Brasília me causou um certo desconcerto. É difícil imaginar como alguém pode ter concebido uma cidade como aquela e mais difícil ainda que ela tenha sido de fato concretizada, no meio do nada, espalhada como uma teia de aranha, propiciando a desagregação e a perda total do sentido de comunidade. A setorização da vida.
Tudo imenso: avenidas de seis pistas, sem vida, sem calçadas, sem crianças. Se fecho os olhos, consigo ouvir o ruído dos carros deslizando seus pneus no asfalto quente. Esse é o som de Brasília, acompanhado do canto de milhares de cigarras, saudando enlouquecidamente a primavera.
Contemplar os prédios do Niemeyer me tocou, não vou negar. Mas no instante seguinte, sentada no gramado em frente ao Congresso Nacional, bandeira gigante ao vento, fui invadida por um sentimento de repulsa. Descrença, asco, inconformidade, tristeza.
O céu é magnífico, é verdade. Às seis da tarde, se pinta de nuances furta-cor que criam uma atmosfera quase onírica. Nesse momento, parece que tudo flutua e a cidade torna-se apenas uma passagem, uma ponte suspensa. Esse momento quase me lembrou: eu deveria sentir mais orgulho em visitar a capital do meu país.
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