quarta-feira, 24 de agosto de 2011

saudades de você

Ando de saco cheio desses hóspedes. Descobri, nestes poucos meses de experiência no ramo hoteleiro, que ser uma boa recepcionista é MUITO difícil. Chamar o hóspede pelo nome, perguntar como foi o passeio, preparar um mimo, sorrir sempre, estar sempre disposta a conversar, contar sua história, fazer indicações certeiras sobre o que ver, onde e o que comer, providenciar todas as solicitações em 5 minutos e, acima de tudo, fazer cara de paisagem quando eles começam a xingar seu país, reclamar da perereca que entrou no quarto ou do buggy que quebrou no meio do caminho... é foda!!!!!!! O ser humano é muito louco! É bem legal, por outro lado, fazer parte do sonho dessas pessoas. A maior viagem é você indicar um lugar e dar tudo certo, eles voltarem satisfeitos e te agradecerem por isso, dizendo que foi inesquecível. Raro, mas acontece. Eu mesma, que nunca fico em hotéis chiquetosos quando viajo, guardo lembranças incríveis de pessoas que me hospedaram e que me cobriram de atenção e carinho. Então, via de regra, procuro fazer o mesmo, mas está sendo difícil ultimamente. Só que hoje chegou um casal de espanhóis muy distinto. Muito rico, muito raça-superior. Olhei pra ele, que deve ter seus setenta anos, e tinha todas as razões para considerá-lo mais um chato-perguntador-de-coisas-exóticas-e-repetitivas. Ao contrário disso, me bateu uma incrível ternura. Não fez muito sentido, mas cuidei do check in deles de maneira exemplar, apresentando a pousada e conversando sobre o céu azul, o mar e a paz. Ambos muito sérios, foram se derrentendo com minha receptividade. Foram ver o pôr do sol na praia, programaram passeios e sairam pra jantar. Nessa hora, entraram na recepção para entregar as chaves e o Sr. Luis me disse: "sabe que você se parece muito com a minha neta?". Eu fiquei em silêncio por alguns segundos. E de repente, entendi tudo: "...sabe que o senhor se parece muito com meu avô?!", respondi. Ambos sorrimos. Ele deixou a chave em minha mão e, junto com ela, um olhar profundo, como quem traz um recado. E um perfume intenso que meu velho sempre deixava em mim quando passava, onde quer que fosse.
Olhos mareados. Vida curta pra tanta saudade.

Um comentário:

Anônimo disse...

que lindo, beta!
Filé