que tenho que desfazer hoje.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

que confusão

Na minha vida, faço muitos planos, mutáveis e mutantes, tenho ideias um tanto vagas e projetos que vão se delineando, se concretizando aos poucos - porque tudo é processo. Mas tenho uma prioridade: o amor. E quando ele chega, avassalador, forte, verdadeiro, refaço meus planos (com o outro), tenho novas ideias (juntos) e abandono alguns projetos, para empreender outros, que envolvam dois. Acho que é um movimento natural da vida. Já foi mais intenso e extremo, hoje está abrandado, mas assim sou eu.
Se me dôo para tudo, por que não para o amor?
E hoje ouvi de um amigo que sou contraditória e incoerente. Que largar meus planos por um homem não combina comigo, que meu discurso de mulher independente cai por terra quando digo que posso mudar tudo por causa de um amor. Então eu fiquei confusa... sem entender a lógica desta vida um tanto frívola que levamos. O que tem a ver eu ser uma mulher independente e autônoma com a minha decisão única, pessoal e intransferível de mudar meus planos pelo sentimento mais nobre e fenomenal do universo? Acho que as pessoas andam desacostumadas com a simples decisão de ser feliz. Parece mais importante e natural manter o discurso intacto, a aparência incólume, do que revelar sua verdadeira essência. Isso me custa.
Coragem.

domingo, 26 de setembro de 2010

sobre a reciprocidade

Ontem fui ver "Inverno da luz vermelha", de Adam Rapp. Daniela Thomas como sempre arrasando no cenário e Monique Gardeberg na direção, conduzindo muito bem aqueles três jovens atores. O texto é muito perspicaz. Cheio de surrealismos e situações improváveis, mas também tão real que me assustou. É impressionante como o teatro, quando bem feito, traz a vida em toda sua potência: é a sua vida sendo representada no palco e contada por outrém. Isso dá muita energia para dejavus nem sempre desejados. Eis que o psicodrama involuntário trouxe de volta aquela noite almodovariana.

Eu pensava:
Foi tão forte que não era possível que você tivesse sentido diferente. Tinha que ser igualmente intenso, especial, excepcional, incrível para você. Como podia ser só um passatempo, um encontro casual, uma conversa corriqueira de bar? Não! Definitivamente aquele sentimento era recíproco!! Eu batia no peito bradando que eu SABIA, que eu não era uma imbecil, que não podia estar enganada, porque eu SENTIA que você e eu estávamos em uma conexão profunda.

Mas eu estava enganada. E a peça de ontem fez cair a ficha: por mais forte que pareça, nem sempre o que é pra um, é verdadeiro pros dois.
Tá tudo certo.

Eu sou você que se vai no sumidouro do espelho.
Guinga e Aldir Blanc

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

gastura

Sou uma pessoa que sabe viver com pouco. Talvez não exatamente com pouco, mas com coisas simples. Não me conformo com a ideia de pagar 400 mil dinheiros por um pedaço de ar, um apartamento. Não concebo adquirir um par de sapatos ou uma bolsa por mil dinheiros. E não me importo em andar com meu carrinho velho (quando uso) porque acho um despropósito colocar mais um veículo na rua. Pratico a economia solidária, na medida do possível - e cada vez mais acredito em um novo modelo de troca, que não só a moeda. Dinheiro não está na minha lista de coisas mais importantes, acho que nunca vai estar. Tendo pro básico e pra uma vida divertida, pra que mais??

Mas hoje (só hoje), eu queria ter 30 mil reais pra realizar um sonho já tão antigo que tá caducando de velho. Eu queria ter 30 mil pra gerar reflexão, educação, conexão. Fazer uma coisa bonita e oferecer isso pro mundo, pras pessoas serem mais felizes. E tô numa gastura terrível, porque a sensação de que o que eu tenho de bonito pra doar pro mundo está (em algum momento) diretamente ligado ao dinheiro é extremamente aflitiva. Estou com vontade de vomitar. E de gritar. Bem alto.

Esse idealismo ainda acaba me matando.
Puta que o pariu, mundo injusto do caralho!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Não: eu me nego a te reencontrar. Eu me nego a repetir padrões, a viver de novo o que já sei que não funcionou. Eu não quero olhar pela janela e ver o tempo cinzento, as flores murchas e a garoa orvalhando a grama.

Eu quero é deitar na grama. Tomar banho de lua, de sol, de mar e de música. Inundar meu mundo com acordes que caibam em uma só melodia, daquelas bem bonitas que você ouve e chora. E quero chorar muito. E me emocionar muito.

Não sei mais o que é real ou não. Não sei se o que sinto é real, ou se foi mera criação do meu cérebro, só pelo vício de sentir. Não sei se o seu olhar doce é real, ou se ele é mera mania de ser doce e apaixonante com o mundo. Não sei mais se as coincidências são sinais ou apenas acasos.

Deve ser uma doença grave.
Ou apenas sinal de que estou mais sonhadora. E isso só pode ser bom.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

o mendigo e o cachorro

Neste fim de tarde inusitado, andando na garoa como há muito tempo não fazia, curtindo o visual da minha avenida preferida, dei de cara com uma cena muito corriqueira. Sentados na calçada, um mendigo - pés muito pretos e barba longa - e seu clássico vira-lata mais fofo do mundo. Com um amor imensurável, o mendigo beijava o cão, fazia carinhos, afagava o bichinho até cansar, e repetia uma dose de beijos verdadeiros. Era tanto amor que transbordava daquele homem sujo, com frio, talvez com fome...! que eu pensei: talvez eu esteja sendo exigente demais com o amor.

Por via das dúvidas, cheguei em casa e agarrei a Vitória.
Só pra não perder o hábito.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

la nevera se muere

Minha geladeira dá sinais de falência múltipla de órgãos. O médico já veio aqui em casa visitar, tentou reanimá-la, mas não adianta. Ela quer mesmo se despedir desse mundo. Isso é ótimo e significativo em um momento em que estou mais é querendo esquentar a vida e descongelar tudo.

sábado, 18 de setembro de 2010


Chegando em casa de um dia de muitas emoções, detém seu olhar no espelho por alguns segundos, prende os cabelos com desajeito, enfiando uma piranha entre os cachos para lavar o rosto. A fronteira entre a loucura e a sanidade é muito (muito) tênue - pensa enquanto joga água fria sobre os olhos. Um pouco louca, um pouco sã. Seca o rosto. Sem condições de decidir nada, sem vontade de pensar em ninguém, nem de cantar, com preguiça do voyeurismo, das discussões conceituais, apaga a luz. E se lembra que, desde pequena, acha que seu penteado, feito no instante de lavar o rosto à noite, fica ótimo assim desprentecioso.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

amaciando

tô tentando não perder a mão
manter a calma, apesar da explosão
manter a doçura, mesmo na solidão

espalhar pétalas no corredor
para passos flutuantes
e silenciosos

perfumar meu cangote com gerânio
não deixar a tristeza se instalar

só passar

sorrir com a alma,
ouvir conselhos bons.

tô tentando não perder a mão:
quero achá-la na sua.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

terça-feira, 7 de setembro de 2010

shelter

Quando eu viajo pra cá, eu como muito (bem), bebo muito, durmo muito, faço muita yoga, tomo banho de rio e de mar. Quando eu durmo aqui, meus sonhos acordam frescos. Aqui é meu refúgio, onde abrigo minhas tristezas e me apaziguo. Na noite passada, sonhei com a mesa da sala que eu quero comprar. Era ela, exatamente bela como eu imaginei. Ainda não sei onde encontrá-la e nem quanto ela custa, mas agora ela tem forma. É engraçado como cores, texturas, formas e cheiros me confortam, ainda que só em sonho. E no meio do meu devaneio noturno veio a casa Battló, a Pedrera, o parque Guell, muito Gaudí, loucamente inspirador com suas formas e cores, e eu andando em corredores de vento.
Acordei pra outra viagem, pronta para recobrar a poesia em mais andanças, novos olhares, encontros e inspirações. E decidida a adiar um pouco mais a compra da mesa nova - agora ela já tem forma mesmo, né?

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

ressaca

Ressaca de paixão é a pior que pode haver.
Tô precisando de um banho de mar.
Urgente.
Tchau.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

sorriso

Fechei a porta e o dong tocou. Me contaram que o dong, quando vibra, deixa pra fora todas as energias negativas, protegendo a casa das coisas estranhas e mantendo aqui dentro apenas aconchego. Funciona mais ou menos como os sapatos, que eu tiro antes de passar a soleira, diariamente, para livrar o ambiente das cargas da rua.
Então, depois de um show louco, chocolate, massagem e longo abraço (e outro), você calça os sapatos e me deixa um sorriso no rosto. Permanente. Que até agora, 20 minutos depois, teima em quase me causar caibra nas bochechas. Me deixa com esse sentimento que não sei explicar - e que bom que é não saber explicar alguma coisa na minha vida! É bom e isso basta. Preenchimento. E sorriso.

onda

Hoje, no metrô, um menino lá sentado e muito compenetrado estudava física. No caderno dele estava escrito: "onda - propagação de uma perturbação através de um meio transferindo energia, mas não massa". Fiz questão de anotar, porque minha vida está sendo inundada por ondas de energias muitos boas.
Quase un tsunami, na real.
Amén.

domingo, 29 de agosto de 2010

pamonha de pirrrracicaba

como é que pode??? você aparece na minha frente e eu simplesmente muda, inerte, anestesiada, passo firme, vendo você ir embora... Esperando por um fondue que nunca aconteceu. Eu sou uma pamonha mesmo, uma pamonha de pirrracicaba, igual àquelas que cantavam no carro de som aos domingos quando eu morava no Paraíso.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

cadê você?

