sábado, 31 de outubro de 2009

here i go

Eu vou vestir o mar
vou me fingir de peixe
eu vou brincar de madrugada
deixe

Vou me fingir de mar
vou engolir um peixe
eu vou pra lá madrugada
me deixe só

Vou me fingir de mar
vou me vestir de peixe
eu vou pra lá madrugada
me deixe só

Anelis Assumpção

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

viva

Quando ela entrou na minha vida, não sabia o bom estrago que ia causar. Foi assim, arrebatando todos os sentidos, subvertendo tudo o que sempre pareceu lógico. Colocando no meu caminho pessoas maravilhosas, acordes perfeitamente encaixados, sem desafinar uma nota sequer. Me faz sentir viva, pulsante.
Me faz acreditar incondicionalmente na beleza do mundo.

Acabo de decidir que preciso me doar mais pra você - e pra nada mais, minha querida música.

La palabra es la ventana
donde mira la canción
un arroyo, una montaña
un sendero y una flor.

Cada verso va creciendo
a la luz de los amores
a la vez que se trompieza
en fantasmas y rencores.

Son las coplas transparencias
de la hondura y el silencio
navegando por el alma
yendo corazón adentro.

Vocación de andas buscando
una causa, una razón
la palabra más certera
que me copie la emoción
con la chacarera doble
voy diciendo y acá estoy.

En la música florece
lo que la palabra nombra
se va haciendo sentimiento
en corcheas y redondas.

Los acordes que nacieron
al abrigo de la gente
llevan frescas lsa verdades
coo agüita de vertiente.

No le esquivo la mirada
a este mundo y su dolor
pero desde la guitarra
me parece ver mejor.

Vocación de andar buscando
una causa, una razón
la palabra más certera
que me copie la emoción
con la chacarera doble
voy cantando y me voy.

La música y la palabra
Carlos Aguirre
por Aca Seca

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

bonus track

É muito bom ter aquela música surpresa no final do disco, principalmente quando ela toca inadvertidamente alguns minutos depois do fim do set list oficial.
E você percebe que nunca tinha ouvido aquilo.
E que nunca tinha sentido aquilo.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

por favor, não me avise

Veja como é: quando a gente acha que fechou a porta, percebe que não, que aquela gélida e maldita fresta de vento insiste em passar, congelando a ponta do nariz. Não quero saber nada teu, das tuas conquistas, dos teus insucessos. Nada mesmo. Hoje, novamente, não consegui ver o por do sol nessa cidade cinzenta e isso me deixou amarga: qualquer felicidade me incomoda, principalmente a tua. Aliás, se eu conseguisse desejar algo de ruim pra alguém, você certamente seria a primeira pessoa em quem eu pensaria. Porque o mal que você causou não tem ressarcimento, nem mesmo se você chegasse a senti-lo na sua própria pele. Não tem valor, nem preço, nem nada. Portanto nada mais de você.
Eu nunca te conheci.
E espero nunca mais te reconhecer.
Então, por favor, não me avise.
Grata.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

pra quê?

ESSA CHUVA TODA.
TODAS ESSAS REUNIÕES.
LITROS DE CERVEJA.
424 FILMES.
PLANEJAMENTOS.
PLANILHAS.
PROJEÇÕES.
ADVOGADOS.
ESQUECIMENTOS.
PICADAS DE PERNILONGO.
CARRO NOVO.
O PEITO ARDENDO E A CHUVA CAINDO.
O VINHO TINTO.
A VERDADE SEMPRE.
A IMAGEM.
ENCONTROS. INUTEIS.

ESSA MANIA DE VIVER UM DIA ACABA ME MATANDO.
O PEITO ARDENDO.
ACHO QUE SÓ ESCREVENDO MESMO.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

o corpo padece

quando a alma fica asfixiada. Quando a energia fica estagnada. Dores, dores por todo lado, que começam no centro do peito, se estendem pelos braços, amarram as costas em uma camisa de força da qual parece impossível libertar-se. A cabeça lateja, forte, explodindo por dentro toda a raiva, todo o medo, todo o abandono, todo o cansaço. Os joelhos tremem, falhando ao sustentar o peso de olhos inchados. Uma incrível sensação de fragilidade, incompreensão e solidão se apossam do meu corpo. A dor causa ânsia, me sinto como uma vaca, regurgitando o que nunca foi engolido.
Neste estado de semi-vida, à beira de um desmaio, disco teu número absolutamente sem querer. Noutro dia mesmo, andando na rua, me peguei tentando relembrar teu número e fiquei feliz ao perceber que o havia esquecido. E então, nesse momento de quase inconsciência, ele vem naturalmente, como se meus dedos o discassem todos os dias. Como se te pedir ajuda ou resgate ainda fosse uma possibilidade.
Toca. Duas vezes. De repente, atino para o que havia feito e, em um estalo, antes de te dar a chance de atender, antes de me dar a chance de te explicar que havia sido um ato completamente inconsciente, antes de criar uma situação constrangedora de "bom, já que você ligou, me conte como vai a vida, o que tem feito? olha, desculpe mesmo ter ligado, foi sem querer (...)", antes de tudo isso, meu dedo aperta o gancho do telefone. Suspiro.
E então ligo para o número certo.
Para que o resgate chegue. O mais rápido possível.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

