Não consigo dormir. Estou exausta, os olhos pesados, o pescoço dolorido: realmente gostaria de dormir. Mas uns meninos de rua com a cabeça cheia de cola insistem em gritar aqui em frente. Gritam e dão risada. E abrem lixos. Descobriram muitas garrafas dentro de um saco e se divertem ao quebrá-las. Vou até a varanda, um cheiro bom de maresia. Olho pra baixo e os vejo. São cinco, sentados na calçada, quebrando garrafas pra ameaçar enfiar na jugular de alguém e depois serem jogados numa penitenciária qualquer como ratos, longe dos nossos olhos, pra não perturbarem mais nosso sagrado e merecido sono.
Percebi então, que, na verdade, não era o barulho que eles faziam que me impedia de pegar no sono. Era o próprio fato deles estarem ali junto com a minha impotência, minha agonia, minha tristeza. Mais uma vez, esse maldito fosso entre mim e esses meninos me cortando como navalha. Me lembrei de Angola, do pai que hoje atirou o filho do 18 andar e depois se atirou também, do medo que paralisa, da vida que me olha dessa varanda e passa, da música do Pedro Guerra. Niño del dolor que cuelga de los coches y aspira oscuridad crescida de la noche. Ninõ del dolor, sin nada a que agarrarse, perdido en la ciudad ya es parte del paisaje. Como basura por los rincones. Como los perros, intentando vivir. Viviendo...
E por fim, lágrima.
Leminski.
"Noite sem sono
O cachorro late
Um sonho sem dono"
Um comentário:
Oi, Roberta.
Foi Augusta quem me indicou seu blog. Hoje resolvi te fazer uma visita e adorei seus posts.
Eu também tenho um blog, chamado fiéis companheiras.
Aguardo sua visita!
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