Teria dado uma boa foto: encostada naquela parede de um azul bonito, apoiada numa só perna, a outra dobrada com o pé sujando a parede azul - como as mães dizem que não pode fazer quando a gente é pequeno -, o olhar perdido entre gays, velhos, casais, finjo observar todo mundo entrando, mas só espero você descer as escadas sorrindo, carregando algum papel na mão como sempre, sinestésico como eu. Espero o seu olhar buscando o meu no meio da multidão, a breve aflição por pensar que eu poderia não estar ali encostada com o pé na parede azul bonita. E então, quando você entrasse, iria desviar o rosto pro chão e fingir que não me viu, só pra eu te ver primeiro e puxar teu sorriso. Aí você iria chegar certeiro em mim, sorrindo. E colocar os braços entre os meus ombros, prensando levemente meu corpo contra a parede azul, me deixando sem ar sem sequer precisar me tocar. E eu iria suspirar de alivio por você ter chegado, tão pontual, tão preciso nos seus gestos delicados, nos seus movimentos cotidianamente calculados.
Encostada na tal parede azul, o tênis sujando o azul que alguém pintou com cuidado, eu pensando "cadê você?". "vem, estou aqui te esperando, te procurando. te reconheço no meio dessa gente toda, pode vir!". Ganas de me fundir com aquele azul profundo, eu me perguntava "mas cadê você?". "por que você não chega? onde é que você está?". Os atrasados entraram apressados, repararam em mim, imóvel na parede azul bonita. Ao toque do terceiro sinal, suspirei, não de alívio, mas de cansaço. Desamarrei cuidadosamente os cadarços e deixei ali, ao pé da parede, meu all star vermelho. Pra se acaso você chegasse.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

leve, leve, leve

Andava pela rua levitando, soprada por um vento de fim de inverno. Apesar do ar sufocante, seu corpo parecia estar expandido, e ocupar toda a calçada. Sentia as pessoas passarem através de si, observavam sua falta de pressa. Confiante, firme no seu propósito de estar satisfeita, andava tão segura que nem um temporal poderia dissolver seu sorriso. Os passos eram palmas a ressoar no eco da cidade.

domingo, 22 de agosto de 2010

axé

Quanto mais eu vejo, conheço e sinto, mais me convenço de que é tudo a mesma coisa e vem da mesma raiz. Pode ser axé, amém, aleluia, babanam kevalam, shanti ou namaskar. Pode ser missa, festa, mantra, Deus, Baba, Allah, pastor, padre, rabino, pai de santo... tanto faz. O que importa é a energia vital, a intenção do pensamento, a força da crença. Na noite passada tive uma experiência muito bonita de encontro com a alegria, com a música, com a fartura. Cultuar, cantar, dançar, rezar, fechar os olhos, celebrar são coisas boas. E só podem ser de Deus.

sábado, 21 de agosto de 2010

silêncio

Apesar de todo o barulho, este é o momento de reencontrar-me comigo mesma. Não há nada para fazer, nenhum lugar onde ir, a marca do meu silêncio permeia tudo o que eu faço. Prefiro encontrar pessoas em sintonia com o meu silêncio, ou desfrutar da minha solitude para repousar internamente neste momento precioso.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

recortes

Não sei bem se este é o melhor momento de arrumar coisas, mas eu gosto de exorcizar logo: jogar fora o que tem que jogar (quase tudo) e guardar pequenos detalhes que me causem sorrisos instantâneos. Tava segurando um choro doído que não precisa ser segurado, muito menos guardado, e agora deixei tudo aflorar pra passar logo essa angustia que não tem razão de ser. Ao abrir a caixa enorme recheada de papéis, cadernos, fotos, lembranças, pincei algumas coisas que resolvi registrar aqui pra desempoeirar bons momentos no futuro.

Lá vai:

"A soma das partes é maior do que o todo. Os novos compromissos devem ser assumidos em prol do todo", Carlos Lopes, capacitação em Redes Sociais em 2007.


por Lourdes Alves, maravilhosa em 2007, 2008, 2009, 2010 (...), repartindo seus conhecimentos e dizendo sempre a coisa certa na hora certa.

"A capacidade de desenvolvimento de uma comunidade depende de seu 'estoque de futuro', do número de seus sonhos. O desenvolvimento é um movimento em direção a aquilo que não existe, mas pode existir se o prevermos", Augusto de Franco, capacitação em Desenvolvimento Local.

"Quando digo 'redes', são redes de pessoas. Por mais importante que uma institução seja, ela não fala, não sente, não tem dúvidas. Ela é formada por pessoas", Augusto de Franco, Fórum de Desenvolvimento Local 2008.

"A caricatura é um recurso do discurso explicativo", idem.

"O Massive Change não é sobre o mundo do design, mas sobre o design do mundo. Como o design que inventamos produz a cultura em que vivemos?", Bruce Mau, no Seminário Economia Criativa em 2009.

"Diversidade Cultural não é diferença. É o que a gente faz com as nossas diferenças. Precisamos criar um pertencimento e um compromisso das pessoas com a cultura", professor José Marcio Barros, em 2009.

"Eu que nada mais amo do que a insatisfação com o que se pode mudar, nada mais detesto do que a insatisfação com o que não pode ser mudado", frase do Brecht, trazida pelo querido Augusto, que agora deve estar se perdendo em algum canto delicioso da Europa.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

novo ciclo

hoje.uma.nova.eu.vem.dançar.nesse.universo.de.possibilidades.
samba.gafieira.tango.rock.

bem que podia ser aquela valsa que eu dançava no colo do meu avô.
estou precisando de alguém pra me ninar.

Mas amanhã é outro dia diferente.que.recomeça.latejando.no.vento.frio.
E há de fazer sol!
...

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

até o verão

Acordei o sol alto já aquecia o quarto. Uma fresta de claridade penetrava pelo blackout mal fechado. Espreguicei o corpo, nenhuma dor [sorri: raramente nada dói em meu corpo]. E neste momento único de se encolher e se esticar no lençol quentinho da manhã, piscando as palpebras lentamente pra deixar o mundo entrar aos poucos, lembrei do seu olhar desabando luz em cima de mim. E não sabia mais se era sonho ou memória aquele rio correndo forte, os seus braços fortes correndo pelas minhas costas, num abraço de não ter fim. Nós correndo sobre aquela ponte até o (des)fôlego fazer as pernas pararem, a espontaneidade dos gestos, a liberdade das palavras, e o seu olhar-feito-luz sem desviar, num misto de admiração, desejo, respeito e amor. O amor, outra vez, preenchendo os poros. Na nossa gana de buscar outras possibilidades de amor, a vontade de não ir embora nunca.
Apesar do frio, apesar da hora, apesar dos outros.

Olhei pro lado e encontrei anotado numa folha amassada sobre o criado-mudo: "até o verão...".
E ainda não sei se foi sonho ou memória.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

quem vai nem sempre volta

Voltei mas lá fiquei. Deixei meu coração no castelo, minha lágrima nos gerais, meu hálito nos lençóis.
Abaixo, impressões da minha última viagem.

dia 01

Sol escaldante na cara. As costas doem, os pés doem, a cabeça lateja, os joelhos falham. A paisagem é estonteante: algo muito, muito belo pintado por Deus na terra dos homens. Cruzamos o rio, último obstáculo. Já sem mais poder sustentar meu corpo em pé, desabo num choro de falência. Puxo o ar, soluço. O que é que eu vim fazer aqui? Rapidamente a cabeça explode em dor aguda. Seco os olhos, me levanto poeirenta e entro no passado. Uma casinha de taipa toda pintada de verde claro, e dentro dela um casal esquecido no meio do mundo encantando. Os grilos cantam a noite fresca que traz prosa regada a cachaça e comida caseira tão gostosa (mais gostosa do que a da minha avó!). Prosa de simplicidade, silêncios espontâneos e nada constrangedores. Vidas vividas abrindo caminhos. Despedida com beijos e doce de goiabada.
E eu choro, emocionada por tanta generosidade, zelo e amor.


não há lugar no mundo onde nossas pernas não possam nos levar

Hoje o sol não saiu. Pegamos a estrada cedo, acordei bem disposta, mas fiz só uma parte do caminho, respeitando meu limite. Ao mesmo tempo está sendo muito prazeroso perceber a capacidade de superar limites. Descobri uma planta chamada "pedestre" que faz um chá bom de beber nessas noites frias. Enquanto bebo, me dou conta: andar, andar, andar... e cada passo é uma aproximação de mim mesma.
Não há lugar no mundo onde nossas pernas não possam nos levar.
O mundo é meu.


Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.

