quinta-feira, 5 de abril de 2012

a chegada

quando pisei no solo encarpetado do aeroporto internacional Indira Ghandi, senti uma emocao de quem volta pra casa: coracao na garganta, uma explosao de felicidade dentro do peito. Esbocei um sorriso espontaneo de crianca que durou longos minutos. Welcome to India! Era uma e meia de uma madrugada clara e abafada. Muito cansada e um pouco gripada, pedi com amor (ao meu anjo e) ao taxista que me enfiou dentro do black cab, para que ele me levasse direto ao hotel que eu havia reservado, e nao ficasse dando mil voltas tentando me levar pra outro lugar. Jedi era o seu nome. Ele tinha uma cara boa. Sorriu e disse "all right" em um ingles quase incompreensivel, o que nao impediu uma boa prosa no caminho ate a cidade. O local do hotel era a visao do inferno, ainda mais a esta hora da noite, tudo fechado e com fogareiros isolados iluminando a estrada. Ainda bem que o Joao tinha me avisado que o lugar era "assustador", senao eu teria saido correndo, ou mesmo pedido ao Jedi que me levasse a outro hotel. Mas resolvi encarar. Desci do carro e fui andando por uma viela lugubre ao final da qual supostamente encontrava-se o tal hotel. Acho que foram os segundos 50 passos mais tensos da minha vida - os primeiros foram em Panama City, quando fui parar num bairro igualmente bizarro cercada por cafetoes e traficantes. Enfim... no hotel, o recepcionista dormia confortavelmente sobre um lencol estendido no hall. Caraca, a India eh impressionantemente caricata! Ele nao estava muito comunicativo. Fato eh que queria voltar a dormir logo e foi me dando a chave do quarto: "good night, mam". Ok, good night so se for pra voce! Como eh que eu vou ter uma good night num quarto sem janelas, aparentemente - e apenas aparentemente - limpo (eu adoro usar eufemismos!), e com lagartixas prestes a despencar do teto sobre a minha cama??? Apesar do cansaco dilacerante, dormi apenas algumas horas. O calor era insano, o lugar era insano, na verdade, eu sou insana! Pra que, me perguntei, pra que eh que eu fui deixar minha vidinha insular pra passar por isso??? Minha casinha de frente pro mar, Valentina, rede na varanda, meu preto me fazendo carinho... pra dormir com lagartixas em NOva Delhi?!??!?!?! Contudo, curiosamente, aquela sensacao de felicidade do aeroporto nao havia desaparecido. Tentei controlar o desespero e me lembrei de que, depois de tudo passado, a serenidade que brota eh incrivel e o que foi vivido faz sentido profundo. Foi assim com Noronha, onde muitas vezes me perguntei o que estava fazendo com a minha vida... Confio que sera assim tambem com esta viagem.
Depois de despertar 50 vezes no sono da manhazinha, resolvi levantar e encarar o dia - sem saber muito por onde comecar: procurar um hotel melhor ou resolver rapidamente o que precisava em Delhi para sair daqui o mais rapido possivel?? Estava muito confusa e perdida. Ha muito tempo nao me sentia assim. Muitas buzinas - quero dizer MUITAS mesmo: Napoli + Roma + Atenas + Sao Paulo na hora do rush elevado ao cubo! Todo mundo anda junto na Main Bazaar Rd. Rickshaws, velhos, taxis, motos, cegos, vacas, bicicletas, criancas, gringos...nos dois sentidos, um no sentido do outro, tanto faz, o importante eh buzinar! Tudo se auto organiza da maneira mais caotica possivel. Enquanto a velhinha quer ler minha mao, o cozinheiro me oferece pesteizinhos fritos na hora ao lado do senhorzinho que vende remedios ayurvedicos e incensos. Me sinto alimentada por tantos estimulos que nem tenho fome, ou vontade de comer. Peguei o metro, lindo e organizadissimo (de verdade), e fui comprar minha camera nova e um telefone indiano (ra!). Falei com o Brasil, comi um delicioso e apimentado falafel de lentilhas e espinafre e fui dormir feliz. Sabe que agora, ha poucas horas do desespero que durou poucos minutos, nem tudo eh tao ruim quanto parece, tudo depende de como a gente olha. E pretendo manter um olhar inocente e curioso pras coisas, pras pessoas, e me divertir com as coisas que derem "errado". Mudei pra um quarto com janela e, no apice da insonia, vi que a lua la fora ta linda, quase cheia.
Se vemos a mesma lua, nao estamos assim tao distantes, nao eh mesmo?

2 comentários:

Cecília disse...

Linda lua, linda prosa, linda você! Os olhos dão lugares ao que primeiramente não vemos, mas ao que sentimos! Bóra Beta, seus "ditos" fazem meus olhos, darem lugares ao que não vejo!! Boas viagens!!beijos

Fernando Marinho (Na lua) disse...

Seria eu, o mais catarrento deste blog. Lendo insanamente vários posts para ficarmos conectados,buscando os momentos em que fui citado. Eu te amo tanto, mais tanto...meu coração anda saltando a cada prosada. Linda,Continue olhando pra lua. Não esqueça que ali eu estou, habitando e esperando alguém chegar de vênus...