quinta-feira, 3 de maio de 2012

cuca fresca

Este post eh sobre muitas coisas - essa eh a desculpa que eu dou quando minha cabeca nao consegue organizar tudo que eu tenho pra dizer.
Estou revendo muitos dos meus conceitos aqui na India. Eh uma viagem transformadora porque todas sao, mas sobretudo porque resolvi mergulhar em mim - coisa que poderia ter perfeitamente feito no Brasil, mas nao sei porque resolvi fazer aqui. Enfim, como ja escrevi em algum momento, esta eh uma viagem pra dentro.
Comecei a fazer um tratamento ayurvedico (medicina tradicional indiana) de alguns dias. Procurei alguns medicos, fui conhecer clinicas e optei pela Dra. Usha - eu desconfio que as mulheres consigam entender mais sobre as questoes femininas, sera?
Conversamos por mais de uma hora, ela me fez muitas perguntas sobre meus habitos, meu estado de saude e como encaro as situacoes da vida. Depois de definido o tratamento, decidi comecar no dia seguinte - nao foi uma decisao facil: o tratamento seria via anal. Engracado, pensei, os indianos tem todo esse pudor com o corpo de nao poder se mostrar, se tocar... mas na hora de enfiar o dedo no cu do outro, tudo bem, ne?! E ao mesmo tempo, nos ocidentais temos toda a liberdade com o corpo, usamos fio dental na praia, mas em geral temos uma imensa dificuldade em lidar com o corpo-verdadeiro, com suas manifestacoes absolutamente naturais. Confessa ai que fazer coco na casa do cara onde voce dormiu pela primeira vez na vida eh a coisa mais facil do mundo?! Ou que voce nao vai morrer de vergonha se, no meio daquela festinha com seus amigos mais cools, sair correndo pra vomitar? Ishh, nao deu tempo de chegar no banheiro??? Ai voce quer abrir um buraco no chao e se enterrar ate ninguem mais lembar que voce existiu! E aquele pum que nao da mais pra segurar?! Voce se alivia fisicamente, mas o peso na consciencia nunca foi tao grande, fala a verdade? Ainda por cima, olha pro resto da galera que ta na mesma sala com aquela cara de "poxa, que sem nocao soltar esse peido aqui, hein?!".
Pois eh, aqui isso nao existe. Arrotos, escarros, vomitos e quetais sao manifestacoes NATURAIS do nosso corpo - justamente - e portanto consideradas com tal naturalidade. Quem foi o imbecil que inventou que a gente nao pode arrotar em publico?? Meu pai sofre de esofagite ha decadas e sempre foi um problema em casa quando ele passava mal durante as refeicoes. O coitado tinha que ficar aguentando caras feias e, constrangido, se levantava da mesa para que o corpo pudesse se manifestar em paz. Mesma coisa com os escarros: sempre achei deploravel a mania dele cuspir na rua, mas se eu nao tivesse engolido tanto catarro na minha vida, certamente estaria respirando melhor agora. Minha existencia estaria mais leve.
De maneira alguma acredito que seja justificavel a falta de higiene dos indianos e alguns habitos, que, apesar de saudaveis, sao muito radicais para minha mente obtusa ocidental. Mas acredito sim que temos muito o que aprender com eles. Nao, nao se preocupem: nao vou voltar pra casa sem simancol - certas coisas estao tao enraizadas em nossa cultura, que nem paramos para pensar se poderia ser diferente - so quando nos deparamos com situacoes opostas a tudo que praticamos ate hoje.
Trocando em miudos, meu tratamento foi tao simples quanto tomar um comprimido. A naturalidade com que a terapeuta me tratou foi tamanha que, no segundo dia, eu ja estava achando normalissimo. E depois de tudo, ganhei deliciosas massagens a quatro maos, saunas, e um oleo na cabeca "efeito-bala Halls". Minha cuca ficou fesquinha, fresquinha...

Em tempo: dentre todas as vontades do nosso corpo alheias a nossa racionalidade, a que considerei mais absurda de tentarmos conter (se eh que tem alguma menos ou mais absurda...) sao nossas lagrimas. Por que sera que elas sao motivo de tanto constrangimento e sempre associadas a tristeza?? Deixa vir, deixa chorar. Na melhor das hipoteses, seus olhos vao ficar limpinhose lubrificados, prontos para enxergar melhor as belezas do mundo. 

Nenhum comentário: