quinta-feira, 24 de novembro de 2011

(des)gosto

Escolhi minha profissão de formação com muita calma. Sou privilegiada: fiquei passeando pela Europa e pensando no que fazer da vida. Tive apoio incondicional dos meus pais quando decidi que jornalismo era o que mais se aproximava do que eu amava: comunicação. Estudei com a crème de la crème dos que agora são "formadores de opinião" da sociedade em que vivo. A sala de aula foi importante, claro, mas muita serramalte gelada regava as melhores reflexões que brotavam das aulas do Faro, do Silvio Mieli, da Sandra Rosa. Sinto saudades desta época em que eu ainda acreditava num jornalismo possível. Minha carreira como jornalista foi curta e dolorosa. Curta porque dolorosa e dolorosa porque curta. Foi mais forte do que eu verificar que o jornalismo não era nada do que eu sonhava, era apenas mais um jogo sujo de poder, uma batalha de egos de quem decide o que vai na capa de não sei onde pra prejudicar ou privilegiar fulano ou sicrano. O que me doía era que muitos dos jornalistas que me cercavam não se valiam do verdadeiro poder que têm em mãos, mas se submetiam à chefia, escrevendo matérias enlatadas, sem espaço para reflexão ou crítica. O que me dava desgosto profundo era ver que grande parte dos meus colegas se achava super cool, ligando-se ao status ilusório que esta profissão carrega, cultivando olheiras como troféus. Assim, optei por me afastar completamente do jornalismo. De leitora assídua, hoje posso dizer que mal leio o jornal e, quando leio, me dá dor de estômago. TV então, não assisto há mais de anos... E eu nem sei mais pra onde esse texto tá indo, acho que ele já tem vida própria. Estou falando de uma coisa muito importante e cara para mim e os sentimentos se confundem... a verdade é que eu gostaria de ter sido mais forte e não ter abandonado o jornalismo, mas foi uma opção pela vida. Acho que os que se mantém jornalistas hoje em dia, por idealismo, são comparáveis a professores ou médicos: é por amor ao ser humano, por de fato acreditar que escrever, proferir, registrar algo diferente pode gerar a mudança. Estes são muito mais do que jornalistas: são comunicadores. E isso eu posso dizer com certeza, deixar de ser jornalista foi tão libertador que me tornei uma comunicadora. O gosto amargo de uma mídia corrompida ainda permanece, mas sei que somos muitos do lado de cá, acordando todos os dias para causar no mundo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Voce é linda!!!
Que a sinceridade e a verdade continuem iluminando seu caminho.
Tenha a certeza mais ABSOLUTA,que essas virtudes são as que imperam e imperarão.
Beijinhos com afeto