Ontem desenhamos desejos para este novo ano. Eu fiz uma casa na praia com gramado, coqueiro e rede de balançar. Você me ajudou a colorir e depois desenhou um sol. Mas o que ontem era uma garatuja, do dia pra noite se transformou num sol com raios. A surpresa de ver brotar daquele papel formas mais conhecidas por mim, me fez brilhar os olhos, como um passo antes da escrita.
Nestes dias de férias, em que a intensidade da convivência não é pouca bobagem, testemunhar suas conquistas tem me feito chorar. A cada pedalada na sua bici nova, você abre um sorriso de satisfação que nunca vi em nenhum outro rosto. É um milagre. E quando você cai, meu coração vem até a garganta, mas você se levanta, limpa a mão na camiseta e sorri. Você é tão corajoso, curioso e valente, filho. Admiro muito isso em você. Observo sua sede de autonomia, seu ânimo de viver, sua doçura bruta, sua desobediência civil: você é a criança que eu gostaria de ter sido. Você brilha.
Quero me contaminar pelo seu riso frouxo. E ouvir atentamente seus ensinamentos com o coração aberto: "Cada um tem seu jeito de fazer as coisas, mamãe" ou "Você precisa aceitar o nonno como ele é", ou ainda "Mangia che ti fa bene!".
Nesta insana proximidade, agradeço a oportunidade de nos reconectarmos - como fizemos nas férias de julho. Agradeço por perceber como sou boba quando perco a paciência por besteiras, como repito contigo os mesmos erros que cometeram comigo. Preciso calibrar minhas emoções pra dar conta de tantos aprendizados. Gratidão por ter me escolhido para te maternar, meu pequeno-grande Mestre.
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