Acordei o sol alto já aquecia o quarto. Uma fresta de claridade penetrava pelo blackout mal fechado. Espreguicei o corpo, nenhuma dor [sorri: raramente nada dói em meu corpo]. E neste momento único de se encolher e se esticar no lençol quentinho da manhã, piscando as palpebras lentamente pra deixar o mundo entrar aos poucos, lembrei do seu olhar desabando luz em cima de mim. E não sabia mais se era sonho ou memória aquele rio correndo forte, os seus braços fortes correndo pelas minhas costas, num abraço de não ter fim. Nós correndo sobre aquela ponte até o (des)fôlego fazer as pernas pararem, a espontaneidade dos gestos, a liberdade das palavras, e o seu olhar-feito-luz sem desviar, num misto de admiração, desejo, respeito e amor. O amor, outra vez, preenchendo os poros. Na nossa gana de buscar outras possibilidades de amor, a vontade de não ir embora nunca.
Apesar do frio, apesar da hora, apesar dos outros.
Olhei pro lado e encontrei anotado numa folha amassada sobre o criado-mudo: "até o verão...".
E ainda não sei se foi sonho ou memória.
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