Peço desculpas aos leitores que não aguentam mais a minha melancolia: ela vai passar. Enquanto não passa, tenho que utilizá-la de alguma forma, para me resgatar aos poucos. Deixo-lhes um achado de leituras de dezembro. P-E-R-F-E-I-TO.
"Deixando de lado os motivos, atenhamo-nos à maneira correta de chorar, entendendo por isto um choro que não penetre no escândalo, que não insulte o sorriso com sua semelhança desajeitada e paralela. O choro médio ou comum consiste numa contração geral do rosto e um som espasmódico acompanhado de lágrimas e muco, este no fim, pois o choro acaba no momento em que a gente se assoa energicamente.
Para chorar, dirija a imaginação a você mesmo, e se isto lhe for impossível por ter adquirido o hábito de acreditar no mundo exterior, pense num pato coberto de formigas e nesses golfos do estreito de Magalhães nos quais não entra ninguém, nunca.
Quando o choro chegar, você cobrirá o rosto com delicadeza, usando ambas as mãos com palma para dentro. As crianças chorarão esfregando a manga do casaco na cara, e de preferência num canto do quarto. Duração média do choro, três minutos".
Julio Cortázar, Histórias de Cronópios e Famas
Um comentário:
eu preferia estar assim...
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