segunda-feira, 31 de maio de 2010

um navio no espaço

Acreditei que se amasse de novo
esqueceria outros
pelo menos três ou quatro rostos que amei...
organizei a memória em alfabetos
como quem conta carneiros e amansa
no entanto flanco aberto não esqueço
e amo em ti os outros rostos.
Ana Cristina César
[Contagem regressiva in Inéditos e Dispersos]

Brilhante e imperdível.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

tás a ver?

é assim que a gente trabalha...



+ em tasaver.org

terça-feira, 25 de maio de 2010

de como conhecer as pessoas

Tenho conhecido muita gente que não me faz perguntas sobre o que faço da vida, onde estudei, quem namorei, que países conheço... nada. Ou quase. Isso é um pouco irritante. A conversa flui sobre a superficialidade do momento, sobre as observações circuntanciais, ou sobre a história do outro - porque eu sou muito perguntadeira.
Até outro dia, considerei esse comportamento como um desinteresse do outro por mim. Mas nessa minha mania de aprender uma coisa nova a cada dia, descobri que existem diversas formas de acessar alguém.

A pessoa é o que é, não só o que conta ser. E uma das formas de saber quem ela é, é descobrir isso sozinho, não por meio da explicação dela mesma. Enquanto eu te conto coisas sobre mim, o que fiz, com quem andei, o que gosto de comer e assistir, você cria uma imagem minha na sua cabeça. As respostas e as explicações nos enchem de pré-conceitos.

Não saber é mais bonito, nos força a começar novas histórias, a nos re-conhecer.

A pessoa é o que é - e inevitavelmente carrega consigo o que viveu.

domingo, 23 de maio de 2010

bora pazear?

PAZEAR: verbo intransitivo - (jog.) jogar à paz, para desempate. Estabelecer paz ou harmonia.

Essa língua portuguesa é mesmo uma maravilha...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

encontros e despedidas

Há pouco menos de um ano, despedimo-nos sem nos tocar e sem nos ver.

Hoje, com um longo abraço emocionado.
- Que sua viagem seja um recheio para sua alma.
- ...já está sendo, mana.

...coisa que gosto é partir sem ter planos, melhor ainda é poder voltar quando quero. E assim chegar e partir são só dois lados da mesma viagem. O trem que chega é o mesmo trem da partida. A hora do encontro é também despedida. A plataforma dessa estação é a vida desse meu lugar.
Milton Nascimento

terça-feira, 18 de maio de 2010

desconhecidos

Anos depois, eles se reencontram. Dois desconhecidos na multidão. Na noite branca, o canto dos vendedores ambulantes e o coro da platéia se ressaca à neblina nos olhos de outono da cidade. Mantém a continência de dois militares. Olham-se fixamente como se já há muito tempo se conhecessem, mas na verdade, nunca até aquele momento haviam se reparado. Nunca ele havia visto a pequena pinta no canto direito do seu nariz. Ela não imaginava que ele fosse capaz de se afundar na sua intimidade tão rapidamente. O desejo os consome por dentro. Em rápidos flashes, passam imagens do futuro, cenas de uma vida por viver.
Uma vida tapeada, enganada, nunca consumada?
Vida palpitante, rasura certeira no destino da gente que parecia já escrito?

O amor quando acontece
A gente esquece logo que sofreu um dia.
João Bosco

domingo, 16 de maio de 2010

sombras

A filha de um amigo, quando pequena, morria de medo da própria sombra. "Era difícil lidar com isso", explicou, "porque a sombra está sempre com a gente, né?!".
A menina vivia correndo da própria imagem refletida no chão, na parede, onde quer que fosse. Me deu um arrepio ao ouvir esse relato, não pude evitar metáforas com as neuroses da nossa vida adulta: inconscientemente, passamos grande parte dela fugindo das nossas sombras. Temos a ilusão de termos nos libertado do medo infantil da nossa imagem refletida, associando-a a fantasmas ou coisas do tipo, mas quando crescemos são os outros que personificam nossas sombras. E, ao encontrá-las, dificilmente conseguimos lidar com elas, acolhê-las, enxergá-las como uma extensão do nosso corpo. Morremos de medo, exatamente como a filha do meu amigo. A partir daí é uma sequência de boicotes, fugas, desculpas, até que finalmente acreditamos ter conseguido nos libertar delas.
Não se iluda: elas voltam, reflexos de estilhaços que foram varridos pra debaixo do tapete, borrões que não foram bem apagados, lembranças de um tempo bom.
Por isso não devíamos ter medo das nossas sombras e muito menos tentar a fuga. Na verdade, elas servem pra nos dar a luz.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