António Machado

o fácil é difícil

Sou uma pessoa prática com as palavras, mas aqui não dá pra ser assim. É preciso deixar a língua solta e os ouvidos bem abertos para entender as sutilezas nas entrelinhas. Causos e mais causos contados nas cantorias das letras comidas, nas palavras emendadas. Para ser entendido, é preciso fazer perguntas simples, falar da família, da comida, do mato. Deve-se usar vocabulário simples, e isso é muito difícil para mim. Me sinto ridícula por achar uma coisa simples tão difícil, me sinto estranha por não saber fazer uma coisa assim tão fácil. Ao lado do fogão a lenha, observo a dona Lica fazendo pão e contando do filho que mora em São Paulo e que ela não vê há 5 anos.
Saudades e solidão. Em todo lugar.

sobre o (des)conforto

Do espelho eu sinto falta. Sinto falta do conforto, mas esse estado quase natural me faz relembrar de quão pouco é preciso para viver. Mas do espelho eu sinto falta. E percebi como me tornei vaidosa nesses últimos tempos. O cabelo, o rosto mais corado, sorrir para mim mesma. Gosto de ver minha imagem, a mudança no meu semblante, que deve estar mais relaxado, apesar de tantos esforços físicos. Na casa do seu Eduardo não há nenhum conforto, mas é muito aconchegante. Parece contraditório, mas é assim. Ele tem 82 anos, corta lenha e, todas as semanas, faz o caminho até o mercado no lombo de um jegue. Ele é movido a um “remedinho”, uma pinga que ele mesmo faz com 18 ervas. Quando chegamos hoje, às 8h da manhã, ele nos ofereceu. E nós tomamos ao som de um rasta-pé.
Depois, mais andanças.

a princesa e o castelo

Hoje a princesa subiu ao castelo. Acompanhada por seu bastão mágico (fabricado sob medida pelo seu Eduardo) e por seu fiel escudeiro, João Valentão, a princesa cumpriu sua missão. Não foi simples. O caminho era repleto de obstáculos e armadilhas de lama, grandes cascos de tartaruga disfarçados de pedra se moviam baixo seus pés. Abismos, grutas, chuva, toda sorte de desafios cruzou o caminho da princesa nesta manhã. Mas, ao chegar à caverna mágica, o céu se pintou de azul e um lindo sol veio brilhar. A princesa subiu até o cume mais alto de seu castelo. Da janelinha, avistou seu reino e se emocionou. Chorou de verdade ao ver aquela perfeição toda ali posta, como se todas as pecinhas tivessem sido minuciosamente encaixadas. Naquele momento, a princesa soube que seu reino é o mundo.

desapego, simplicidade, superação

Esse lugar não existe! É muita beleza... tamanha perfeição de cores e formas. Hoje andei 25 km. Minhas pernas estão pesadas, meus pés, imundos. Mas estou muito feliz por ter feito essa travessia. Consegui falar com Deus, entrar em contato com o que há de muito profundo em mim. Foi fisicamente extenuante. Caminhar exige um grau de concentração muito alto, talvez por isso tenha conseguido me acessar, atentar para mim apenas. Eu naquele momento e naquele lugar. Acabei estentendo minha estadia por mais um dia na casa de seu Wilson. Noites em volta do fogão a lenha tomando Abaira e jogando conversa fora - literalmente - se conhecendo, se entendendo, se respeitando. Natureza exuberante, laços humanos impagáveis.
Quero voltar a este lugar.

água doce

Hoje fui tomar sol na beira do rio. Ele desce com uma força alucinante, sem parar, como se por baixo houvesse um motor girando freneticamente. Tem chovido muito à noite, então ele se modifica dia a dia, engrossando, personificando a força da natureza. A água correndo faz um barulho insistente e alto, um pouco monótono, sem variações de tempo ou intensidade. De olhos fechados, ouvindo esse ruído, fiquei bastante tensa, receosa de que o rio pudesse repentinamente se encher e me carregar pra cima das pedras. Pensei no mar e nos ciclos das ondas, que fazem um ruído nada constante, e fiquei tentando entender a lógica das corredeiras, os redemoinhos e os pontos onde as águas batem uma, duas, três vezes... foi em vão.
Não consegui entender o rio, mas consegui sentir a sua força.

amor de viagem

Cada viagem é uma viagem única. Já (quase) no final desta, uma sensação de amor profundo preenche meu peito. Uma sensação que eu gostaria que não me abandonasse nunca, de gratidão por ter olhos para ver tantas belezas, por ter sensibilidade para me emocionar com elas; por me emocionar com o despertar da consciência, com a espera, com o inesperado, com a descoberta do que já sabia mas ainda não havia sido desvelado; por lembrar e sorrir; ver o arco-íris e acreditar que se pode encontrar o pote de ouro no fim dele. Emocionar-se por perder o medo, por ter força para andar, respirar a plenos pulmões; abertura para encontrar a ternura das pessoas; tempo para reavaliar comportamentos, sentimentos, escolhas; tempo para agradecer por tudo isso.
Então meu coração parece que vai explodir de tanto amor, preenchendo todos os meus poros, fazendo-me sentir viva a cada respiração, como se eu tivesse super poderes para fazer qualquer coisa.
Ainda que tudo se transforme, porque assim é a vida, que falte a grana, o homem da vida, o trabalho dos sonhos... que o amor nunca falte!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

linhas tortas

Sentimentos amplos com varanda
Pro interior

Cansei
De ter que ler amor nas entrelinhas

Nas lágrimas que me fecham portas
O amor que escreve certo em linhas tortas

terça-feira, 13 de julho de 2010

se sente pequena, tão impotente, cercada por tantas regras e sistemas. São Paulo não é mais o seu lugar - talvez nunca tenha sido. Mas ela fica se enganando, achando que pode passar por cima, ao lado, por baixo. E vai superando os próprios limites, como se respeitá-los fosse desrespeitoso. A superação é o lema do homem moderno.

Mas agora que o tecido tá esgarçado e a pele, já à mostra, mostra o que não se quer ver, o que fazer agora? Tanta fragilidade que haja creme nivea.

Cair não é tão ruim quanto ter que levantar. Levantar dói muito mais.

E apenas porque nada, absolutamente nada, parece fazer sentido e tudo parece se repetir ad infinitum ela não quer se levantar.

Tá?

segunda-feira, 12 de julho de 2010

eu, modo de usar

Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça dormir.

Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar.

Acordo pela manhã com ótimo humor mas… permita que eu escove os dentes primeiro. Toque muito em mim, principalmente nos cabelos e minta sobre minha nocauteante beleza.

Tenha vida própria, me faça sentir saudades, conte algumas coisas que me façam rir, mas não conte piadas e nem seja preconceituoso, não perca tempo cultivando este tipo de herança de seus pais.

Viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim para reconhecer-me um porto seguro, um albergue da juventude.

Eu saio em conta, você não gastará muito comigo.

Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa.

Respeite meu choro, me deixe sozinha, só volte quando eu chamar e não me obedeça sempre, que eu também gosto de ser contrariada. (Então fique comigo quando eu chorar, combinado?).

Seja mais forte que eu e menos altruísta!

Não se vista tão bem… gosto de camisa para fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço.

Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelos, os pelos do peito e um joelho esfolado, você tem que se esfolar as vezes, mesmo na sua idade.

Leia, escolha seus próprios livros, releia-os.

Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos.

Seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate que isto é coisa de gente triste. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes.

Me enlouqueça uma vez por mês, mas me faça uma louca boa, uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca…

Goste de música e de sexo. Goste de um esporte não muito banal.

Não invente de querer muitos filhos, me carregar pra a missa, apresentar sua familia… isso a gente vê depois… se calhar…

Deixa eu dirigir o seu carro, que você adora.

Quero ver você nervoso, inquieto, olhe para outras mulheres, tenha amigos e digam muitas bobagens juntos.

Não me conte seus segredos… me faça massagem nas costas.

Não fume, beba, chore, eleja algumas contravenções.

Me rapte! Se nada disso funcionar (…)

Martha Medeiros
in Cartas Extraviadas e Outros Poemas

quarta-feira, 7 de julho de 2010

tchááu!


do Orla, que nunca me deu minha ilustra de presente, mas parece que fez essa pra mim.

domingo, 4 de julho de 2010

dora

Hoje o almoço de domingo em família contou com um membro sui generis. Ela foi "adotada" pela minha vó Marina, lá nos idos anos de 1983, quando começou a trabalhar em sua casa como empregrada doméstica. Eu tinha uns 2 anos de idade. Minha nonna, com seu português mal ajambrado, tentava ensinar àquela então jovem menina do interior de Minas Gerais alguma palavra que fizesse sentido, a assinatura do próprio nome, ou a contar o dinheiro do paozinho francês. De pouco adiantou: Dora permaneceu quase completamente analfabeta. Mas passou a considerar a minha avó como mãe, e talvez tenha sofrido mais do que todos nós quando ela se foi, em 1992. Acompanhou de perto o câncer da sua mãe de adoção, suas idas e vindas do hospital, cuidou dela como uma filha devotada. Me viu crescer e nutriu por mim o amor de uma irmã mais velha. E nunca perdemos o contato. Para ela, eu continuo sendo a Nina, aquela menininha de 3 anos. Aos meus olhos, ela não envelhece, apesar de seus 51.
Só que Dora parou no tempo. Com sua voz de criança, ela fala da minha avó no presente, como se ela ainda estivesse viva, e sua mente oscila entre a racionalidade lúcida e o seu mundo de palavras inventadas. Hoje por exemplo, ela disse que a atual patroa quebrou a "veícula", querendo dizer "clavícola". Também tentou explicar o que ela chama de "dinheiro grudado" - uma nota de R$ 20,00 que na verdade são duas de R$ 10,00 grudadas. Será isso?!? Ela começou a ficar nervosa tentando se explicar, então achei melhor entender assim...
Este mundo é muito confuso pra ela. Não é loucura, é um "mundo-dorado" todo particular, misto de ingenuidade infantil e manias de uma pessoa bem velhinha.

Os domingos ficam muito mais genuinos e generosos quando ela está por perto.

Quando olho pra mim não me percebo
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.

Álvaro de Campos
Três sonetos (1913)
in Poesia Completa

sexta-feira, 2 de julho de 2010

tudoaomesmotempoagora

socorro: férias. Preciso sair dessa cidade maluca, que nunca, nunca, nunca dorme. Inclusive eu não durmo, fico aqui pensando na viagem, no trabalho (ou na falta dele), no frila, no tás a ver?, no imbecil com quem saí na semana passada, no outro com quem saí na semana retrasada. Rememoro os encontros de ontem, as cervejas de hoje. Concluo que a minha vida é muito boa e o mundo tá muito gay, caramba! ... o canto, a conta bancária, todas as coisas que ainda quero fazer, todas as que quero deixar de fazer. E no que vou ler nas férias. Hoje fui ver "Empoeirados" no Oficina. Fazia anos que não ia lá e que não ouvia uma das músicas que eles cantaram na peça, canção tão doce, como tudo que a Ceumar faz. E essa música me trouxe outro pensamento: que a arte existe pra nos lembrar de que estamos vivos. São Genésio, conceda a todos o ganha pão, para que não nos esqueçamos da vida.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

.

a pontuação que eu emprego no livro não é acidental e não resulta de uma ignorância das regras gramaticais. O senhor concordará que os princípios elementares de pontuação são ensinados em qualquer escola. Estou plenamente consciente das razões que me levaram a escolher essa pontuação e insisto que ela seja respeitada.

in Clarice,
de Benjamin Moser
pág. 306

sábado, 26 de junho de 2010

à margem

Acho que foi o Alessandro Buzo quem falou um lance bem bacana sobre a marginalidade. Ele disse que esse conceito está etmologicamente ligado às margens do rio: quando você está nadando contra a correnteza, é mais fácil você sair do rio e ir andando pelas margens do que, basicamente, morrer tentando.
Eu fiquei com essa imagem tão bonita na cabeça, faz meses já que eu tou pra escrever isso aqui... E hoje saquei que essa coisa de sair do rio e começar a galgar um caminho a parte serve não só para pensar as nossas malditas desigualdades sociais, mas também para momentos pessoais.

