segunda-feira, 7 de setembro de 2009

o valor das coisas

Qual o preço da sua criatividade? E o seu conhecimento adquirido, acumulado, conquistado, quanto vale? Como dar um preço a uma boa ideia que nasceu de tudo que você viveu, viu, estudou e que agora está a serviço da humanidade?
Não, não falo só de direitos autorais. Essa reflexão vai além. Penso nesse mundo louco que transformou valor em sinônimo de preço. Até etimologicamente essas duas palavras pequeninas andam se confundindo. Várias situações nas últimas semanas me fizeram recorrer ao meu idealismo para tentar significar essa lógica perversa, que novamente me joga pra fora do sistema e me faz perceber que sim, estou dentro, mas completamente fora desse mundo.
É muito triste perceber que reduzimos tudo à materialidade e à imagem. Se de um lado esse elementos tornam o intangível palpável, por outro reduzem a possibilidades de acesso, de gozo, de fruição, de circulação. Pode parecer ingênuo, mas não consigo ver sentido no processo que leva a estabelecer o preço das coisas. Pronto: custa X. Um amigo outro dia me disse que está ganhando um dinheiro que eu considero justo para o trabalho que ele está fazendo. Ele também considera, senão não estaria fazendo. Mas fez uma ressalva: "Eu cobraria no mínimo o dobro se fosse pra fulano ou sicrano, mas tudo bem, tô apostando nesse projeto...". Aí eu falei pra ele: "Mas bicho, pra quem quer que fosse, por que você cobraria o dobro se esse preço te parece justo?!? Se paga tuas contas?". Ele concordou, mas não soube justificar. "Valor de mercado" ou qualquer outra frase feita foi o que usou.
Fico pensando por que achamos que precisamos sempre ganhar mais (?). A maior parte das pessoas que conheço acham que o que elas ganham nunca é suficiente. Mas suficiente pra quê? Em que momento acontece o clic em que nossas demandas vão aumentando, aumentando, aumentando... e até onde? E por que não conseguimos um segundo sequer para parar e pensar: de onde vêm essas demandas? São internas?
Necessariamente, dentro dessa lógica, nosso trabalho adquire mais preço à medida que o tempo passa. Mas será que adquire mais valor também? Será que a relação entre valor e preço é diretamente proporcional? E qual é o limite desse preço?
Acho que se chama ganância, mas não gosto dessa palavra. É feia e tem uma conotação unicamente negativa. E eu não acho que viver bem, com conforto e cercada de coisas boas seja negativo. Muito pelo contrário. Não sou uma pregadora da parcimônia e da abdicação material. Mas acho (já faz tempo) que está demais. O acúmulo é um conceito que não consigo internalizar, felizmente. Não faz sentido pra mim.
A vida é muito generosa. Tem pra todo mundo, inclusive pros que (ainda) não têm. Para mim, a abundância vem de sacar o tamanho do que você precisa. E quanto você vai cobrar/pagar pelas coisas que você (acha que) precisa.
Afinal elas têm um valor, antes de ter um preço.

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