quarta-feira, 1 de julho de 2009

menos economia, mais poesia

Gente: o mundo precisa de poesia. Nossos olhos urbanos, embaçados e surdos, se umidificam de poesia - e andam bastante ressecados. Os motoristas dos ônibus precisam de poesia pra enfrentar a dureza do asfalto. Os advogados, os economistas, os jornalistas - bom, esses nem se fala... Os políticos. Os padres. Os professores, ai. Tanta poesia lhes falta. Tanta poesia nos falta.
E poesia não é "poesia" (apenas). Estrofe, verso, rima.
É perceber pedaços de ternura no cotidiano. Poesia é música, flor, quadro bonito, sorriso inesperado, olhar profundo. Poesia é delicadeza melancólica da luz do inverno. É frase bem dita. Pausada. Escrita ou falada. Ou cantada. Poesia é cuidado - muito cuidado com a poesia!

Ela é transformadora.

Gente: o mundo precisa de menos economia e mais poesia. Hoje a Leti disse que a economia também pode ser poesia. Eu respondi: "Pode. Mas não é". Não é. Mas não precisam ser antagônicas. Podemos lançar a ECONOESIA, na tentativa de humanizar esse mundaréu de gentes centrifugadas num redemoinho de estímulos, de preços, de praças, de produtos, de promoções. Centripetadas em seus próprios umbigos, em seus espelhos, em seus carrinhos. Sozinhas, tadinhas. Cada vez mais.
Então vem a poesia. E nos salva! Aleluia!
Abra os olhos. Chega de economizar poesia.

Meu mundo só tem começo, meus desejos não têm fim.
Ceumar e Tata Fernandes

4 comentários:

Leticia disse...

um olhar poético pra transformar a economia... e aí a economia vira fartura!

ju disse...

ENTÃO, SÓ PARA NÃO ECONOMIZAR:

Dos nossos males

A nós bastem nossos próprios ais,
Que a ninguém sua cruz é pequenina.
Por pior que seja a situação da China,
Os nossos calos doem muito mais...

Mario Quintana

Diana Assennato Botello disse...

me pareceu tão apropriado, que tenho pensado em andar com o meu poema preferido dentro do bolso, amassadinho, em mil pedaços, em poucas palavras... só pra me salvar do afogamento.

"Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado."
(do Mário, o Quintana)

Beta disse...

Gostei da ideia. Vou escrever num papelzinho a minha preferida - e andar com ela no bolso. Pra me salvar da economia...

É essa:

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizes, quando não estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".
(do Olavo, o Bilac)