Chegou o momento de se retirar. Chega de fazer um esforço enorme.
Vou começar a caminhar nas margens.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

sobre o Amor

Desde ontem tô emocionada. Uma sensação de bem-estar me tomou repentinamente, insistindo em conviver com aquela melancolia habitual, o que, ao invés de me entristecer, está me emocionando.
Só pode ser o Amor.
No começo da aula de ontem, a Tita, inspiradíssima em mais um de seus downloads divinos, falou palavras lindas sobre o Amor. Palavras que me fizeram chorar. E como nunca antes, a certeza tão certa de que é muito mais; de que esse que conhecemos, esse Amor condicional que nos ensinaram a sentir... não é nada disso!
Amor é incondicional. E só quem sente ou já sentiu, vai entender do que estou falando. Eu falo de um Amor imensurável por todas as coisas deste mundo, mesmo as que parecem ser ruins. Com esse tipo de Amor é possível ao menos compreendê-las. Eu falo de um Amor que é superação, liberdade, predisposição.
Então, o claro entendimento: até hoje, muito do Amor que eu senti não era ESSE Amor! Daí a incompreensão, a mágoa, os medos.
E isso não tem nada a ver com Amor...

Hoje o dia foi muito legal.
Estou me sentindo livre.

terça-feira, 22 de junho de 2010

sorria!

Com frequência eu me lembro da voz da Didi, suave, falando pra gente manter um semblante sereno durante a meditação - quase esboçando um sorriso leve para suavizar a expressão. Sempre que essa orientação sopra no meu ouvido, onde quer que eu esteja, procuro segui-la, e percebo como isso causa uma mudança imediata no meu estado de espírito. Hoje de manhã, vindo para o trabalho, olhei para as caras das pessoas no ônibus, todas amarradas, sisudas. Mas havia um jovem senhor, de aparência muito simples, cuja face inteira sorria: os olhos, a tez, os lábios, as sobracelhas, todos os ossinhos do seu rosto pareciam estar em formato-sorriso. Então nossos olhares se cruzaram e por impulso eu também sorri, na tentativa de espalhar por aí um pouco da leveza que há de nos livrar deste torpor cinza.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

se

Se por acaso
A gente se cruzasse
Ia ser um caso sério

Você ia rir até amanhecer,
Eu ia ir até acontecer

De dia um improviso,
De noite uma farra

A gente ia viver com garra
Eu ia tirar de ouvido
Todos os sentidos

Ia ser tão divertido
Tocar um solo em dueto

Ia ser um riso
Ia ser um gozo,
Ia ser todo dia
A mesma folia

Até deixar de ser poesia
E virar tédio
E nem o meu melhor vestido
Era remédio

Daí, vá ficando por aí,
Eu vou ficando por aqui,
Evitando, desviando,
Sempre pensando,
Se por acaso a gente se cruzasse

[Alice Ruiz]

domingo, 20 de junho de 2010

tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu. A gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu?

sexta-feira, 18 de junho de 2010

confissão

Uma frase improvável varreu o meu pensamento nas últimas horas. Como aquele tom de galanteio de sempre, ele disse: "Você tem cara de apaixonada". Achei que fosse uma saída bem bolada para uma pergunta não respondida, mas me garantiu que não, que o que queria dizer era: "Você tem cara de apaixonada - pela vida!".
Não consigo intuir o que isso significa para ele... seriam meus olhos úmidos de céu azul, seria minha pele corada, minha gestualidade mediterrânea, ou meu sorriso largo? Talvez minha ironia cortante, minha franqueza reta? Ou minha espontaneidade excessiva? O que me faria parecer "apaixonada" aos seus olhos? Não sei.
Mas sei o que essa frase significa para mim: que, na maior parte do tempo, eu sou genuinamente eu mesma: vibrante com a novidade. Vidrada pela subversão. Tenho em meu signo, em minha tez, em minha voz, a necessidade de transformar. E a paixão é o motor dessa necessidade, full time. Sou movida a esse combustível assustador, que nunca se esgota. E que amedronta pela sua força.
Essa sou eu, apaixonada confessa.


Ilustração de Roberto Weigand

terça-feira, 15 de junho de 2010

estranha beleza

2010 está estranho. Estou meio amarga e ranzinza: meu olhar, que estava acostumado a ver o copo meio cheio, agora voltou a flechar pessimista e descrente. Ando muito realista e pouco sonhadora. São Paulo me parece insuportavelmente atraente: quero fugir, mas desejo ficar. A música, essa me escapa pelos dedos, e não consigo ver tanta poesia como antes.
Apesar de tudo, há uma estranha beleza no ar gelado. Desafios, escolhas, encontros. Coisas bonitas mesmo. Amanhã meu pai está voltando, depois de sete anos fora do Brasil. Ele está feliz como uma criança e pediu até pra eu ir buscá-lo no aeroporto - coisa pra qual ele não liga a mínima. Apesar do intenso frio e da baita gripe que me pegou, os dias têm sido de um azul muito azul - e eu adoro dias muito azuis. Daqui a 29 dias eu saio de férias e as possibilidades são infinitas (e todas bonitas). E na sala ao lado mora uma pessoa realmente querida, que estou aos poucos conhecendo e descobrindo, surpresa das melhores desse outono. A Vitória se esgueira por entre as minhas pernas enquanto escrevo. Mia. Ela quer conversa, lindeza.
E agora pouco, fui até a cozinha buscar um chá e dei de cara com a máquina de lavar transbordando sabão por todo lado, borbulhas brancas descontroladas. Isso podia ser muito chato, mas eu dei risada, e atentei pro doce perfume de roupa lavada que ficou na minha casa. Estranho, mas belo.

domingo, 13 de junho de 2010

limite

Algumas coisas demoramos a perceber e, às vezes, já é tarde para trocar de percurso. O limite é uma grande placa vermelha, quando o coração bate diferente, quando a realidade parece ser sonho, quando você se dá conta de que não faz a menor ideia do que vai acontecer nos próximos míseros 5 minutos.
Eu adoro um amor inventado.
Pra mim é tudo ou nunca mais.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

enquanto eu aqui, insone,
você aí, sem luz nem paz.

eu aqui, sem chão, com frio
pensando em abrir o portão e rodar como na Valsinha de Vinicius.

você aí, dormindo e sonhando
enquanto eu desaprendo a sonhar para me salvar.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

45 horas

Eu queria que meu dia fosse mais longo pra eu poder fazer tudo o que eu gosto - e ainda assim não daria tempo. Aula de canto, de percussão, de yoga, pós-graduação, trabalho oficial, trabalhos oficiosos, coletivos, boemia, projetos, fotos, blog, namorar (de vez em quando), correr, conversas prolongadas com amigos distantes, emails para responder, cursos, livros para ler, cozinhar, ir ao teatro, ao cinema, ao show, jantar com a minha mãe.
Eu queria que meu dia fosse mais longo, mas ele tá ficando cada vez mais curto.
Acho que tô precisando de férias.

domingo, 6 de junho de 2010

amigos e amantes

Minha mãe sempre me diz: "Escolha um homem para dividir a sua vida com quem você possa sobretudo conversar, porque isso é o que fica. Todo o resto passa".
De fato, é bom que nossos amantes sejam realmente nossos amigos, companheiros com quem possamos dialogar sobre tudo, e que todas as conversas sejam um tesão. É um tiquinho mais complicado quando nossos amigos se tornam nossos amantes. Difícil entender que a lógica mudou, que passamos a ter outro tipo de intimidade, que temos que compreender outras manias e razões. Perde-se a espontaneidade tão mágica da amizade, as alfinetadas bem dadas, as provocações. As reações passam a ser calculadas: já não é mais só um amigo, agora há outros interesses em jogo. E à amizade se sobrepõe então o jogo da sedução. Perde a graça.
Mulheres do mundo: mantenham intactos seus amigos!

sexta-feira, 4 de junho de 2010

on the road

Recebi hoje do Gui por email e gostei muito.

"Eu só confio nas pessoas loucas, aquelas que são loucas pra viver, loucas para falar, loucas para serem salvas, desejosas de tudo ao mesmo tempo, que nunca bocejam ou dizem uma coisa corriqueira, mas queimam, queimam, queimam, como fabulosas velas amarelas romanas explodindo como aranhas através das estrelas".
[Kerouac, On the road]

Gostei porque concordo - eu só confio nos loucos pela vida. Mais do que só confiar neles, só eles me apaixonam. Gostei também porque eu sou assim: queimo, queimo, queimo, até explodir através das estrelas. E se não for assim, não sou eu. Um pouco de loucura e muita autenticidade.

