terça-feira, 7 de julho de 2009

para um amor no recife

A vida serpenteia sorrateira quando estamos destraídos olhando para o céu. Não avisa momento de chegada. Nem de partida. Nem de final, feliz ou infeliz. A vida simplesmente acontece enquanto lixamos as unhas. A vida é surpresa. Das grandes. Das boas.
Eis que uma dessas frações de vida estava lá: sentado na areia, contando nuvens. Cannabis Sativa entre os dedos, olhava como quem procurava. A outra caminhava entediada pela praia semi-deserta, o sol a pino. Olhava como quem achou.
Encontraram-se. Embrulhados para presente, um para o outro.
Deram-se.
Iniciaram sem palavras, seguiram sem palavras. Reconhecendo corpos descobertos, convidaram-se para o mar. Sabiam ser somente aquilo que os unia, aquele momento o único que fazia sentido. Do mais, não sabiam. Um do outro nada sabiam. Passariam mais de cem anos de desejo ensurdecedor sem que se tocassem novamente, mas tinha de ser: frações de vida não se encontram assim por acaso. E não havia coração ali que chegasse. Era puro corpo que explodia, que tremia, que louvava... Quando uma onda desmesurada e revolta, com aquela força que só uma onda pode ter, então os apartou. Desataram. Soltaram-se mãos, laços, ventres. Escorregaram para fora d´água sem fôlego nem perdão.
Sem fôlego.
Sem adeus.

Um comentário:

Diana Assennato Botello disse...

que delícia essa sua prosa.
Benza deus.