A vida tem sido generosa comigo, não posso reclamar. Aliás, sempre foi. E eu, entre tropeços, sempre reclamei. Agora chega, é hora de reconhecer: sou feliz pra caralho.
Mesmo nos momentos mais cruéis, tenho conseguido sentir com clareza e serenidade que tudo está bem, como deve estar.
Ele se despede da vida, à beira dos 83 anos. É triste, claro, mas foi mais que bem vivida! Fui comemorar sua morte, no bar, como ele gostaria, me divertindo, dando risadas e contando estórias.
Ao voltar pra casa, há poucos minutos, senti um leve perfume de dama da noite, uma das plantas preferidas do seu jardim. "Que cosa, no? Parece que está dentro de un vaso de perfume!", ele dizia com seu sotaque enquanto ia nos acompanhar até o carro, depois de jantares de verão. Isso já faz tempo, era quando ele cozinhava suas iguarias das quais se orgulhava tanto.
Saí à procura da planta, deveria estar por perto afinal. E estava. Parei um instante à sua frente, agora inebriada pelo intenso perfume. Mesmo molhada, aquela micro-flor tinha um odor tão poderoso, realmente o velho tinha razão, parecia que estava dentro de um vidro de perfume.
Colhi alguns galhos da flor, trouxe para enfeitar minha sala em sua homenagem. Amanhã vou levá-los para me despedir muito perfumada, como ele certamente gostaria.
Vai, meu velho, vai. Que a vida é muito mais que isso.
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