Tenho ido muito ao teatro em busca de novas emoções, mesmo que efêmeras. Um pouco por necessidade profissional, um pouco por apego emocional. Não importa, aprendi a amar o teatro. Fato é que pouco tenho me emocionado. Poucos textos me tocam, poucas interpretações me arrepiam, muito poucas, diria. Pouco bom gosto, pouco refinamento é o que tenho encontrado. A cada novo ingresso adquirido, uma nova expectativa de encontrar um respiro à mesmice, à afetação, ao estereotipo. E nada.
Uma história sobre putas, cafetões e veados. Virulenta, cruel, dura, amarga. Mais estereotipada impossível. Mais do que uma navalha na carne, um soco no estômago, daqueles que deixam sem ar, que arrepiam a espinha. O formato de arena não poupa os espectadores: no início, tudo parece um grande circo de horrores, é rir pra não chorar - rir muito pra não chorar muito! Aos poucos, a platéia vai se calando, atônita, desacreditada. Gustavo Machado - que está mais gostoso que nunca, por sinal - vai habilmente construindo sua cafagestagem a ponto de ser odiado. Asqueroso. O patético de Gero Camilo é de cortar o coração. Maravilhoso! "Às vezes duvido se sou gente", diz a puta Neusa Sueli, interpretada por Paula Cohen, em meio a um monólogo atualíssimo-tapa-na-cara.
Mais que uma navalha na carne. Mais que uma história do submundo imundo - que permanece igualzinho ao de 1967, quando Plínio Marcos o levou aos palcos pela primeira vez. Mais que uma montagem chocante e sexualmente explícita. Essa é uma história de paixão, igualzinha a qualquer outra. Ao ver-se abandonada, mesmo mal tratada, a única pergunta que surge é: "Você volta???? Você volta, Vadinho???".
Finalmente encontrei o que buscava. Chorei. Me emocionei. Fiquei com taquicardia.
Você não volta.
Navalha na carne
texto: Plínio Marcos
direção: Pedro Granato
elenco: Gustavo Machado, Paula Cohen e Gero Camilo.
Terça a quinta, às 21h - R$15,00 (preço popular: dia 21/01 - R$2,00)
Centro Cultural São Paulo, até 19/02
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