sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

navalha na carne

Tenho ido muito ao teatro em busca de novas emoções, mesmo que efêmeras. Um pouco por necessidade profissional, um pouco por apego emocional. Não importa, aprendi a amar o teatro. Fato é que pouco tenho me emocionado. Poucos textos me tocam, poucas interpretações me arrepiam, muito poucas, diria. Pouco bom gosto, pouco refinamento é o que tenho encontrado. A cada novo ingresso adquirido, uma nova expectativa de encontrar um respiro à mesmice, à afetação, ao estereotipo. E nada.
Uma história sobre putas, cafetões e veados. Virulenta, cruel, dura, amarga. Mais estereotipada impossível. Mais do que uma navalha na carne, um soco no estômago, daqueles que deixam sem ar, que arrepiam a espinha. O formato de arena não poupa os espectadores: no início, tudo parece um grande circo de horrores, é rir pra não chorar - rir muito pra não chorar muito! Aos poucos, a platéia vai se calando, atônita, desacreditada. Gustavo Machado - que está mais gostoso que nunca, por sinal - vai habilmente construindo sua cafagestagem a ponto de ser odiado. Asqueroso. O patético de Gero Camilo é de cortar o coração. Maravilhoso! "Às vezes duvido se sou gente", diz a puta Neusa Sueli, interpretada por Paula Cohen, em meio a um monólogo atualíssimo-tapa-na-cara.
Mais que uma navalha na carne. Mais que uma história do submundo imundo - que permanece igualzinho ao de 1967, quando Plínio Marcos o levou aos palcos pela primeira vez. Mais que uma montagem chocante e sexualmente explícita. Essa é uma história de paixão, igualzinha a qualquer outra. Ao ver-se abandonada, mesmo mal tratada, a única pergunta que surge é: "Você volta???? Você volta, Vadinho???".
Finalmente encontrei o que buscava. Chorei. Me emocionei. Fiquei com taquicardia.

Você não volta.

Navalha na carne
texto: Plínio Marcos
direção: Pedro Granato
elenco: Gustavo Machado, Paula Cohen e Gero Camilo.
Terça a quinta, às 21h - R$15,00 (preço popular: dia 21/01 - R$2,00)
Centro Cultural São Paulo, até 19/02

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