quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

o que eu mais gosto

O que eu mais gosto daqui não é difícil de dizer. É estranho - pensei: é como dizer qual é a minha música preferida... impossível! ... porque este lugar é um presente diário, são tantas lindezas, tantas sensações boas, realmente é um lugar que te proporciona muitas coisas das quais é fácil gostar muito. Mas a coisa que eu mais gosto, estranhamente, é fácil de dizer. Não é uma praia, não é um bicho, não é uma vista, não é uma pessoa. É um encontro fugaz, sempre inesperado, que te leva pra outro planeta: mini-conversa de troca intensa, que revela tanto sobre a cultura do outro, que pode servir pra você conhecer alguém novo, ou só mesmo pra rever um conhecido e perguntar como foi o dia de hoje. Esse ato tão simples pode, na verdade, mudar a sua vida. Dar carona é um hábito que perdemos porque perdemos a confiança em nós mesmos. É maravilhoso e libertador recuperar essa sensação de confiança: dormir de porta aberta, largar a chave no contato do carro, deixar a vida solta para inspirar. Dar carona é sensacional: é confiar que a essência do homem é pura, que ele não quer se apossar das “suas” coisas, que ele não quer te ferrar, te estuprar, te matar... Por que diabos ele faria isso??? É estranho como desaprendemos sobre nós mesmos desde que nascemos: somos ensinados a ser quem não somos e criamos uma imagem terrível da humanidade.

Numa dessas mini-conversas, um desconhecido se transforma no portador de palavras colocadas em sua boca exatamente para mim. Em breves minutos, minha vida, que andava sombreada, se torna pura luz, como se toda a sensatez tivesse sido despertada, como se um véu, um vento bom, uma mão tivesse passado sobre a minha testa. E noutra ocasião, um casal vira meu guru: me diz (sem saber) o que devo fazer com uma precisão cirúrgica. É uma graça estar receptiva a tantos sinais. Talvez exatamente por saber que o momento vai acabar logo ali, na esquina.

"Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade (...)"
[Clarice Lispector]

Um comentário:

Midori disse...

Beta, adorei seu texto! Não nos falamos mais, mas queria que soubesse q aquela nossa conversa no Leão, quando a gente estava no mar, foi muito importante pra mim. Vc nem imagina o quanto. Falei pra Jé que estava tudo escuro, e que você, com a sua luz, iluminou meu caminho. Engraçado como essas coisas vêm de onde a gente menos imagina...
Foi um privilégio poder estar com vc em um lugar tão maravilhoso.
Bjs!