De vez em quando, eu tenho a sensação de que você nunca passa(rá). Já faz tanto tempo e tudo parece ontem, memórias tão malditamente frescas... me lembrei de quando assistimos ao filme sobre o kerouac, poeta do submundo. Foi no sitio da Pauli, naquele fim-de-semana-felicidade-sem-fim. Não raro me refiro a você como o grande amor da minha vida. Nem sei mais se isso é verdade, ou se eu me acostumei a esta ideia. Talvez eu devesse parar de dizer isso, quem sabe me esqueceria desse amor que um dia existiu forte como um carvalho.

Quem sabe eu me esqueceria de que te amei porque você é exatamente esse: louco pra viver, louco para falar, louco para ser salvo, desejoso de tudo ao mesmo tempo, que nunca boceja ou diz uma coisa corriqueira, mas queima, queima, queima, como fabulosas velas amarelas romanas explodindo como aranhas através das estrelas.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Dorothy Lamour

A cidade me engole, pareço viver três dias em um. Encontro pessoas de universos diferentes em um curtíssimo espaço de tempo, faço milhares de coisas, preencho meus sentidos com tudo o que chega. Antropofagia pura. Os dias têm sido frenéticos, é preciso me manter aquecida desse frio medonho. Eu sei me entreter, não posso negar, às vezes passo da medida. Hoje, por exemplo, meu dia durou 18 horas - e foi dividido em muitas partes legais. Uma delas foi assistir "moi, un noir" do Jean Rouche com a Ju e com o Tato. Sensacional! O cara é um gênio, o filme é simplismente uma piração, desde a concepção, até a linguagem e a edição. Uma abordagem extremamente política sem ser maçante, muito pelo contrário, utilizando bom humor e leveza. Roteiro primoroso.
A única coisa que eu realmente mudaria é a decisão final da Dorothy Lamour. Grande sacanagem, porque o Constantine realmente gostava dela. Mas como o filme imita a vida, tá tudo certo: as pessoas que se gostam também tomam decisões equivocadas.

terça-feira, 1 de junho de 2010

cutucando

Apesar de toda poesia, de tanta música, apesar de olhos inundados pelos brilhos da noite molhada. Apesar dos encontros fortuitos, do bom teatro, dos emails agradáveis, apesar das fotos antigas revisitadas, das respirações profundas. Apesar de ter finalmente conseguido começar a ler a biografia da Clarice. Apesar de tanto Noel Rosa. Apesar de tanto, apesar de tudo, un buco profondo.
Minha inspiração foge quando você não está por perto.

vazio agudo
ando meio
cheio de tudo.
{Leminski}

segunda-feira, 31 de maio de 2010

um navio no espaço

Acreditei que se amasse de novo
esqueceria outros
pelo menos três ou quatro rostos que amei...
organizei a memória em alfabetos
como quem conta carneiros e amansa
no entanto flanco aberto não esqueço
e amo em ti os outros rostos.
Ana Cristina César
[Contagem regressiva in Inéditos e Dispersos]

Brilhante e imperdível.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

tás a ver?

é assim que a gente trabalha...



+ em tasaver.org

terça-feira, 25 de maio de 2010

de como conhecer as pessoas

Tenho conhecido muita gente que não me faz perguntas sobre o que faço da vida, onde estudei, quem namorei, que países conheço... nada. Ou quase. Isso é um pouco irritante. A conversa flui sobre a superficialidade do momento, sobre as observações circuntanciais, ou sobre a história do outro - porque eu sou muito perguntadeira.
Até outro dia, considerei esse comportamento como um desinteresse do outro por mim. Mas nessa minha mania de aprender uma coisa nova a cada dia, descobri que existem diversas formas de acessar alguém.

A pessoa é o que é, não só o que conta ser. E uma das formas de saber quem ela é, é descobrir isso sozinho, não por meio da explicação dela mesma. Enquanto eu te conto coisas sobre mim, o que fiz, com quem andei, o que gosto de comer e assistir, você cria uma imagem minha na sua cabeça. As respostas e as explicações nos enchem de pré-conceitos.

Não saber é mais bonito, nos força a começar novas histórias, a nos re-conhecer.

A pessoa é o que é - e inevitavelmente carrega consigo o que viveu.

domingo, 23 de maio de 2010

bora pazear?

PAZEAR: verbo intransitivo - (jog.) jogar à paz, para desempate. Estabelecer paz ou harmonia.

Essa língua portuguesa é mesmo uma maravilha...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

encontros e despedidas

Há pouco menos de um ano, despedimo-nos sem nos tocar e sem nos ver.

Hoje, com um longo abraço emocionado.
- Que sua viagem seja um recheio para sua alma.
- ...já está sendo, mana.

...coisa que gosto é partir sem ter planos, melhor ainda é poder voltar quando quero. E assim chegar e partir são só dois lados da mesma viagem. O trem que chega é o mesmo trem da partida. A hora do encontro é também despedida. A plataforma dessa estação é a vida desse meu lugar.
Milton Nascimento

terça-feira, 18 de maio de 2010

desconhecidos

Anos depois, eles se reencontram. Dois desconhecidos na multidão. Na noite branca, o canto dos vendedores ambulantes e o coro da platéia se ressaca à neblina nos olhos de outono da cidade. Mantém a continência de dois militares. Olham-se fixamente como se já há muito tempo se conhecessem, mas na verdade, nunca até aquele momento haviam se reparado. Nunca ele havia visto a pequena pinta no canto direito do seu nariz. Ela não imaginava que ele fosse capaz de se afundar na sua intimidade tão rapidamente. O desejo os consome por dentro. Em rápidos flashes, passam imagens do futuro, cenas de uma vida por viver.
Uma vida tapeada, enganada, nunca consumada?
Vida palpitante, rasura certeira no destino da gente que parecia já escrito?

O amor quando acontece
A gente esquece logo que sofreu um dia.
João Bosco

domingo, 16 de maio de 2010

sombras

A filha de um amigo, quando pequena, morria de medo da própria sombra. "Era difícil lidar com isso", explicou, "porque a sombra está sempre com a gente, né?!".
A menina vivia correndo da própria imagem refletida no chão, na parede, onde quer que fosse. Me deu um arrepio ao ouvir esse relato, não pude evitar metáforas com as neuroses da nossa vida adulta: inconscientemente, passamos grande parte dela fugindo das nossas sombras. Temos a ilusão de termos nos libertado do medo infantil da nossa imagem refletida, associando-a a fantasmas ou coisas do tipo, mas quando crescemos são os outros que personificam nossas sombras. E, ao encontrá-las, dificilmente conseguimos lidar com elas, acolhê-las, enxergá-las como uma extensão do nosso corpo. Morremos de medo, exatamente como a filha do meu amigo. A partir daí é uma sequência de boicotes, fugas, desculpas, até que finalmente acreditamos ter conseguido nos libertar delas.
Não se iluda: elas voltam, reflexos de estilhaços que foram varridos pra debaixo do tapete, borrões que não foram bem apagados, lembranças de um tempo bom.
Por isso não devíamos ter medo das nossas sombras e muito menos tentar a fuga. Na verdade, elas servem pra nos dar a luz.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

olhos ardendo vermelhos inchados

é difícil se deparar com a mesquinharia humana.
Mas basicamente:

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!

[Mário Quintana]

terça-feira, 11 de maio de 2010

faça desse drama sua hora

Esses meninos... ai ai, viu?!

domingo, 9 de maio de 2010

como?

É que eu já escrevi tanto sobre isso que nem sei mais como fazer, que palavras usar, como inovar na abordagem. Não quero parecer queixosa sem motivo, rebelde sem causa. Pelo contrário, tenho uma causa enorme: o amor. Eu ainda acredito no amor. Hoje afirmei que você arrancou minha ingenuidade, mas me enganei. Continuo sendo uma sonhadora, idealista e romântica. Não obstante tudo o que me aconteceu, o que tem acontecido e o que eu vejo acontecer aos outros, eu ainda acredito que as pessoas (me incluo nessa categoria) possam se encontrar e ser realmente felizes por muito tempo - quiçá "para sempre". Mas não entendo porquê a vida insiste em querer me convencer do contrário. Juro que tenho tentado olhar para frente e sentir manifesto no mundo o amor que levo (literalmente) no peito. Mas não suporto mais desencontros, abandonos, falta de consideração. Fugas, desculpas. Eu sou uma pessoa legal, não mereço isso. Eu não faço isso com os outros. Então eu fico me perguntando como. Como manter a crença no amor? Como continuar acreditando nos encontros, na coragem de encarar? Como fechar os olhos e continuar vislumbrando um dia de sol e o seu rosto tão bonito se aconchegando no meu peito?

Como?

Hoje eu tô triste e não consigo encontrar respostas.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

os últimos dias

meu querido, me descuidei um pouco de ti nos últimos dias. Mas não de mim. De mim tenho cuidado com afinco: tomo bastante sol, faço questão de continuar abraçando o mundo, porque descobri que assim sou (abraçadeira), e todo dia aprendo alguma coisa nova, o que me dá muito prazer. Nos últimos dias, fiz algumas breves viagens, pra dentro e pra fora. Nas duas modalidades novamente percebi que o tempo é mágico: cura, restaura, religa. Marquei a data das minhas férias e estou aprendendo a olhar as planilhas com menos desprezo - agora olho com indiferença mesmo. Continuo passando hidratante no corpo todos os dias, comprei um par de sapatos vermelhos incríveis, iniciei um ciclo de expressão de potenciais com a rita. Nos últimos dias eu até me apaixonei um pouco, recobrei o otimismo de tempos atrás, que andava perdido por aí... e sabe o que mais?! Os últimos dias foram muito bons!
Preciso vir aqui com mais frequência para contá-los.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

(cada vez mais) apaixonada pelo Rio

É demais! Demais, demais, demais. Hoje, decolando do Santos Dumont, a beleza daquela cidade me encheu os olhos. Me emocionei novamente com ela, com suas curvas perfeitamente sinuosas, com seus montes das pontas arredondadas, com sua majestosidade malandra. Um arcoíris. Uma mulher linda, sedutora, com saboneteiras e nádegas. "Nádegas é importantíssimo", escreveu o Vinícius.
Aliás, eu acho que não foi pra mulher nenhuma que ele fez esse poema: foi mesmo em homenagem à sua cidade.
Maravilhosa, com todos os seus defeitos.

