segunda-feira, 27 de julho de 2009

cariñitos

Ensinei por aí uma palavra que nao existe em espanhol: cafuné. Cariñitos, dizem na Costa Rica. Mas nao é igual. Cafuné é uma coisa única, deliciosa, que se extende por minutos a fio, por entre os fios do cabelo, atrás da orelha, baixando até o cangote. Fazer cafuné é uma arte: é preciso adequar a pressao das maos e passear sem monotonia pelas áreas acarinhadas para manter a sensaçao de prazer. Se bem feito, as pontas dos dedos cafuneadores ficam cheirando o cheiro da pessoa cafunada por dias a fio até. A nossa língua é mesmo uma gostosura... Aprendi com o Rafa a subverter o dicionário. E é impossível falar de cafuné sem lembrar do Rafa.
Eu faço cafuné. Nao sao cariñitos, sao cafunés mesmo.
Obrigada mae, por me ensinar a ser tao carinhosa.

domingo, 26 de julho de 2009

a costa rica é um pais legal porque:

(nao necessariamente nessa ordem)
- Os Ticos falam tudo no diminutivo. O espanhol deles é muito fofo;
- É o pais mais feliz do mundo!
- Nem que quisesse, o pais nao pode fazer guerra com ninguem: aboliu suas forcas armadas em 1948;
- Os pobres nao pagam imposto de renda;
- Produz cerca de 7 milhoes de bananas por dia e exporta grande parte delas. YES, WE HAVE BANANAS!
- Os enderecos sao cartesianos, como diz o Sergio. Exemplo de endereco típico (para o correio): Condominio Vista del Sol, 100m a la izquierda, 25m a la derecha, carretera principal. San Jose. Ponto.
- Tem uma quantidade incrivel de animais soltos em parques naturais espalhados pelo pais;
- Mede a chuva em metros cubicos, nao em milimetros cubicos;
- Talvez pela razao anterior, aqui tudo que planta, da (l-i-t-e-r-a-l-m-e-n-t-e).

A Costa Rica é PURA VIDA!

p.s.: Adoro fazer listas.

liberdade

O melhor disso tudo sao os encontros. Eles sao sempre uma surpresa boa. Ilimitada. Eles aumentam minha confianca no ser humano, que acredito ser verdadeiramente bom. Tem tanta gente interessante no mundo!!!
Nao tem dado tempo de escrever emocoes que eu ainda nao consigo digerir. Esta sendo muito rapido, muito engracado, muito intenso, muito extremo.
Estou me sentindo bem.
Verdadeiramente livre.
Acho que so uma viagem comigo consegue me dar uma sensacao de liberdade como esta.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

rebeldia solitària

Às vezes, Beauvoir chamava sua rebeldia solitària de "uma embriaguez". Mas tinha consciência de que precisaria de uma forca extraordinària. "Eu gostaria muito de ter o direito, eu tambèm, de ser simples e muito fraca, de ser mulher", confessou no diàrio. Sentia que, para as mulheres, o amor tinha um custo, e que havia uma parte dela que provavelmente nenhum homem aceitaria. "Falo do amor de forma mìstica, sei o preco", diz ela. "Sou muito inteligente, muito exigente e muito engenhosa para alguèm ser capaz de se encarregar completamente de mim. Ninguèm me conhece nem me ama completamente. Sò tenho a mim".

Tète-a-tète - Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre
Hazel Rowley

segunda-feira, 20 de julho de 2009

transbordando

Nas ultimas 60 horas:
Passei de 12 a 35 graus em menos de 3 horas.
Visitei bosques, caminhei sobre as nuvens, fui a praia, vim parar num cantinho hibrido da cidade.
Falei ingles, espanhol, italiano e portugues.
Falei nada.
Respirei muito fundo.
Tomei decisoes importantes.
Vi macacos e bichos-preguicas (lindos!).
Li sobre Sartre e Simone.
Conheci uma mulher muito parecida comigo.
Comi patacones mixtos.
Tomei guaro. Muito.
Conheci um gay e um homem feio.
Falei sobre novos modelos de desenvolvimento e brechas do capitalismo.
Cantei com os Hare Krishnas.
Ouvi trovas do Silvio Rodriguez.
Conheci um homem lindo.
Assisti o tope de Santa Ana - uma parada de cavalos enlouquecidos.
Ganhei um beijo na boca de um cavalo.
Enchi a cara.
Comi falafel.
Ganhei um beijo na boca (do homem lindo).
Pensei no amor livre.

Ufa. Acho que agora vou dormir.

