domingo, 29 de julho de 2012

amor bandido

Nem estou certa de que estás, mas sinto seu olhar sobre mim, seguindo meus movimentos pelo lugar. Seus olhos querem disfarçar a vigília, mas não conseguem desviar, porque a gente se imanta. Eu tiro os óculos para embaçar um pouco a vida: às vezes gostaria de não te enxergar. Mas sinto seu cheiro. E isso basta pra eu saber que você está, mesmo que a gente ainda não tenha se cruzado, olá como vai, eu vou indo, e você tudo bem? ... o que é isso de nem precisar encostar minha pele na tua pele pra saber ser a mesma textura, a mesma temperatura? De nem precisar te enxergar pra saber que estás? Pelo faro já sei. E então sair rodopiando pelo salão até o pé criar asas, flutuando, até os rostos colarem de suor, até eu fechar meus olhos por minutos a fio confiando em cada passo que dou com você. Só sei dançar com você.
E então fujo. Fujo das incertezas, das improfundezas.
Eu queria saber dar laços, mas eu só sei dar nós.
E acabo embaraçada toda.

 

sexta-feira, 27 de julho de 2012

A primeira faz bum, a segunda faz tá

Hoje é dia de palavra que arrase. Que arrase o quarteirão, o coração, a Conceição. "Minha palavra vale um tiro e eu tenho muita munição", porque cansei de fazer cara de paisagem em meio a tanta indecência. A ostentação é indecente. A leviandade me ofende, me afeta, me fode. Me recuso a fazer parte, a ser conivente, a me misturar com a escória. Quem gosta de lavagem é porco. Tô precisando de um conhaque, de um shot, de um chute. Dar um chute. A gol. Anseio por aquele frio na barriga de antigamente, para que alguma coisa me emocione, para que qualquer coisa me motive a dar o primeiro passo. E de repente percebo a raiva como minha aliada. Ela, só ela neste momento, pode me impulsionar.

Agora é:
Atenção,
Disciplina,
Neutralidade emocional,
Observação positiva da realidade.

E chega de mimimi.

sábado, 14 de julho de 2012

nice 'n' easy

Estamos a caminho do nada. Não adianta contemporizar, adiar, fingir. É preciso de uma boa dose de coragem para admitir certas coisas, e de alguma praticidade para seguir em frente. Coragem me sobra, praticidade me falta. É que eu preciso traçar algum objetivo, começar um livro novo, começar a escrever outro livro, comprar uma casa - ou um all star - para me sentir segura do próximo passo. Preciso cuidar de mim pessoalmente, seguir um pouco os conselhos que dou pros outros. Cuidar do meu coração.
Estamos a caminho do nada,  mas você não percebeu. Eu estou pretensiosa, ambiciosa, voluntariosa. Dei um nó em mim mesma e não consigo desatar. Você é um laço de setim: esvoaçante por aí, sem amarras. Eu não queria deixar de te amar, mas é meu dever te alertar que andar a caminho do nada não me faz te querer bem. Já jurei muitas vezes não mais colocar pontos, apenas vírgulas. Mas não consigo viver com este desconforto por tempo nenhum. Paciência é uma virtude que me falta. Então ponto. Estamos a caminho de um fim doloroso, porque todos os fins são mais ou menos dolorosos, mas eu não gostaria de ser protagonista desta vez. Eu não quero mais ser protagonista de fins, entende? E pra isso, não posso começar grandes coisas. Sim, parece contraditório à minha natureza, me privar da vida assim para não sofrer. Mas é uma escolha sensata, depois de tudo. Então me ajuda a fazer tudo isso ser fácil e leve, sem muitas delongas. Nice and easy, pra que o amor permaneça entre nós.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

anemia

De repente, no meio do pontinho de felicidade, a lágrima borra o olho. Passo a ver neblinado, dia cheio de suspiros. Sobretudo quando se aproxima a noitinha, ventosa, farfalhar de folhas enlouquecidas do lado de fora da minha segurança. O gato mia. A garganta dói por algo que não é dito. E sigo sem saber o que dizer. Gostaria de me sentir diferente, de acreditar em olhares cúmplices, na possibilidade de voar juntos, em roteiros de viagem. Mas algo lá no fundo chove. E não para de chover...

terça-feira, 10 de julho de 2012

banho quente

Sorrio pensando que passei um ano tomando banho frio. Não era um grande problema quando chegava da praia, corpo quente de sol. Mas em dias chuvosos era uma verdadeira tortura chinesa. Nessa época, namorava um cara que tinha uma casa com um chuveirão quente, eu costumava dizer que só estava com ele por causa daquele benesse – e talvez fosse mesmo. A gente teve uma história conturbada de algumas indas e vindas, e toda vez que terminávamos eu pensava que um banho frio estava à minha espera. Agora a vida mudou um pouco. Eu me mudei. Tenho meu próprio chuveiro quente, que está a postos para fazer minha felicidade nestes dias nublados. Aqui é minha casa, é onde me sinto bem, onde escolhi estar. Pari uma viagem cheia de sonhos. Voltei convicta. Sofro porque é da minha natureza mediterrânea, mas sei que tudo não passa de uma grande brincadeira. E, sejamos honestos, não há um dia em que brincar não se faça necessário. Loucos, famintos, desamados, buscadores: estamos novamente todos sob o mesmo céu, cheio de estrelas.