Estou tão calma que é de estranhar. Uma tranquilidade mansa de quem deitou na rede à sombra depois do banho. Desconfio. Não porque eu seja puramente desconfiada, mas porque sei que essa calma é perigosa: é o prenúncio de algo muito intenso e arrebatador, como diria minha amiga mais arrebatável. Essa calma é assustadoramente boa. É boa porque segura, porque acalanta. Mas assusta porque sei que não vai durar. É demais pra mim. Preciso de um pouco de emoção, preciso me encolher de frio quando está calor para me sentir viva, passear na montanha russa dos sentimentos, do amor ao ódio, da raiva ao exercício do descontrole. Sentir o desconforto é um estranho modo doentio que encontrei para fazer sentido neste mundo.
Não aceito essa inconstância como algo natural. Ela é anômala e às vezes tenho a sensação de que vai me enlouquecer. Mesmo. De que vou virar uma daquelas louquinhas de hospício que bate as mãos contra a cabeça.
Os dias têm sido agitados, socialmente movimentados, com muitos acontecimentos importantes. Estou lotando a minha vida, colecionando histórias, costurando outras tantas e isso me faz sentir feliz. Estou fazendo diferença na vida de uma porrada de gente e deixando que essas gentes também me levem para outros lugares onde nunca estive. No fundo, aprecio essa minha capacidade meteorológica de manter a calma mesmo prevendo a próxima tempestade. E quando ela chegar, que venha!
"Não existe coisa mais triste que ter paz, e se arrepender, e se conformar, e se proteger de um amor a mais. O tempo de amor é tempo de dor. O tempo de paz não faz nem desfaz. Ah, que não seja meu o mundo onde o amor morreu".
(Vinícius de Moraes - Afrosambas)
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