Então o tempo passa. E em mim passou uma miríade de sensações. Cheguei a pensar que não havia nada mais para ser dito. Pensei que não te amava. Depois, que seria impossível não te amar. Então comecei a estudar finamente o amor em seus diversos aspectos: gratidão, compaixão, liberdade.
É isso: eu te amo. Estava resolvido.
A partir desse momento, me permiti sofrer em paz. Mergulhei em águas profundas. Sua ausência cada vez mais pungente. Oras bem, oras no chão. CHÃO. Cheguei a pensar que não iria mais te encontrar. Depois, fiquei imaginando como seria estar na sua presença. Insistia na sua presença. Internamente, alimentei a esperança genuína de te olhar e desgostar de todo você.
Então, um café. Aquele café que tinha tudo pra ser amargo. Mas não foi.
Foi eu te ver de barba mal feita que quase desmaiei [acho que você fez de propósito]. Foi um abraço de mais de um minuto que a livraria inteira parou pra invejar. Foi risada, história, lágrima, pedido de perdão. Foi tanto carinho e tanta verdade, que nem sobrou espaço pro ressentimento. A mágoa foi fazer morada noutro lugar. A raiva saiu com o rabinho entre as pernas. Foi caminhada lenta com vontade de não acabar mais.
Foi tão gostoso estar na tua presença que eu quase me esqueci que a gente não é mais um casal.
Ismael Nery, Nós, 1926
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