domingo, 7 de dezembro de 2008

a insistência do amor

Escrevo para que você me leia. Você aí, no seu computador sob a mesa que compramos juntos, pode escolher se vai me ler, se vai me deletar, se vai me responder. Não importa. Eu apenas preciso escrever porque ainda há coisas que não fazem sentido. Talvez escreva também na ilusão de que você leia e volte, para que você leia e pense que há algo surpreendentemente belo em mim, algo que você não viu, algo que passou por nós despercebido. Mas isso também não importa, porque é apenas uma ilusão, você não vai voltar. Escrevo também para que você me ame. Ou mesmo que você não me ame, que essa leitura seja também uma forma de amor.

Mesmo que amar não seja assim tão fácil, você pensa, amar não é assim tão fácil quando já não se ama. Que depois do amor ter surgido, vivido e morrido e virado qualquer coisa feito uma planta ou qualquer matéria orgânica, não vai virar semente. Amar não é semente para virar planta e regar e cuidar e essas coisas tolas que a gente gosta de pensar quando está feliz, essa felicidade tola como são todas as felicidades e tudo mais que nos faz pensar que é possível recuperar o irrecuperável. Tudo isso você deve estar pensando agora enquanto me lê.

Ontem fiquei pensando nisso, no amor, na insistência do amor, como se o amor pudesse nos salvar do ódio, da loucura e até do desejo. Eu acredito nisso porque ainda te amo. Quer dizer, te amo e pronto (sem ainda). Porque amor que é amor não acaba nunca. Ele fica guardado numa gavetinha reservado pra aquela pessoa apenas. Então fiquei pensando se nem mesmo do amor o amor nos salvaria, mas acho que o amor nunca será suficiente para aplacar o amor.

Um amor tão grande, você entende? Nesse amor cabem os segredos que se escondem nas frestas da aparência, as falhas desse personagem que inventamos diariamente. Nesse amor cabe a histeria, cabem manias doces de arrumar pacotinhos de açúcar na mesa do restaurante. Nesse amor cabem o vício e o conflito, como também a compreensão do silêncio - que eu não tive, mas agora percebo que cabe. Nesse amor cabe a suavidade da pessoa mais sensível que conheci e também o arrebatamento necessário. Nesse amor cabem nossas forças e nossas fraquezas. Nesse amor cabe. Ponto.

Mas é preciso coragem para receber todo esse amor.
Eu entendo, você simplismente não tem essa coragem. O medo, o medo que nos paralisa, o medo que nos detém, o medo que nos faz recortar tudo em fatias.
Primeiro, segundo, terceiro.
O medo enumerando razões para me deixar.

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