sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

são paulo de luanda

Domingo mais uma vez ele tomou o avião e se foi. No caminho do aeroporto, pensativa no banco do passageiro ao seu lado, sua mão na minha mão, um aperto no peito. "Gostaria de ir com você desta vez, só por uns dias", disse-lhe.
Fechei os olhos e, por um instante, vi tudo como antes. Aquele estranho prazer em vivenciar o extremo do caos, a subversão dos valores e da (des)ordem das coisas. As conversas de quintal com a Marta. A doce kizomba do Pedro. A tarde no kimbo, mágica. Os passeios pela ilha com o Ruca. A bizarria de histórias só lá escutáveis e o desajeito de fotografar. A ingenuidade disfarçada do Manu. As aflições das descobertas. Aquela sensação de deslocamento e ao mesmo tempo de pertencimento profundo. A solidão bem acompanhada por uma nova eu.
Uma nova eu. Foi isso que Angola me deu. Às vezes finjo que esqueço, me salvaguardo com a minha ocidentalidade, me escondo atrás de referências antigas, falta-me coragem. Mas a verdade é que Angola descortinou para mim um outro mundo que eu não consigo mais (e nem quero) negar. Uma nova forma de viver e de conduzir a minha vida, a minha história.
Talvez seja essa a grande saudade: a do encontro. O encontro com algo novo que me mova, que me arrebate, que me assuste, que me incomode.
Deixa eu voltar...
Posso voltar? Apenas por alguns dias?

2 comentários:

Diana Assennato Botello disse...

quando você volta?
Queria reencontrar aquela nova você.
Saudades.

Anônimo disse...

Quando vc me falou no carro, não pensei que sua nostalgia estive tão latente.... nem que a sua passagem por aqui tivesse deixado raizes tão profundas em vc. Beijos, ti amo
Bbo