sábado, 10 de janeiro de 2009

floresta encantada

Tenho uma novidade: coloquei um tapetinho na minha sala. Quadrado. Comprei numa tarde esturricante em Novo Airão. O artesão não me avisou, deixou que eu o comprasse, assim, displicentemente, como quem leva apenas um tapete de palha. Embrulhou-o com cautela, não disse nada. Trocamos algumas ideias sobre a cooperativa e, com toda a simpatia, nos mostrou as matérias primas com as quais trabalham. Não falou nada a respeito do tapete, apenas o preço. Não lançou olhares estranhos e sequer me deu dicas, nenhum delicado sinal sobre o objeto adquirido.
Carreguei meu rolinho pacientemente durante o resto da viagem. Tirei fotos com ele, levei para passear. Etiquetei como bagagem de mão. Mal podia esperar para vê-lo na minha sala.
Cortei os laços que o atavam, estendi, posicionei obliquo. Joguei duas almofadas por cima e me sentei sobre ele, realizada. Por que aquele artesão nada me dissera? Por que não me prevenira para tal surpresa? Alguns minutos após sentar-me, eu estava na floresta encantada. Com o Keka. O motor da voadeira desligado, apenas o ruído suave da corredeira. Apenas a cor âmbar do igarapé, o desenho antropofágico das folhas milimetricamente posicionadas sobre os galhos. A floresta submersa, todos os seus segredos revelados pelo reflexo perfeito.
A ilusão mais real ou a realidade mais ilusória?
Difícil colocar em palavras.
Agraciada, retornei para minha sala. Assim como a floresta, meu tapete também era encantado. Descobri, na verdade, que ele é voador e me leva para lá sempre que sobre ele me sento. Não sei se todos os tapetes produzidos pelos artesãos de Novo Airão têm essa qualidade. Desconfio que não. Penso, inclusive, que nem todos que se sentarem sobre ele poderão visitar a floresta mágica... Para tanto é preciso enxergar com outros olhos. Agora consigo compreender melhor porque o artesão não me avisou: surpresas são muito melhores quando permanecem surpresas.
E descobertas são mais valiosas quando nascem de surpresas.

Um comentário:

Diana Assennato Botello disse...

Delícia de post.
Pegue o seu tapete encantado e venha me visitar essa semana?
O meu não é tão encantado assim, mas exerce uma certa magia fisiológica sobre o Fellini, rsrs.
Saudades.