eu te vejo sumir por aí, te avisei que a cidade era um vão

quereres

Preciso comprar uma calça jeans nova, há seculos. Quero ler alguma coisa que me arranque sorrisos. Quero fazer mais amor. E dançar mais. Na sala, chacoalhando os cabelos. Preciso voltar pra yoga. E sentar mais corretamente. Preciso respirar mais vezes mais fundo. Quero trabalhar menos, cada vez mais. Quero voltar a cozinhar - gosto tanto e me faz tão bem! E programar meu ano novo.
Estou precisando dormir. Acho que por hoje é só.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

que cheiro bom...

...ficou em mim daquele abraço que não desgrudava. Abraço de reencontro. Enlace de cumplicidade e de vontade. De vontade de continuar abraçando, abraçados em outro lugar, noutro tempo com as mesmas histórias pra dividir. Abraço de apaziguar diferenças, de acolher olhos mareados por outros viveres. Abraço de compreender as incoerências entre racionalidade e sentimento - esse que pulsa e que não se pode controlar.

Que cheiro bom ficou em mim desse abraço... de despedida.
The sweetest goodbye.

p.s.: Adoro quando as coisas terminam bem.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

o mundo é dos meninos?

Estou lendo "O Segundo Sexo". Está sendo uma experiência. Durante essa semana estive em alguns ambientes eminentemente masculinos e na sexta voltei pra casa pensando em como estamos repentinamente deixando de realizar nossa feminilidade, aos poucos, e de maniera muito cruel. Estamos cada vez mais parecidas com os homens: menos sedutoras, menos fêmeas, mais fálicas e soberanas. Menos sensíveis, mais práticas. Estamos nos distanciando da nossa essência, da nossa intuição, do nosso poder criador, para legitimar nossa independência, para eliminar a humilhante memória inconsciente de sermos objetos e presas.
Mas não seria essa a nossa natureza biológica e instintiva?
SOMOS presas! E eles são os caçadores. E quando há presa querendo virar caçador... ai, a presa vira contra o caçador? É isso? (ou ficou confuso?).
O que mais tenho ouvido, não é de hoje, é a mulherada reclamar da solteirice. Ultimamente eu mesma, inclusive, ando perdendo as esperanças de achar outro grande amor e blasfemo por aí frases feitas sobre os homens. Mas está claro: a presa virou contra o caçador! Inconscientemente viramos rivais. Estamos competindo não sei o que, nem sei por quê, eles achando que queremos tomar o lugar deles, nós achando que eles devem nos aceitar assim: mais parecidas com eles. Nossa independência os intimida e nossa auto-suficiência os afasta. Conselho de um amigo outro dia: melhor ficar na moita, fingindo ser aquela mocinha de voz doce, gestos delicados, opinião frágil e mutável "Tanto faz", disse ele "porque no final quem bota o pau na mesa são vocês". Dei risada. E ele completou: "Não chame o garçom pra fazer o pedido. Deixe o cara fazer isso por você. Ele sabe que você é perfeitamente capaz de fazer isso, mas sente um prazer quase inexplicável ao te mostrar como ele é bom em adivinhar que você gosta de água com gás".

O título do livro de Beauvoir, "O Segundo Sexo", define a mulher como segundo mesmo, em ordem de prioridade. O primeiro - number one! - é o sexo masculino. De acordo com a escritora, o homem é o "Sujeito" desse mundo, e a mulher o "Outro".

Deve ser por isso que ficamos tentando virar hominhos... eu, hein?!

"A pessoa não nasce mulher, antes torna-se mulher".
Simone de Beauvoir

domingo, 18 de outubro de 2009

quadros

Subject: Coração
Date: Wed, 27 Feb 2008 04:34:11

Obrigada por ter me ajudado a pendurar os quadros: ficaram lindos! Há pequenas coisas que não se esquecem, cenas que nunca saem da nossa cabeça. Acho que uma delas é você soltando o parafuso e, ao tentar encaixar o quadro na parede e não sabendo onde colocar a chave de fenda, encaixou-a entre os dentes, com seu jeito frenético e desajeitado. Pequenos fragmentos que, sem razão, não se esquecem.
Espero poder te ajudar a pendurar os seus quadros também. E se eu não ajudar, por qualquer motivo que seja, gostaria que soubesse que eu gostaria de ter ajudado.
Um beijo, Beta

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

hoje preferi ficar com os cheiros de todos os abraços que ganhei.

