domingo, 4 de julho de 2010

dora

Hoje o almoço de domingo em família contou com um membro sui generis. Ela foi "adotada" pela minha vó Marina, lá nos idos anos de 1983, quando começou a trabalhar em sua casa como empregrada doméstica. Eu tinha uns 2 anos de idade. Minha nonna, com seu português mal ajambrado, tentava ensinar àquela então jovem menina do interior de Minas Gerais alguma palavra que fizesse sentido, a assinatura do próprio nome, ou a contar o dinheiro do paozinho francês. De pouco adiantou: Dora permaneceu quase completamente analfabeta. Mas passou a considerar a minha avó como mãe, e talvez tenha sofrido mais do que todos nós quando ela se foi, em 1992. Acompanhou de perto o câncer da sua mãe de adoção, suas idas e vindas do hospital, cuidou dela como uma filha devotada. Me viu crescer e nutriu por mim o amor de uma irmã mais velha. E nunca perdemos o contato. Para ela, eu continuo sendo a Nina, aquela menininha de 3 anos. Aos meus olhos, ela não envelhece, apesar de seus 51.
Só que Dora parou no tempo. Com sua voz de criança, ela fala da minha avó no presente, como se ela ainda estivesse viva, e sua mente oscila entre a racionalidade lúcida e o seu mundo de palavras inventadas. Hoje por exemplo, ela disse que a atual patroa quebrou a "veícula", querendo dizer "clavícola". Também tentou explicar o que ela chama de "dinheiro grudado" - uma nota de R$ 20,00 que na verdade são duas de R$ 10,00 grudadas. Será isso?!? Ela começou a ficar nervosa tentando se explicar, então achei melhor entender assim...
Este mundo é muito confuso pra ela. Não é loucura, é um "mundo-dorado" todo particular, misto de ingenuidade infantil e manias de uma pessoa bem velhinha.

Os domingos ficam muito mais genuinos e generosos quando ela está por perto.

Um comentário:

Anônimo disse...

lindo, beta! me lembro minha avó. bjs
ju