Foto da Baia de Guanabara a partir de Niterói

sábado, 24 de abril de 2010

lindo, conciso e preciso

"Our culture embodies the sense we make of our lives; it is built on the values we share and the ways we come to terms with our differences; it deals with what matters to people and communities: relationships, memories, experiences, identities, backgrounds, hopes and dreams in all their diversity. And most of all, our culture expresses our visions of the future: what it is we want to pass on to future generations. Our culture connects our present with our pasts and with the future we imagine. It is with culture that we make the connections, the networks of meanings and values, and of friendship and interest, that hold us together in time, in place and in society. Our culture describes the ways we tell each other our stories, how we create our sense of ourselves, how we remember who we are, how we imagine who we want to become, how we relax, how we celebrate, how we argue, how we bring up our children, the spaces we make for ourselves. Our culture is the expression of our desires to be happy, our desires to belong, our desires to survive and, above all, our desires to be creative".
Jon Hawkes - 2003

sexta-feira, 23 de abril de 2010

tá tudo bem!

...MELHOR PRA SE ENCONTRAR
É VER COM QUEM
E ONDE QUER ESTAR...

terça-feira, 20 de abril de 2010

quinta-feira, 15 de abril de 2010

botar reparo

Ontem (que ainda é hoje) o dia começou mal. Muito mal.
Aquela sensação de desamor voltou. Não encontrava forças nem para falar com Deus. Entrei no banho, a água muito quente caindo sobre meus ombros e nenhuma vontade - nem de chorar, nem de rezar, nem de morrer, nem de sair debaixo do chuveiro.
Mas uma luz da manhã entrou pela porta: apertou minhas mãos em prece e me disse que tudo ia ficar bem. Recobrei então um fio de confiança e saí para encarar o mundo.
No meio da tarde, duas surpresas botaram reparo na minha tristeza:
-um ato de muita generosidade e amor;
-um encontro improvável, mas absolutamente sensato.
E o dia terminou muito bem.

Agora, ontem já é hoje, e vai começar bem.
Mesmo.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

ela

...é que eu não sei direito o que está acontecendo, não estou conseguindo organizar as coisas [meu elemento dominante é "ar", então não saber como organizar as coisas não é propriamente confortável...]. Me lembrei de uma frase que não lembro quem falou: "escrever torna o fardo mais leve". Acho que é por isso que eu escrevo, pra entender que a vida é totalmente alheia às nossas vontades. Vai acontecendo por sua conta e, quando você vê, já está lá: céu azul na manhã de outono, esperando o farol abrir, ar fresco e felicidade no rosto. Felicidade porque eu nasci assim. E porque essa coisa de encontrar no fundo do pulmão o último fio de ar está me enlouquecendo de prazer e de felicidade. Essa mania de insistir em versos perfeitos, essa busca pela síncope, o desencadear mágico de sílabas, a conquista prazerosa, o processo doloroso... eu não sei porque tudo isso está acontencendo comigo.

Mentira, eu sei sim: porque a arte existe para nos dar a vida.

terça-feira, 13 de abril de 2010

jairo bouer

Não deve ser fácil ser o Jairo Bouer: o cara dá dica de sexo pro Brasil inteiro, manja tudo sobre o assunto, não tem nenhuma duvidazinha... imagina a mulherada caindo em cima com a expectativa dele ser um fenôôômeno na cama???
...quer dizer, eu não sei se ele é casado, ou gay, mas, de qualquer forma, não deve ser fácil ser o Jairo Bouer.
Mó pressão, hein?!

domingo, 11 de abril de 2010

cristovão de burgos

Ao passar pela rua cristovão de burgos, cruzando a heitor penteado e desembocando na avenida pompéia, parece que estou realmente entrando num mundo encantado só meu. Gosto desse momento, o farol sempre vermelho, a espera num cruzamento meio obscuro, que em breve será ocupado por mais um prédio muito alto com apartamentos apertados que valerão mais do que eu posso pagar por terem um CEP da Vila Madalena e por estarem do lado do metrô (...).
Mas eu gosto desse cruzamento: ele representa a transição para minha casa, como se estivesse me enrolando num edredom macio num dia frio.
Depois de passar por aquele farol, nada consegue mais ser linear. Lembrei da professora Raquel, primeiro ou segundo ano de jornalismo. Para ilustrar um case de insucesso em seus tempos de estudante, ela contava que teve a ideia de fazer uma reportagem sobre alguns dos nomes bizzarros, curiosos, famosos das ruas de São Paulo. Lembro dela dizer que acreditava que aquela fosse uma pauta genial, achava que as pessoas iam se interessar por saber quem havia sido "cristovão de burgos", por exemplo. Por isso batalhou, apurou, escreveu, mas foi um fracasso: o diretor do então jornal estudantil vetou o texto, alegando não ter nenhum tipo de apelo. Não sei porque lembro sempre dessa história quando decoro o nome de uma rua...
Lembrei que sonhei com o Pedro na noite passada, mas não lembro exatamente o que. Aí me lembrei da mãe da Helô falando de superego nos sonhos e depois do seminário de hoje de manhã, em que a Vivi mencionou que conseguiu entender mais sobre seus próprios sonhos depois do texto da Eclea Bosi, decidi que vou ler. Pensei que me auto-boicotar virou um hábito e as recentes experiências só fazem reforçar essa necessidade, como se assim conseguisse me proteger das enfermidades exteriores. Das loucuras, dos acasos, dos tombos. De fato me protejo. É uma opção cara. Não tenho muitas vontades, atualmente. Não tenho muita paciência pra noites sem luar.
Aí eu dobrei na rua diana e fiquei pensando em como você é bonito. Tão bonito que até dói.
ai...

sábado, 10 de abril de 2010

... é que eu sou alérgica à solidão. E, por mais venenosos que sejam os homens, são o único antídoto capaz de me curar.

IN ON IT
Com: Emilio de Mello e Fernando Eiras
Direção: Enrique Diaz
Texto: Daniel MacIvor
Vencedor do Prêmio Shell RJ nas categorias ator e direção.
(fim de temporada no Teatro Faap, mas reestréia no Eva Herzt em 07/05). Não percam!

sexta-feira, 9 de abril de 2010

segunda-feira, 5 de abril de 2010

doida

Há textos teatrais que deveriam ser vistos por todas as pessoas. Sobretudo pelos que, como eu, questionam sua própria lucidez em tempos tão árduos de convivência humana. Pelos que, também como eu, sentem um deslocamento quase perene em relação a estes tempos. Deslocamento geográfico, temporal, atmosférico: incompletude de sentidos.

Sim, sou doida. Sou poeta, sou artista, sou visceral, sou extrema. E por vezes sou vil, como todos os seres humanos. Amo a vida, no entanto muitas vezes desejo morrer. Porque para viver eu preciso de poesia. E quero ver poesia em torno de mim. E quando ela me falta, falta-me o ar.

Sou doida por acreditar que a arte é um tratamento de choque para jogar as pessoas na sensação, para tirá-las desse estado de torpor.

Doida por amar demais, por me apaixonar demais, por achar que o que aconteceu na verdade não aconteceu. Ou vice-versa, mas não importa.

Doido esse coração de tanto doer.

Doido
de Elias Andreatto
Teatro Ágora
sáb (21h30) e dom (18h)
até 30/05

sábado, 3 de abril de 2010

neném

Nesses tempos de excessiva ansiedade percebi que tem uma coisa que me faz pausar. Não consigo conter as lágrimas ao ver um recém-nascido. Posso ficar contemplando por horas em silêncio aquele serzinho perfeito, a paz da sua breve respiração, os pés (enrugadinhos), as narinas (tão pequeninas), a maciez da pele, a moleza do corpinho ainda desprotegido, os olhos entreabertos para o mundo. Ontem fui visitar a Mel na Promatre. Ela nasceu na quarta-feira - calma, encantadora e saudável. Fiquei um tempo em frente à maternidade esperando a Ciça chegar e me enchi de esperança ao ver muitas grávidas felizes, muitas recém-mães felicíssimas, muitos recém-pais cuidadosos e amorosos. É incrível essa energia. E como se não bastasse a emoção de ter visto a Mel e a Maria Paula e ter partilhado da felicidade delas, eu também vi um neném nascendo! Porque lá na ProMatre eles têm umas salas cirurgicas com vidro e você pode assistir aos partos. É uma piração! Fui parar lá por acaso, quando saí do elevador meio sem direção tentando achar o quarto da Maria Paula, dei de cara com esse corredor de vitrines. E exatamente neste momento um bebê estava vindo ao mundo. Foi comoção generalizada, vó, tia, amigas... dentro da sala, o pai se acabava em lágrimas e beijava sem parar a esposa, numa das cenas mais doces que pude presenciar nos últimos anos. Em estado meio catatônico, as lágrimas jorravam involuntariamente dos meus olhos, felicidade sem fim.
A vida é realmente um milagre.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

quarta-feira, 31 de março de 2010

a complexidade de ser simples

Ser simples é difícil, porque custa tudo o que a gente tem.
Para ser simples, é preciso perder tudo.
Por isso optamos por ser complicados, é mais fácil.
E nos esquecemos da simplicidade.

domingo, 28 de março de 2010

amanhecendo

O céu furta-cor traz o ar fresco da manhã
Gosto da aurora, como gosto do entardecer
Sou boêmia e diurna
Gosto mesmo é de viver.

