quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

camarada do andar térreo

O Luiz é o porteiro mais legal que eu já tive. Acho que ele é, na verdade, o porteiro mais legal de todos os porteiros, até mesmo aquele do curta que a gente escreveu na época do Chama Filmes. Além de gente boa, ele é inteligente, amável. Estava de turno quando fui assaltada em frente ao prédio, quando levaram o carro do edu, meu computador e todas as nossas coisas. Acompanhou, atencioso, nosso desespero. Acompanha a ida e vinda dos meus pais, se afeiçoa a eles, pega carona com eles de vez em quando. Cuida do meu jornal, das minhas chaves, das minhas encomendas. Acompanha meus horários de saída e de chegada (quando cobre a folga do noturno), conhece minha rotina, meus visitantes mais frequentes, sabe a que hora interfornar e como avisar.
Ele estava de férias quando você deixou aqui as minhas coisas em sacolas plásticas vagabundas. Dei graças a deus de ele não estar por perto, por não presenciar meu choro convulsivo na portaria. Alguns dias depois, ele voltou. E soube ser discreto na medida certa, como só o porteiro perfeito sabe ser. Nunca perguntou uma palavra sobre você, mas logo notou que você não aparecia mais, que não precisava mais abrir a porta da garagem pro seu carro entrar, que eu não mais interfonava para avisar que você estava chegando e que eu deixaria a porta encostada pois estaria no banho. Seu olhar foi perdendo o brilho, parecia desconcertado como quem quer perguntar: "mas onde é que ele foi parar? O que foi que aconteceu?". Uma vontade louca de perguntar, mas sempre baixando os olhos sem graça, evitando me encarar.
Hoje ele estava de turno novamente. Notei em sua fisionomia um certo alívio ao me ver passar pelo portão com o Fernando. Uma alegria de camarada se esboçou no seu rosto. Lançou-me um olhar de cumplicidade que só mesmo eu poderia entender.
Tinha pensado em outra coisa pra escrever hoje, mas depois do ocorrido, achei que o Luiz merecia esse post.

Um comentário:

Diana Assennato Botello disse...

o Raimundo, o meu zelador/porteiro, adora gatos, fala manso, me chama de Dona Di e brinca com o Fellini.
Foi a minha melhor descoberta do Itaim desde que me mudei.
É impressionante como compartilhamos a nossa rotina com pessoas que nem imaginamos.
Lindo post.