El sera el conductor de tu vida, yo voy a ser el ayudante.
Vicente Fernandez

sábado, 18 de julho de 2009

mariposa

O tempo que uma borboleta leva para se reproduzir e se desenvolver - transformando-se em larva, depois em crisálida e finalmente em borboleta - é quase o dobro do que seu tempo real de vida. Ela viverá, em média, de 3 a 4 semanas e aproveitará sua juventude para depor seus ovos nas folhas, antes de iniciar a perder pequenas partes das bordas de suas asas, evento que anuncia a proximidade de sua morte.
Uma borboleta, como todas as criaturas deste planeta, é perfeita. A fêmea, após a cópula, conserva em seu corpinho um compartimento para os espermas e outro para os óvulos. Na extremidade de suas patinhas, ela tem sensores que lhe permitem reconhecer a folha certa que ela irá "fecundar" e, após a identificaçao, aciona seus compartimentos para liberar sobre a folha, em uma fraçao de segundos, a quantidade exata de esperma e de óvulo.
A borboleta, como eu, gosta de calor. A temperatura ideal para ela é de 28ºC. Abaixo dessa temperatura ou se o sol nao aparece, ela dificilmente voa - fica encolhidinha para reservar energias.

Hoje conheci um encantador de borboletas. Hoje aprendi a ama-las e respeitá-las. Elas sao sábias e fazem o que todos nós deveríamos fazer: dar mais importância ao processo do que ao fato em si.

Vale a pena ser borboleta colorida e voar por aí.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

I am from America

Viajar sozinha, ao contrario do que muitos pensam, è muito bom. Voce conversa com quem quiser, a hora que quiser, come o que quiser e escolhe o que vai comer, decide o que fazer e assume todos os riscos por isso. E, o melhor de tudo: è um intensivao com voce mesma, um puta aprendizado. Dureza è encontrar as companhias erradas. Mas isso infelizmente acontece. No meu caso, por vasta experiência, posso afirmar sem medo de errar que, em 95% dos casos, esses indesejàveis seres sao da raça norte-americana. Aqui hay muchos. Demasiados. A mèdia è: de 10, consigo me relacionar apenas com 1. È triste. È triste ser perguntada: "Quando è que eu vou poder ir ao Brasil sem ser sequestrado ou assassinado?" ou "O Brasil è um paìs, nè?". Achei que isso fosse piada de mal gosto - apesar de ter tido provas em outras ocasioes sobre essa patente ignorância, continuava acreditando que era um estereòtipo barato construìdo pela esquerda mal amada. Mas se fosse sò isso, remediava-se. O que è mais duro è que essa ignorância è respaldada por uma arrogância sem fim. E por uma visao exòtica de mundo incompreensìvel para tempos de globalizaçao, bla bla bla. Fiquei chocada ontem: ao conhecer um fotògrafo, perguntei de onde ele era. Ele respondeu: "I am from America!". Eu abri um largo sorriso e disse: "Me too. I am from America...". Depois que eu contei ser brasileira, o cara falou: "Well, Brazil is in SOUTH America. It`s not America". Deu pra entender??????
........
Bom, gente, è que eu fiquei meio com crise de identidade e resolvi postar isso aqui hoje sò pra dizer: eu sou da Amèrica tambèm. Confirma?

terça-feira, 14 de julho de 2009

Costa Rica

Cheguei. A recepçao nao podia ter sido melhor, logo antes de passar na imigraçao, a oficial da polícia diz: "Las hojecitas en la manocita, por favor!". Tudo no diminutivo! Dizem que os Ticos sao assim, super amáveis.
O calor está forte, mas tem uma brisa boa para cortá-lo.
Atrás da porta do quarto, um aviso: "Em caso de terremotos, fique longe dos vidros e vá para o centro do jardim".
Deusmiajude.
Agora vou ganhar o mundo, apesar do cansaço.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

você

Foi você quem inventou a culpa. Você, que não tem nada pra fazer senão atazanar a vida dos outros, você que esvazia o pneu do carro alheio na madrugada fria só para afogar as amarguras de um dia mal aproveitado no fígado de outrem. Você que se chama baixa-estima, Estrupício. Você, que de dia dorme e de noite, zumbi. Você que deixa a vida escapar pelas frestas dos dedos. Tenho pena de você.
Você chove. Você? Lama.
Você não vai comigo. Nem fica comigo. Você e suas manias estúpidas, ranzinzas, que só fizeram roubar minha criança. Mas minha juventude, você não tem. Você é velharia. É vigliaccaria, diria minha avó. Você é sombra rala que não consegue nem ser densa.

Você, que tanto tempo faz, você que eu não conheço mais.
Você que um dia eu amei demais.
Roberto Carlos

domingo, 12 de julho de 2009

receita para sarar (hoje)

Seja sempre verdadeira com você mesma, por mais duro que possa ser. Não deixe de falar o que está sentindo - isso pode lhe causar uma baita dor de garganta.
Chore um pouco, se preciso for.
Não culpe o outro pelo seu sofrimento: você é responsavel pela sua vida.
Procure sempre uma amiga e passe a maquiagem mais colorida da caixa.
Vá ao cinema.
Durma bem e beba bastante água.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

'seu imbecil. seu imbecil. seu imbeciiiiiil.'
Era só o que ela tinha vontade de falar para ele batendo forte em seu peito com os punhos cerrados. Ele que já havia errado, que já a havia abandonado.
Que já havia morrido.

não há cimento que te impeça de respirar

Sublime. Lindo texto, descrições minuciosas, sutilezas sustentadas pela maravilhosa interpretação de Clara Carvalho.

