Não me reconheço. Ando sumida de mim mesma. A vida não está.
Eu sempre disse que a indiferença é o pior dos sentimentos. Vazio. É assim que
a vida está: indiferente a mim. Ela está passando por mim. De relâmpago,
esqueço-me de tudo de tão bom que já fiz e já vivi, de tudo que realizei, do
tanto que aprendi e ensinei. De nada valem os caminhos que viajei, o tanto que
aproveitei, ri e chorei de rir, de como eu sou corajosa, audaciosa, intensa e
bem intencionada. De repente, talvez tudo tenha que voltar a ser como era
antes. De repente, eu não tenho certeza nem do meu próprio nome, nem da senha
do cartão de crédito, nem do que me causa brilho nos olhos. De repente eu
desisto de ter filhos, sonho de criança. E meu horizonte, por mais amplo que
todos os dias majestoso se apresente, de repente se torna restrito, curto,
limitado. Como é difícil dizer adeus ao que se ama! E jogar-se novamente no
vácuo, começar do zero, mas nunca mais a mesma depois daqui. Quando a cor mais
bonita do mundo pintou o céu uma tarde, eu lembro de ter falado: “pode até ser
besteira o que vou dizer, mas sinto que esses são os meses mais felizes da
minha vida”.
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