olhos ardendo vermelhos inchados

é difícil se deparar com a mesquinharia humana.
Mas basicamente:

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!

[Mário Quintana]

terça-feira, 11 de maio de 2010

faça desse drama sua hora

Esses meninos... ai ai, viu?!

domingo, 9 de maio de 2010

como?

É que eu já escrevi tanto sobre isso que nem sei mais como fazer, que palavras usar, como inovar na abordagem. Não quero parecer queixosa sem motivo, rebelde sem causa. Pelo contrário, tenho uma causa enorme: o amor. Eu ainda acredito no amor. Hoje afirmei que você arrancou minha ingenuidade, mas me enganei. Continuo sendo uma sonhadora, idealista e romântica. Não obstante tudo o que me aconteceu, o que tem acontecido e o que eu vejo acontecer aos outros, eu ainda acredito que as pessoas (me incluo nessa categoria) possam se encontrar e ser realmente felizes por muito tempo - quiçá "para sempre". Mas não entendo porquê a vida insiste em querer me convencer do contrário. Juro que tenho tentado olhar para frente e sentir manifesto no mundo o amor que levo (literalmente) no peito. Mas não suporto mais desencontros, abandonos, falta de consideração. Fugas, desculpas. Eu sou uma pessoa legal, não mereço isso. Eu não faço isso com os outros. Então eu fico me perguntando como. Como manter a crença no amor? Como continuar acreditando nos encontros, na coragem de encarar? Como fechar os olhos e continuar vislumbrando um dia de sol e o seu rosto tão bonito se aconchegando no meu peito?

Como?

Hoje eu tô triste e não consigo encontrar respostas.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

os últimos dias

meu querido, me descuidei um pouco de ti nos últimos dias. Mas não de mim. De mim tenho cuidado com afinco: tomo bastante sol, faço questão de continuar abraçando o mundo, porque descobri que assim sou (abraçadeira), e todo dia aprendo alguma coisa nova, o que me dá muito prazer. Nos últimos dias, fiz algumas breves viagens, pra dentro e pra fora. Nas duas modalidades novamente percebi que o tempo é mágico: cura, restaura, religa. Marquei a data das minhas férias e estou aprendendo a olhar as planilhas com menos desprezo - agora olho com indiferença mesmo. Continuo passando hidratante no corpo todos os dias, comprei um par de sapatos vermelhos incríveis, iniciei um ciclo de expressão de potenciais com a rita. Nos últimos dias eu até me apaixonei um pouco, recobrei o otimismo de tempos atrás, que andava perdido por aí... e sabe o que mais?! Os últimos dias foram muito bons!
Preciso vir aqui com mais frequência para contá-los.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

(cada vez mais) apaixonada pelo Rio

É demais! Demais, demais, demais. Hoje, decolando do Santos Dumont, a beleza daquela cidade me encheu os olhos. Me emocionei novamente com ela, com suas curvas perfeitamente sinuosas, com seus montes das pontas arredondadas, com sua majestosidade malandra. Um arcoíris. Uma mulher linda, sedutora, com saboneteiras e nádegas. "Nádegas é importantíssimo", escreveu o Vinícius.
Aliás, eu acho que não foi pra mulher nenhuma que ele fez esse poema: foi mesmo em homenagem à sua cidade.
Maravilhosa, com todos os seus defeitos.

Foto da Baia de Guanabara a partir de Niterói