sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

meu bem, meu zen, meu crack

Metade do meu sangue é drama mediterrâneo, então pode parecer que eu goste de sofrer. Sim, ainda choro profundamente. Sim, ainda penso em você, muito mais do que gostaria. Não me envergonho de ter te amado, só não consigo entender as recaídas. É muito ruim, como se você fosse meu crack.

Mas eu sou filha do sol e mereço brilhar.

Acho que já te agradeci por tudo. Já rezei todas os rezos que conheço. Já te pedi perdão por não ser aquela que você esperava. Já não tenho seu telefone, nem seu endereço. Já faz tempo, mas ele insiste em caminhar lento pra mim, no que se refere a nós.

Recentemente te mandei à merda.
E vou aproveitar pra te mandar uns boletos também:
250 paus numa Constelação pra ver todas as suas dores lá escancaradas.
150 paus numa sessão de Barras de Access pra sacar o padrão que me prende a você. 
250 paus para te vomitar numa sessão de ayahuasca com a galera mais escorpiana que eu conheci na vida - aprendendo com os scorpions!
Chorar como uma criança no colo de uma preta velha e perguntar "por quê?" - pra ouvir a resposta que eu já sabia (esse foi de graça).  
E mais 120 pilas em outra sessão de ayahuasca pra te vomitar mais um pouco. Detox geral.  
Veio Palo Santo da Colômbia.
Veio São Miguel Arcanjo.
Veio Osho
... e a galera toda!

Mas... é só o tempo. O analgésico da vida. 


quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

carta pro filho 3

Ontem desenhamos desejos para este novo ano. Eu fiz uma casa na praia com gramado, coqueiro e rede de balançar. Você me ajudou a colorir e depois desenhou um sol. Mas o que ontem era uma garatuja, do dia pra noite se transformou num sol com raios. A surpresa de ver brotar daquele papel formas mais conhecidas por mim, me fez brilhar os olhos, como um passo antes da escrita.

Nestes dias de férias, em que a intensidade da convivência não é pouca bobagem, testemunhar suas conquistas tem me feito chorar. A cada pedalada na sua bici nova, você abre um sorriso de satisfação que nunca vi em nenhum outro rosto. É um milagre. E quando você cai, meu coração vem até a garganta, mas você se levanta, limpa a mão na camiseta e sorri. Você é tão corajoso, curioso e valente, filho. Admiro muito isso em você. Observo sua sede de autonomia, seu ânimo de viver, sua doçura bruta, sua desobediência civil: você é a criança que eu gostaria de ter sido. Você brilha.

Quero me contaminar pelo seu riso frouxo. E ouvir atentamente seus ensinamentos com o coração aberto: "Cada um tem seu jeito de fazer as coisas, mamãe" ou "Você precisa aceitar o nonno como ele é", ou ainda "Mangia che ti fa bene!". 
  
Nesta insana proximidade, agradeço a oportunidade de nos reconectarmos - como fizemos nas férias de julho. Agradeço por perceber como sou boba quando perco a paciência por besteiras, como repito contigo os mesmos erros que cometeram comigo. Preciso calibrar minhas emoções pra dar conta de tantos aprendizados. Gratidão por ter me escolhido para te maternar, meu pequeno-grande Mestre.