sexta-feira, 28 de agosto de 2009

again, again, again

Eu, pra variar, choramingava por um homem qualquer. Na sala de estar da nossa casa tipicamente inglesa, sentadas no chão, rodeadas por gatos, bebíamos Bacardi como água. A única regra era beber o suficiente para esquecer. Lá fora, frio. Do lado de dentro, aconchego. Talvez fosse a nossa latinidade ou o simples fato de nossos corações conseguirem conversar sem ressalvas. O cd do Sting que eu tinha acabado de ganhar da Pal comemorava nossa pré-ressaca. A faixa 01 "Brand New Day" foi a trilha daquela noite. Lembro de pedir inúmeras vezes pra ela voltar pra aquela faixa com aquela cadência de quem já passou do ponto: "agaaain, agaaain, agaaaain number óooone". E ela se levantava, cambaleando até o som, voltava para a faixa um. Acho que ela fez isso umas 25 vezes, até dobrarmos de dar tanta risada e não parar de falar "agaaaain, agaaaaain". Mesmo sem a música ter acabado, ela ia lá e apertava o botaozinho. E ríamos. Muito.
Coisa de bêbadas.
"My angel", foi como passei a chamá-la depois daquela noite. Ela me salvou de mais uma dor de cotovelo, cuidou da minha ressaca, e ainda se encarregou de aquecer outras geladas noitadas londrinas, com ideias mirabolantes, a boca sempre pronta pra um sorriso.
Faz 10 anos.
Tempos depois, nos encontramos em Buenos Aires. Recém-casada, orgulhosa de ser dona de casa, mulher trabalhadora, esposa, mas ainda conservava aquela menina traquinas de olhos grandes e brilhantes. Fez uma festa pra mim com empanadas, me apresentou seus amigos, seus pais, seus sonhos. Tomamos um porre rememorando os velhos tempos, ouvimos "Brand New Day", rimos muito. Choramos ao nos despedir.
Em seguida, a filha. A separação do marido.
"Às vezes a vida precisa de um 'agaaaaain'!", ela disse.
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Hoje percebi que não devia ter ficado tanto tempo distante de você.
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