Dueto da Solidão
de Sérgio Roveri
Com Clara Carvalho, Chico Carvalho, Gustavo Haddad e Leonardo Miggiorin
Sesc Vila Mariana
Rua Pelotas, 41 - 11/5080-3000
Às terças e quartas, às 21h
De R$ 3 a R$ 12
Até 24/6

terça-feira, 7 de julho de 2009

para um amor no recife

A vida serpenteia sorrateira quando estamos destraídos olhando para o céu. Não avisa momento de chegada. Nem de partida. Nem de final, feliz ou infeliz. A vida simplesmente acontece enquanto lixamos as unhas. A vida é surpresa. Das grandes. Das boas.
Eis que uma dessas frações de vida estava lá: sentado na areia, contando nuvens. Cannabis Sativa entre os dedos, olhava como quem procurava. A outra caminhava entediada pela praia semi-deserta, o sol a pino. Olhava como quem achou.
Encontraram-se. Embrulhados para presente, um para o outro.
Deram-se.
Iniciaram sem palavras, seguiram sem palavras. Reconhecendo corpos descobertos, convidaram-se para o mar. Sabiam ser somente aquilo que os unia, aquele momento o único que fazia sentido. Do mais, não sabiam. Um do outro nada sabiam. Passariam mais de cem anos de desejo ensurdecedor sem que se tocassem novamente, mas tinha de ser: frações de vida não se encontram assim por acaso. E não havia coração ali que chegasse. Era puro corpo que explodia, que tremia, que louvava... Quando uma onda desmesurada e revolta, com aquela força que só uma onda pode ter, então os apartou. Desataram. Soltaram-se mãos, laços, ventres. Escorregaram para fora d´água sem fôlego nem perdão.
Sem fôlego.
Sem adeus.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

yusa ou martnalia

- Sabe o que a gente faz quando se dá conta de que ama um amor inacabável, inevitável, intolerável?
Ela balançou a cabeça: "Não, não sei. O que a gente faz?".
- Eu também não sei...
As duas gargalharam.
- Talvez a gente deva continuar amando esse amor. Seria um crime tentar evitá-lo, ou substituí-lo. Na verdade não vai adiantar... Ele sempre vai estar.
- Talvez a gente deva cantar. Eu me sinto muito melhor quando canto.
- Depende do que você vai cantar...
- É... se eu mando: 'Quero ficar no teu corpo feito tatuagem que é pra te dar coragem pra seguir viagem quando a noite veeeem (...). E nos músculos exááááustos do teu braço, repousar frouxa, murcha, farta, morta de cansaço...' aí é foda... eu começo a lembrar daquela fantástica que ele tinha no braço esquerdo. Eu adorava. Eu dormia em cima dela, perfeita, milimetricamente tatuada sobre o biceps. ai ai, é de matar!
- Mas e essa? 'Vai sair da minha vida, você vai ter que mudar da minha casa, de atitude, chega! Ainda mais agora que eu vou viajar prá me livrar de você, não quero mais ser seu amigo, nem inimigo, nada!...'
- Nada...
- Vai viajar, nêga. Depois a gente vê.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

despedida virtual

Hoje foi um dia de resoluções e despedidas.
Reencontros e desamarrações.

- ... então um abraço, bem longo e aconchegado, daqueles que não consegui te dar.
- outro bem grande, desses que esperamos e não tivemos.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

menos economia, mais poesia

Gente: o mundo precisa de poesia. Nossos olhos urbanos, embaçados e surdos, se umidificam de poesia - e andam bastante ressecados. Os motoristas dos ônibus precisam de poesia pra enfrentar a dureza do asfalto. Os advogados, os economistas, os jornalistas - bom, esses nem se fala... Os políticos. Os padres. Os professores, ai. Tanta poesia lhes falta. Tanta poesia nos falta.
E poesia não é "poesia" (apenas). Estrofe, verso, rima.
É perceber pedaços de ternura no cotidiano. Poesia é música, flor, quadro bonito, sorriso inesperado, olhar profundo. Poesia é delicadeza melancólica da luz do inverno. É frase bem dita. Pausada. Escrita ou falada. Ou cantada. Poesia é cuidado - muito cuidado com a poesia!

Ela é transformadora.

Gente: o mundo precisa de menos economia e mais poesia. Hoje a Leti disse que a economia também pode ser poesia. Eu respondi: "Pode. Mas não é". Não é. Mas não precisam ser antagônicas. Podemos lançar a ECONOESIA, na tentativa de humanizar esse mundaréu de gentes centrifugadas num redemoinho de estímulos, de preços, de praças, de produtos, de promoções. Centripetadas em seus próprios umbigos, em seus espelhos, em seus carrinhos. Sozinhas, tadinhas. Cada vez mais.
Então vem a poesia. E nos salva! Aleluia!
Abra os olhos. Chega de economizar poesia.

Meu mundo só tem começo, meus desejos não têm fim.
Ceumar e Tata Fernandes