Saindo de um debate no MASP, fim desta tarde quase noite, uma sensação de liberdade imensa. Ululavam perguntas jamais respondíveis: A Cultura pode salvar São Paulo?
De quais culturas falamos? E qual São Paulo queremos salvar?
Andando na Avenida Paulista - a vontade era voar sob o vento-temporal -, escorreguei pelo buraco das Consolação. Decidida, passos firmes, passei meu bilhete único encarecido. Foi então que magicamente pisei na escada rolante. Este momento inevitavelmente me transporta aos meus 18 anos, aos meses vividos em Londres, rolando as escadas das estações de Tottenham ou Canary Wharf, trocando olhares cumplices e abafados, e sons que seriam finalmente revelados na chagada à plataforma, no artista talentoso que salva a metrópole à custa de alguns trocados jogados no case de seu violão.
A magia é que, lá ou aqui, as pessoas, rolando em sentidos opostos, se cruzam e se fitam curiosas, flertando, fingindo ser íntima uma relação estabelecida apenas por uma breve e singular troca de olhares. E quando a escada rolante enfim se envolve novamente em seu rolo contínuo, leva consigo o sonho dos olhares cruzados.
Cada um toma seu caminho.
E voltamos a ser homens comuns.
... mas o meu coração de poeta projeta-me em tal solidão...
Caetano Veloso
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