segunda-feira, 25 de maio de 2009

27

Eu tava no meio de um show de rock, cantando em coro e balançando os braços vigorosamente. Adoro shows de multidão, rola uma energia incrível, uma vibração imensa sai daquele emaranhado de pessoas unidas pela emoção da música. Memorável o The Police, no Maracanã, a Di reclamando dos peludos sem camisa na nossa frente, o Ferracina infernizando, a Thata gritando Every Little Thing she Does is Magic. Outro do qual nunca mais vou esquecer é o do U2 no Morumbi. Fui sozinha nesse show e fiquei absolutamente fascinada com aquela imagem das arquibancadas brilhando como a via láctea enquanto o Bono cantava with or withou you. Minha memória de shows de estádio na adolescência ainda era de isqueiros acesos ao ritmo das canções, essa era a primeira vez em que exclusivamente celulares iluminavam as músicas. Enfim, lá estava eu, no meio do show do Oasis. Cantando em coro - podia ser don´t look back in anger, ou what´s the story morning glory. Não lembro. O que lembro foi que me bateu uma puta sensação de juventude e de liberdade. Olhei pra Di e falei "Eu tenho 27 anos, amiga. Tô tão feliz! Eu não tenho mais 42 anos, tenho 27!!!".

Convenhamos: eu nunca tive minha idade real. Sempre fui velhinha, desde que saí da barriga da minha mãe. Quando eu tinha 6 anos, era apaixonada por um menino do colegial, o Carlo. Ele devia ter uns 17 e quando a gente se encontrava na hora do recreio, ele me dava um beijinho e apertava minha bochecha. Acho que ele me achava uma criança fofinha. Mas eu era apaixonada (sério!): chegava em casa e contava que tinha ganhado um beijo dele "no cantinho da boca", especificava. Foi culpa dele meu envelhecimento na primeira infância, certeza! Aí eu fui crescendo: minhas responsas e minhas cobranças comigo mesma também começaram a ser de velhos. Fui me envolvendo com caras mais maduros. Em geral, os amigos também eram mais velhos. Meus papos eram "de velho" e eu era sempre a que ia embora mais cedo e tinha que ouvir "ai, como você é veeeelha!". E assim era...
Não mais que de repente, alguns anos de terapia surtiram efeito: uma porralouquice tardia e alguns capotes da vida me fizeram perceber que eu tinha realmente 20 e poucos. E como foi bom viver essa mudança no meu corpo, nas minhas relações, até a vitória percebeu que eu estava mais jovem, mais bonita, meis leve.

Aí, no meio do caminho (porque SEMPRE há uma porra de uma pedra no meio do caminho!), eu conheci os 40 antes mesmo de chegar aos 30. E como diz a mãe da Di - agora eu não vou lembrar exatamente da frase, mas é algo como: quem dorme na mesma cama, se assemelha. Enfim, virei uma jovem senhora de quarenta. E tava bem confortável, afinal, quem passou mais da metade da vida assim, não podia encontrar desculpa mais propícia para retomar o padrão. Mas depois de passar por uma dor que (se eu já não fosse tão velhinha) poderia ter feito eu envelhecer de verdade, uma dor que talvez não teria essa intensidade se eu tivesse 40 anos, uma dor que espremeu meu coração e chacoalhou meu cérebro, eu voltei a perceber que continuo tendo vinte e poucos - um pouco mais do que antes, mas ainda na casa dos 20.

Portanto: eu tenho 27 anos.
E preciso me lembrar disso todo dia.

2 comentários:

ju disse...

SE VOCE ESQUECER,
ME LIGA QUE EU TE LEMBRO.

Diana Assennato Botello disse...

preciso dizer que os vintepoucos te favorecem; melhoram a pele, tiram as arrugas e te levantam alguns milimetros do chão. Até meia-calça de quadrinhos pode. (que amôr)

Você está linda, e só tem 27 anos... olha que sorte, a sua!

Adoro vc, flor. Uma linda semana pela frente!

ps: "dos que duermen en el mismo colchón, se vuelven de la misma opinión".