Teria dado uma boa foto: encostada naquela parede de um azul bonito, apoiada numa só perna, a outra dobrada com o pé sujando a parede azul - como as mães dizem que não pode fazer quando a gente é pequeno -, o olhar perdido entre gays, velhos, casais, finjo observar todo mundo entrando, mas só espero você descer as escadas sorrindo, carregando algum papel na mão como sempre, sinestésico como eu. Espero o seu olhar buscando o meu no meio da multidão, a breve aflição por pensar que eu poderia não estar ali encostada com o pé na parede azul bonita. E então, quando você entrasse, iria desviar o rosto pro chão e fingir que não me viu, só pra eu te ver primeiro e puxar teu sorriso. Aí você iria chegar certeiro em mim, sorrindo. E colocar os braços entre os meus ombros, prensando levemente meu corpo contra a parede azul, me deixando sem ar sem sequer precisar me tocar. E eu iria suspirar de alivio por você ter chegado, tão pontual, tão preciso nos seus gestos delicados, nos seus movimentos cotidianamente calculados.
Encostada na tal parede azul, o tênis sujando o azul que alguém pintou com cuidado, eu pensando "cadê você?". "vem, estou aqui te esperando, te procurando. te reconheço no meio dessa gente toda, pode vir!". Ganas de me fundir com aquele azul profundo, eu me perguntava "mas cadê você?". "por que você não chega? onde é que você está?". Os atrasados entraram apressados, repararam em mim, imóvel na parede azul bonita. Ao toque do terceiro sinal, suspirei, não de alívio, mas de cansaço. Desamarrei cuidadosamente os cadarços e deixei ali, ao pé da parede, meu all star vermelho. Pra se acaso você chegasse.
3 comentários:
esperar por quem não vem, uma longa espera...
beijo!
wow... que coisa(, que) linda !
bjs
p.s. curioso, e há quem não chegue !?
há. infelizmente.
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