sábado, 7 de abril de 2012

casamento indiano

Diariamente, os deuses indianos têm enviado pessoas especiais para iluminar meu caminho. Meu anjo de hoje foi Jatin, um moço bonito do deserto. Ele tem 27 anos, webdesigner, praticamente um playboy em jaipur, essa cidade "do interior", capital do estado do rajastão, com 4 milhões de habitantes. Jatin é sério, fechado, trabalhador. Ele pertence a uma alta casta, tem um carro bacana e, apesar de um pouco mal humorado, é bem gente boa. Um gentleman. Mas ele tem um problema: todos os seus amigos estao se casando - não, não só as minhas amigas que estão casando, tá?! "Aqui na índia, um homem de 27 anos precisa se casar, ou estar num relacionamento estável, o que não é o meu caso", disse ele enquanto me levava pra cidade rosa. "E daí?", perguntei eu ingenuamente. "E daí que meus pais já estão fazendo alguns movimentos para arranjar meu casamento. Sabe, as pessoas começam a perguntar se há algo errado, é constrangedor...". "E você vai aceitar isso?! Vai aceitar se casar com uma mulher que nem conhece e por quem nao tem nenhum sentimento??". "Eu nao tenho outra escolha", respondeu ele firme e convicto. "e depois que você começa a viver com uma mulher, você começa a gostar dela..." , essa frase saiu num tom mais resignado. Por alguns segundos, fiquei em estado de choque. Eu sabia de casamentos arranjados. Em angola já havia entrado em contato com essa realidade mais de perto, mas ontem mesmo durante o jantar conversava com uma conhecida indiana sobre isso e ela comemorava o fato das pessoas estarem se tornando um pouco mais esclarecidas e começavam a evitar esse tipo de absurdo. Então eu não entendi muito bem como o Jatin, bem apessoado, esclarecido, viajado, pudesse se submeter a esse tipo de costume. Passado o choque, pensei em reagir. Pensei, rapidamente, em pegar suas mãos tão belas, aperta-las com força, olhar bem no fundo dos seus olhos negros e pedir que ele se libertasse e buscasse seu amor. Pensei em suplicar com todo o meu amor, que diariamente distribuo por ai, que ele buscasse sua felicidade. Mas não fiz nada disso. Respirei fundo apenas e no fundo do meu coração aceitei o seu tipo de feicidade. "Espero que sua futura esposa seja uma boa mulher e que vocês se gostem muito quando se conhecerem", foi o que eu disse. Percebi, num instante, que uma coisa tão normal, quase banal pra nós, é na verdade um tesouro. Às vezes a gente se esquece do valor da liberdade.

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