sexta-feira, 13 de abril de 2012

noites do deserto - parte 1

Olha, descobri que sem marido eu nao fico! Em 8 dias de India, coleciono pretendentes. Este ultimo, um partidao, dono do hotel onde estou hospedada, hoje no cafe da manha me disse que meu pai poderia ficar com todos os seus camelos (dez, ao todo), se eu me casasse com ele - pega essa pai!!! Quem sabe nao eh a salvacao financeira da familia???? :)
Sei nao, viu?! To muito confusa com tantas referencias diferentes. Nem mesmo em Angola senti tantos choques culturais, tanta disparidade entre os generos, entre os habitos... realmente isso aqui eh outro mundo, a Marina estava certa quando disse que neste lugar voce entra em contato com partes suas intocadas.
Entao, meu partidao (o nome dele eh Ashok) me convidou para jantar na casa de sua familia, num vilarejo de mil habitantes a 40 km de Jaisalmer. Ok, vou contextualizar: estou numa cidade medieval no meio do deserto do Rajastao, fronteira com o Paquistao. O Forte, tipico nas cidades desta regiao, eh uma das principais atracoes turisticas e a vida gira em torno dele. No caso de Jaisalmer, ha uma particularidade: o Forte, que data de 1156 d. C., eh habitado. Muitas familias vivem dentro dele (inclusive meu hotel esta aqui dentro), em pequenas casas construidas com pedras encaixadas, sem cimento ou reboco. Pedras que sao tipicas desta localidade, cor de areia, cor de mel, cor de ouro. Aqui o tempo cessou, o relogio atrasou e vive-se a vida seca do deserto. Ja houve um tempo em que muitos anos se passaram sem que sequer uma gota de agua caisse sobre Jaisalmer. Hoje, as mudancas climaticas trazem chuvas anuais na epoca das moncoes (a partir de julho), mas dois dias depois de iniciadas as chuvas, este povo reza aos deuses para que cessem de enviar agua dos ceus... Surreal...! Eh nesta secura toda que me encontro.
...E voltando ao jantar na aldeia de Ashok, foi uma experiencia sobre a qual eu deveria me debrucar e escrever nos minimos detalhes. Foi um teletransporte a nao sei qual seculo, nao sei qual tempo perdido. Cozinharam, conversaram e comemos. Em silencio. As mulheres separadas dos homens, servindo-os como deuses no olimpo. E eu, por ser convidada, tambem comi separadamente, observando cada detalhe, a maneira como tudo era preparado, servido, ingerido, lavado... E o que eu puder escrever ou contar, sera pouco perto da riqueza ritualistica daquele simples jantar.
Voltando para o hotel, o vento da noite refrescava meu corpo. Senti, como aqueles dias na Huila, que esta eh uma experiencia que eu jamais vou esquecer.

P.S.: Obviamente, apos me pedir em casamento, Ashok esclareceu: "Bem, agora voce ja conhece minha familia, viu que sou um homem de bem e que nao sou casado... Pense bem na minha poposta!".
Eu so dou risada.

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