sexta-feira, 26 de março de 2010

matemática da vida

Trinta e poucos anos, provavelmente classificado pelo IBGE como "pardo". Mãos grossas, calejadas, com permanentes resquícios de tinta branca. Julgo que fosse pintor de parede. Sacolejava no barulhento 7228/10 sentido Pinheiros e levava aberto um livro de matemática antigo, daqueles de capa dura e papel couchê usados nas escolas públicas na década de 70. Apesar das páginas levemente amareladas, estava bem conservado. Passeava com a ponta de um lápis mal apontado pelas formas arredondadas: estava no capítulo de "conjuntos". Detinha-se especialmente no entendimento das intersecções. Voltava para a página anterior, repetia mentalmente o racioncínio acompanhado do lápis mal apontado, virava a folha, fazia um leve sim com a cabeça, logo um não. Fechou o livro, num misto de cansaço e resignação, para contemplar a paisagem molhada da cidade que o ônibis rasgava sem dó.
Fiquei então imaginando qual seria o valor daquele aprendizado: conjuntos matemáticos pura e simplismente, descontextualizados de qualquer elemento com que aquele sujeito pudesse estabalecer conexão. Nunca fui boa aluna de matemática e carrego até hoje o ônus disso. Reconheço a importância do desenvolvimento do raciocínio lógico e analítico, talvez o modo como me foi ensinada a matemática foi tão equivocado quanto o que está sendo ensinado àquele jovem senhor no ônibus. Entrei na minha utopia diária de pirar sobre como as coisas poderiam ser diferentes (e mais legais!), de como poderia ser mais interessante compreender (e vivenciar) os sistemas, os conjuntos, os elementos matemáticos como representações gráficas das nossas estruturas sociais cotidianas, da nossa condição de indivídios inseridos na coletividade. E daí as intersecções, a riqueza e a multiplicidade de possibilidades que elas trazem: milhões de cruzamentos, reencontros, enlaces, nuances, níveis de profundidade. Gostaria que tivessem me ensinado matemárica assim.
a + b = X não significa nada.
eu + você = nós. Isso é muita coisa.

quarta-feira, 24 de março de 2010

o que muda quando algo muda?

Corte Seco é sobre os cortes que podem mudar tudo. Acasos. Perdas. Encontros. Desencontros. Acidentes. Repetições. Pessoas que passam. Passagens. Ruas e avenidas. Vigilância. Fragmentos da vida? Janelas. Muitas janelas. O que tem por trás? O que tem por trás do que não vemos? Nós voyeres de nós mesmos. Teatro. Essa pequena sociedade que se forma a cada dia. Atores e personagens. O que tem pro trás do que não vemos? A estrutura aparente. Transparente. Visível. O jogo mostrado, vivido, ao vivo. O corte em cena, como na vida, será inesperado. Como na vida, o teatro um jogo sem rede. Risco. Risco. Risco no chão. Corta. Corte Seco, ainda sangra? Sangra. Mas traz o novo. De novo. O novo. Sem medo. E fim.
[Christiane Jatahy]

segunda-feira, 22 de março de 2010

too much

Já escrevi aqui sobre a loucura (dos outros). É isso: difícil é assumir as próprias loucuras. Trêmula, sou obrigada a reconhecer que não há loucura individual sem loucura coletiva. Não há o invidual sem o coletivo. Não há você sem mim, nem eu sem você. E está faltando este entendimento. Estamos por demais ensimesmados em nossas próprias loucuras. Hoje fui assistir ao espetáculo "Escuro", da Cia Hiato, que escarra na nossa cara que todas as patologias daquelas personagens patéticas estão coladas em nós. A cegueira, a mudez, a limitação da linguagem são parte do nosso cotidiano urbano. Realizamos grandes coisas e cremos que isso nos torna importantes, únicos. Pobres de nós. Grande ilusão: estamos gradualmente perdendo o olhar pro outro, a capacidade de nos relacionarmos com profundidade, o diálogo com o outro.
Este mundo está demais pra mim, evasivo demais, barulhento demais, conexões demais, choro demais, riso demais, lixo demais, trânsito demais, dinheiro demais, televisão demais, miséria demais, loucura demais.

sábado, 20 de março de 2010

O corpo dói porque a alma dói. É desesperador chegar à beira da loucura estando completamente sã. É enlouquecedor ter consciência, mas não ter lucidez para aceitar as coisas como elas são. É enlouquecedor querer eternizar momentos, porque a vida é movimento, não há replay nem rewind.

quarta-feira, 17 de março de 2010

sete ou oito amigos

Vínhamos conversando sobre amizade na luz bonita da noite molhada. Falamos que 7 ou 8 amigos é um bom número. Ótimo, eu diria. "Até o fim da vida", disse o Filé. São 7 ou 8 personagens que vão e vem, saem de cena, dando espaço a outros coadjuvantes. Às vezes voltam, nem sempre. E isso não é triste, só um movimento natural da convivência, das aspirações, dos momentos de vida de cada um. Saudades? Sempre há. Principalmente pros saudosistas como eu. Mas hoje entendo e respeito amizades que se foram e talvez não voltem. E já vivi algumas que foram e voltaram. E continuam indo e voltando... talvez esse seja seu ponto de equilíbrio. Já voltei pra algumas também (com muitas saudades) e parti de outras que não faziam mais sentido. Porque a vida é assim: movimento. E mesmo que às vezes esse movimento se pareça mais com um terremoto, a gente percebe que ele acontece pra tudo ficar no lugar. Perfeito.

terça-feira, 16 de março de 2010

o pior é que...

... eu não acho que você seja um imbecil. E nem acho que vou achar isso. Eu queria, mesmo, mas eu realmente acho que não vou achar. Por mais que procure, não vou achar. Na verdade, quanto mais procuro, menos acho. Acho que você é legal pra caramba, é isso.
Será que a imbecil sou eu?

domingo, 14 de março de 2010

a torneira do filicas

Depois de falar incansavelmente de ti, levantei para ir ao banheiro. Geralmente minhas idas ao banheiro no Filial são eventos sublimes de observação: a mulherada muy bêbada fica engraçadíssima usando superlativos com o espelho, fofocando sobre os moços do balcão ou arrumando a alça do sutiã. Mas neste meu bar cativo existe uma particularidade que torna a ida ao banheiro mais divertida. E eu sempre caio nessa pegadinha infame... quando dou por mim já estou gargalhando em frente ao espelho. Ocorre que a torneira da pia é normal. Normal, digo, não é daquelas com sensores hi-tech ou a outra que você aperta e sai um macio jato de água. É uma torneira normal, sabe? Daquelas de rodar que você tem em casa? Só que TODA VEZ, já com vários chopps na cuca, vou lá e dou aquela apertadinha pra água sair. E ela não sai. E eu aperto de novo. Nada. Aí eu olho no espelho e repito pra mim mesma "porra, faz dez anos que você vem nesse mesmo banheiro abafado e fedido, você ainda não sabe que tem que abrir a torneira rodando??". É, eu não aprendo.
Bem, nesta noite quente, entrei no banheiro e, enquanto fazia xixi, lembrei da torneira. Ah, hoje essa danada não me pega!, pensei. Me posicionei estrategicamente em frente à pia, coloquei o sabão sobre a palma da mão com cuidado e rodei a torneira até a água jorrar abundante. Vitória!
Foi neste momento então que olhei para o lado e notei minha companheira de banheiro praticamente esmurrando a torneira e passando insistentemente a mão sob ela, na tentativa de tirar uma gota de água daquele aparato jurássico. Ela me olhou atônita: "como sai água desse treco???".
Eu ria de dobrar, e ela deve ter me achado uma louca, obviamente.
Ai, ai, adoro essa torneira retrô.

sexta-feira, 12 de março de 2010

quarta-feira, 10 de março de 2010

tristeza insone

Esses malditos hormônios, um dia ainda jogo eles pela janela.
Qual será a utilidade de me deixarem tão melancólica, instável, quase bipolar e tremendamente dramááááática??? E o que será que eu preciso fazer pra satisfazer as vontades deles, além de devorar uma barra de chocolate meio amargo? Além de ser condescendente com eles, ouvindo todas as músicas mais tristes do mundo que o edu me fez colecionar? Além de praticar a saudade, mergulhando em fotos que poderia facilmente rasgar?
Permaneço acordada, companheira fiel, ouvindo os ruídos incessantes da cidade, dando corda pra esses malvados, que me invadem e me cansam, e me fazem desacreditar do amor, me desviam dos encontros para os desencontros, me confundem e me causam mais indecisão do que uma libriana com ascendente em aquário poderia ter.

Quem tem coração
Reconhece a dor
Afinal é real
Fim de papo.
Tó Brandileone e Vini Calderoni

terça-feira, 9 de março de 2010

pirilampo

Cada vez que vejo um vaga-lume volto um pouco à minha infância. Sinto o perfume fresco do bosque de ciprestes na casa da tia Emilia, na Itália. Nas noites de verão, aquele bosque misterioso e imenso para mim, tão pequenina, ficava carpetado de vaga-lumes brilhantes. Apagávamos as luzes para contá-los na escuridão. Era diversão garantida.
O grande evento, porém, era capturar esses pequenos insetos das bundinhas brilhantes e colocá-los dentro de copos virados de cabeça pra baixo sobre a mesa. Então era hora de ir dormir: durante a noite, o vaga-lume do copinho magicamente se transformaria numa moeda de 500 liras, que eu encontraria na manhã segunite, numa felicidade sem fim.
Obviamente eu juntava 20 ou 30 desses pobres bichinhos e pegava todos os copos da casa para dispô-los sobre a mesa do jardim. Alguns fugiam pelas frestas da madeira, e lá ia eu de novo pegá-los para ganhar minha moedinha.
E quando eu ia pra cama, minha insubstituível tia mais querida do mundo - a tia mais perfeita que alguém poderia sonhar ter - caçava todas as moedas disponíveis nas carteiras do meu tio, dos primos, dos amigos que jantavam lá, para que nenhum copo ficasse vazio, e finalmente libertava os pirilampos para continuarem brilhando na noite quente.