sábado, 10 de outubro de 2009

por do sol no Planalto

Brasília me causou um certo desconcerto. É difícil imaginar como alguém pode ter concebido uma cidade como aquela e mais difícil ainda que ela tenha sido de fato concretizada, no meio do nada, espalhada como uma teia de aranha, propiciando a desagregação e a perda total do sentido de comunidade. A setorização da vida.
Tudo imenso: avenidas de seis pistas, sem vida, sem calçadas, sem crianças. Se fecho os olhos, consigo ouvir o ruído dos carros deslizando seus pneus no asfalto quente. Esse é o som de Brasília, acompanhado do canto de milhares de cigarras, saudando enlouquecidamente a primavera.
Contemplar os prédios do Niemeyer me tocou, não vou negar. Mas no instante seguinte, sentada no gramado em frente ao Congresso Nacional, bandeira gigante ao vento, fui invadida por um sentimento de repulsa. Descrença, asco, inconformidade, tristeza.
O céu é magnífico, é verdade. Às seis da tarde, se pinta de nuances furta-cor que criam uma atmosfera quase onírica. Nesse momento, parece que tudo flutua e a cidade torna-se apenas uma passagem, uma ponte suspensa. Esse momento quase me lembrou: eu deveria sentir mais orgulho em visitar a capital do meu país.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

as curvas da orla de santos

Hoje passei o dia trabalhando em Santos. A Tathi é a anfitriã são carlense mais santista que eu já vi. Além de termos tido ideias incríveis de projetos, ela me contou duas curiosidades que eu desconhecia e pude verificar in loco: 1) os homens santistas são lindos! É verdade. Foi difícil almoçar sem suspirar de alegria pela grata surpresa.
2) Inúmeros prédios da orla estão irremediavelmente inclinados, como a torre de Pisa. E continuam entortando. E ninguém faz nada a respeito. Já fui a Santos algumas vezes, mas achei engraçado atentar para esse fato justamente nesse momento. O solo da orla santista é arenoso e também antiga zona de manguezais. Ou seja, uma merda. "Não dá pra construir prédio aqui!". Será que ninguém pensou nisso?!? Não. Quer dizer, alguém na época deve ter pensado, e até falado sobre, mas não foi ouvido.
(crédito foto)
Erros incorrigíveis nos cálculos da profundidade dos alicerces dos edifícios causaram recalques e fragilidades nas estruturas.
Aliás, "recalque" é uma boa palavra: s.m. rubrica: psicanálise. Mecanismo de defesa que, teoricamente, tem por função fazer com que exigências pulsionais, condutas e atitudes, além dos conteúdos psíquicos a elas ligados, passem do campo da consciência para o do inconsciente, ao entrarem em choque com exigências contrárias (do Aurélio).

Inevitável a analogia.
Homens lindos e prédios recalcados?
Homens recalcados e prédios lindos?
Homens e prédios lindos e recalcados?

terça-feira, 6 de outubro de 2009

pitangas

Eu ando pela rua prestando atenção. Nas pessoas, no vento, na pouca poesia que o cinza nos oferece. Recorto o céu entre franjas de prédios, tento achar o horizonte que não há. Muitas vezes, absorta na música minha de cada dia, meu pão. Mas eu presto atenção. E no domingo, andando por aí, por aqui, por lá, vi o chão tingido de vermelho-alaranjado. E senti o cheiro daquele chiclete azedinho que comíamos quando criança. Na primeira, pisei firme e segui. Na segunda arvinha, reparei. Na terceira, parei. Parei em frente à pitangueira, pequenina mas robusta, subi no canteiro e me pus a catar pitangas. Senti a pungência de olhares constrangidos dos que esperavam o farol abrir, dos que se esforçavam pra não rir do mico daquela louca trepada no canteiro catando pitangas em plena Avenida Paulista.

Mas, meus caros, quantos em São Paulo ainda têm o privilégio de catar pitangas na rua em que nasceram?!?

domingo, 4 de outubro de 2009

inferno astral

Ando bastante perturbada. Já sentei pra escrever dezenas de vezes nos últimos dias e não consigo. Estou sem poder de síntese e desanimada. Tenho a sensação de inconclusão, de repetição, de insatisfação. Andei um pouco doentinha também. Devem ser os astros rodando confusos em torno de libra. Daqui a seis dias faço 28 anos e esse dia costuma ser muito importante para mim. "O dia mais importante do mundo no ano". Mas, às vesperas desse dia, sinto-me sozinha e bastante desorientada. Estou perdendo certezas, saudosista vazia, vacilante. Estou em processo de constante transformação, não aguento mais ser essa metamorfose ambulante. Não quero mais cobranças, auto-cobranças principalmente.

Queria ter uma chavinha pra desligar essa cabeça que não para e simplesmente experimentar a maravilha que é viver, como alguém que bóia numa piscina morna.

Só isso.

sábado, 3 de outubro de 2009

prenez soin de vous...

... e não me enche o saco!