Estamos sempre preparados para falar, contar nossas mirabolantes histórias, nossas experiências mais incríveis. Temos opiniões formadas sobre a política, a crise, a Lei Rouanet, frases prontas que solucionam a fome no mundo em 30 segundos. Temos conceitos formados sobre a lógica masculina, ideias pré-concebidas do neguinho que se aproxima do retrovisor pra vender chicletes.
Estamos sempre preparados para falar. bla bla bla. Cada vez menos em contato com o silêncio. E cada vez menos atentos para a escuta. Ninguém quer ouvir nada. Nos fingimos interessados pela opinião do outro, mas queremos contradizê-la, fazer com que a nossa prevaleça - como se isso levasse a algum lugar. Pensamos estar ouvindo conselhos, mas na verdade, já estamos é pensando na resposta que vamos dar àquela frase. Estamos centrados em nós mesmos, na maior parte do tempo. E mesmo quando parece que queremos ouvir o outro, lá no fundo, no fundo mesmo, não queremos. Só ouvimos o que queremos, e o que não queremos ouvir - mas mesmo assim escutamos - nos ofende. Nos fere que o outro diga algo que não queremos ouvir. Nos ofende que ele não tenha a sensibilidade para compreender que não queríamos ouvir aquilo.
Mas falar nós queremos, sempre.
Penso em amizades frágeis que andei construindo pelo caminho. Penso na incapacidade do diálogo verdadeiro, no melindre exagerado, nas entrelinhas interpretadas e nunca esclarecidas. Não tenho medo de falar. Tenho falado cada vez menos, mas ainda demais. Muitas vezes e sem perceber, falo o que os outros não querem ouvir. Tenho buscado ouvir sempre mais, uma ponderção que aprendi com a Lou. Um exercício diário de compreensão de mim mesma. Nem sempre consigo, nem sempre tenho disposição. Mas pelo menos eu quero. Por mais difícil que seja, eu quero ouvir.
2 comentários:
Querida Beta,
Gosto muito do seu modo de escrever, como comunica suas idéias, pensamentos e sensações.........gosto também do seu gestual, ...e agora aprendo com suas reflexões. Concordo com você que queremos mais falar que escutar o que os outros tem pra dizer, mas acredito que podemos aprender, todo dia um pouco.Um abraço da sua admiradora Lourdes
funciona assim: faça um pequeno furo em duas latas (dessas de molho pronto de pizza) e amarre um barbante, unindo-as. Agora é só utilizá-las como um telefone, cada pessoa numa ponta. Ou então cortar a linha.
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