Disfarço meu pranto ao me lembrar desses momentos impagáveis - e desejo secretamente voltar a ser criança.

quinta-feira, 4 de março de 2010

falemos

Falemos.
Falemos o que ainda não foi dito.
O que temos receio de dizer.
Falemos para matar essa ansiedade do desconhecido.
Para colorir as ilusões.
Para aliviar as inseguranças.
Falemos do amor.
Do desejo.
Da dor.
Do abandono, sobre o qual nunca se fala.
Falemos para não enlouquecer.
Dos sonhos que nos movem.
Falemos sobre a necessidade do silêncio.
E sobre a importância do tempo.

Falemos para desatar-nos.

quarta-feira, 3 de março de 2010

as coisas poderiam ser diferentes

se você não olhasse só pro seu umbigo, pra sua casa na praia, roupas, fazenda e mercedez se você se importasse com a função social do seu trabalho, com o alcance que ele poderia ter, se você fosse uma pessoa decente, se praticasse valores de colaboração ao invés de incentivar a competição, se incentivasse a cooperação e não o legalismo, se você não tivesse essa ganancia desmedida, esse excesso de autoritarismo, essa governância caótica, se você fosse uma pessoa inteligente as coisas poderiam ser diferentes. Mas você é quem você é e as coisas são como são.
Você (assim como metade da humanidade que se parece com você) me causa insônia e dor de estômago.

terça-feira, 2 de março de 2010

mais um adeus

Eu já devia estar acostumada, mas não consigo. Toda vez que ele vai, fica um buraco. Dessa vez ficou também um medo, talvez porque a fragilidade dessa vida tenha invadido a data mais festiva do ano de forma tão abrupta e tenha me fragilizado também. Talvez porque eu também esteja envelhecendo. Talvez porque eu mesma quisesse ter a coragem de fazer as malas e voar. Ou porque as piscadas abreviam os melhores momentos, que nunca parecem ter sido suficientes.
Não sei o que é. Mas não me habituo a essas despedidas.
Vai bem, querido. E não demora a volta.
Volta pra ficar.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

nananinanão

Uma das prerrogativas da minha vida é a intensidade. Nem sempre isso é bom, às vezes fica tudo meio embolado, não dá tempo de digerir direito. Mas na maior parte das vezes é sensacional viver as coisas como se fossem únicas, porque elas de fato são singulares e irrepetíveis. Tudo está muito interessante, mas tem acontecido com uma rapidez que meu corpo não consegue acompanhar. Quero ter brechas para fugas repentinas, para me lançar ao mar, para reforçar o desapego.
Hoje, regados a bom vinho, música nutritiva e comidinhas deliciosas, falamos muito sobre a necessidade de se dizer NÃO. Isso parece super batido, mas é tão importante... porque fomos criados acreditando que dizer não é sinônimo de desamor, de falta de disponibilidade, agressividade, quando na verdade é exatamente o contrário: ao dizer não para o outro, você está reconhecendo suas limitações e deixando claro o quanto de você há à disposição.
É duro ouvir não. Não, não é fácil. Mas é saudável. Porque 'não' não é o antônimo de sim, é só seu contraponto.
Não porque não me faz bem - e se não faz bem pra mim, não vai fazer bem pra você.
Não porque preciso ser verdadeiro comigo mesma pra poder ser verdadeira com você.
Não porque não estou com vontade. Simples assim.
Não porque não preciso te falar sim pra ser aceita por você.
Não porque não quero.
Não porque não consigo.
Não porque não há espaço dentro de mim para isso.
Não porque não te amo mais.
E eu realmente sinto muito se você não gosta de nãos.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

quase um Almodóvar

Às vezes, é preciso tomar algo forte para sair da realidade - ou para entrar nela, como queira. Mas é antes dos goles que o filme começa.

CENA 1 - SALA DE ESTAR / INTERIOR / DIA
ELA entra com naturalidade na casa, quase fosse um membro da família e sempre tivesse estado lá. PONTO DE VISTA DELA: seu olhar atravessa lentamente, de ponta a ponta, os vãos livres da grande casa luminosa. Se detém em quadros de aquarela pregados na parede e nos porta-retratos com fotos de família.
CORTA PARA

CENA 2 - COZINHA / INTERIOR / DIA
A cozinha é sempre o lugar para o Satsang. Todos sorriem e estão muito à vontade. CLOSE em sorrisos. Faz calor. As pessoas se abanam e bebem água. CLOSE em olhos e mãos. CRIANÇA corre pela cozinha. FRIDA se aproxima para receber cafunés. ELA faz carinho em FRIDA e se sente observada com simpatia. ELE a observa. ELA finge não perceber.
CORTA PARA

CENA 3 - ESCOLA / INTERIOR / NOITE
ELE fala para uma platéia atenta. Gesticula muito e faz caretas engraçadas. A platéia ri, o ambiente está descontraído. ELA o observa com admiração. Morde o lábio inferior, como sempre faz quando fica insegura. Logo em seguida, esboça um leve sorriso com o canto da boca, satisfeita.
CORTA PARA

CENA 4 - COZINHA / INTERIOR / NOITE
Pessoas sentadas em volta da mesa comem e conversam. Na mesa, comida caseira. DETALHE nas mãos DELE cortando manga Haden. DETALHE na cumbuca de balas de menta Kids. DETALHE no pequeno copo de whiskey. Faz muito calor. Tiram fotos. CONGELA em uma foto.
FADE OUT PARA

CENA 5 - FILIAL / INTERIOR / NOITE
Bar lotado. Sentados à mesa, bebem cerveja e Seleta. Conversam animadamente, gesticulam muito, abrem largos sorrisos. ELA cobre o rosto com as mãos envergonhada. CLOSE no par de óculos que estão sobre a mesa. ELA pega na bolsa o Moleskine verde limão e escreve.
DETALHE DELA escrevendo: O que te move?
ELE faz careta. ELA passa o Moleskine para ELE.
DETALHE DELE escrevendo: a curiosidade, o desafio, o novo, a insegurança, o amor, o tesão, o medo.
ELA lança um olhar de aprovação.
CORTA PARA

CENA 6 - CARRO / EXTERIOR / MADRUGADA
Forte chuva. Eles estão no carro. Para-brisas em movimento frenético. Conversam e riem. DETALHE na flor colorida presa no cabelo DELA. WIPE horizontal para o vidro do carro. STEADYCAM na chuva torrencial desfocada do lado de fora. FOCO gradual nas gotas que escorrem pelo vidro do carro.
FADE IN para BLACK.
FIM

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Novo Olhar sobre as Relações de Trabalho

Esse vídeo é fruto de um trabalho incrível do qual estou participando com um grupo de pessoas inspiradoras e pulsantes. A elas, e a todas as outras que por tabela conheci, manifesto minha maior gratidão pelos novos óculos que estamos aprendendo a usar, pelo crescimento que estamos mutuamente nos proporcionando.

Movimento Novo Olhar sobre as Relações de Trabalho from rita monte on Vimeo.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

mauzinha

É muito libertador reconhecer a maldade na gente. Reconhecer o egoismo, a raiva, a falta de vontade. A gente se liberta, ainda que momentaneamente, das pressões, das reponsabilidades, das expectativas que nos impelem a um comportamento protocolar. No fundo, percebemos que só queremos ser aceitos com normalidade e com doçura pelos outros, mas por dentro... ahhhhh, por dentro queima, arde, não encaixa (de jeito nenhum). É uma sensação perene de deslocamento. É aí então que a verdade faz-se cada vez mais necessária, mesmo que cause conflitos e desconfortos - porque coloca o outro frente a frente com a sua hipocrisia social, com a sua inverdade interior. Mas a verdade é do coração, não é da razão, por isso é tão difícil de ser aceita.
Quando eu crescer quero ser igualzinha à tita. Meditar todo dia e cantar kiirtan com voz de anjo.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

a perda

O sol batia dourado no para-brisas. Nenhum ar condicionado podia vencer o calor, secar o suor, nem esvaziar a tristeza. A única coisa desta vida que não tem jeito invadiu nosso carnaval de uma forma cruel e inesperadamente dolorosa. E não há palavra capaz de atenuar a dor cortante, não há como evitar o gosto do fel. O peito feito buraco e as lágrimas que não se devem conter. Não há como não pensar na falta de significado com que vestimos o cotidiano, na pouca importância que damos aos gestos corriqueiros, nos diálogos impensados, naqueles pensados demais, nas raivas guardadas por tempos injustificáveis, nos abraços não dados.

Sabe, essa vida é puro pó.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

colombina

Ser solteira exige um malabarismo absurdo. É preciso estar sempre bonita, arrumada, cheirosa, simpática, sorridente. A cada novo caso, já vai você contar da sua vida, do que você gosta, do que não gosta e é preciso estar disposta a fazer isso com muita energia, afinal a sua vida é muito interessante: "veja como eu sou bacana, tenho uma rede de contato fantááástica (na maior parte das vezes, muitos dos amigos são os mesmos, nessa minúscula bolha em que vivemos) e faço programas incrííííveis".
Ai, que preguiça.
Ando com uma preguiça descomunal de fazer esse papel.
Não me admira que muita gente ande por aí com a intenção de satisfazer apenas seus desejos carnais imediatos. Depois, vira pro lado e dorme - isso quando dorme - ou diz beijo-tchau-não-me-liga, como se tivesse tomado um chopp com você falando sobre amenidades. Porque realmente dá trabalho! Se comprometer com aquele momento, com aquela pessoa, com aqueles olhares é muito arriscado, representa um provável descontrole. Melhor não. Nem precisa contar da vida, das coisas todas. Vai direto pro abraço.
Mas eu sou à moda antiga. Não sou malabarista, nem trapezista, muito menos palhaça. Aproveitando o ensejo carnavalesco, sou Colombina. Só falta o Pierrô.