Quando dei um passo rumo ao outro lado do rio, Red Hot começou a tocar "Parallel Universe" no meu ipod. Essa sincronicidade me fez sorrir secretamente, como se aquele universo paralelo fosse na verdade meu universo particular, como se somente eu no mundo, naquele momento, pudesse compreender o significado daquela coincidencia. "Parallel Universe" era a musica perfeita para cruzar aquela ponte.
A ponte representava o surrealismo indiano que nem Dali, com toda sua criatividade e loucura, pode imaginar. A ponte, diria Lenine, "nao é para ir nem pra voltar, a ponte é somente atravessar, caminhar sobre as aguas desse momento". Me bateu uma nostalgia antecipada ao perceber que aquela seria a ultima vez (desta vez) que cruzaria a ponte. Aproveitei ao maximo todas as sensaçoes, dei passos em camera lenta, troquei longos olhares com estranhos, observei tudo com a inocencia de uma criança, como se fosse a primeira vez. Fui caminhando por entre o barulho, as buzinas, as vacas, os mendigos, os macacos, os turistas, acompanhada pelos urros de Antony Kiedis, que fazia toda aquele fantastico parecer normal, todo aquele universo paralelo estar ao alcance das minhas maos.
Chegando à outra margem, nao olhei pra tras. Olhar pra tras nao serve pra nada, senao pra aprender, pensei. Mas neste momento me faria sentir mais nostalgica. Me restavam apenas algumas horas antes de tomar o taxi para Delhi. Apesar de menos de 300 Km separarem Rishikesh da capital, a viagem poderia durar ate 8 horas, dependendo do transito. Assim, em decisao pensada e cuidadosamente avaliada, contratei um taxi particular para me levar diretamente ao aeroporto, sem a desagradavel passagem pela insana Delhi. Me certifiquei de que o taxista era de confiança e sobretudo de que nao dormiria ao volante, ja que pegariamos a estrada à noite.
Malas prontas, por volta das 23h30, como combinado, o taxi me buscou no ashram. Nao pude deixar de derramar algumas lagrimas nao de tristeza, mas sobretudo de gratidao pelo intenso mes de aprendizados. Tentando me distrair do meu estado emotivo, o motorista se apresentou calorosamente, com seu jeito bonachao, como uma inacreditavel piada pronta:
- Boa noite, madam. Qual seu nome?
- Beta.
- Beta? Prazer, Beta! Meu nome é Sono.
Sono?!?!?!
Achei melhor nao explicar pra ele o que "sono" significava em portugues.
- Prazer, disse. E seja o que Deus quiser.
Entre as muitas coisas que aprendo com a minha mae, a primeira é: confie. E a segunda: ouça atentamente sua intuiçao, ela nunca se engana. Eu estava confiante. No fundo, la no fundo mesmo, eu tinha certeza de que minha integridade fisica nao seria comprometida. No começo da viagem, dei uma relaxada, mas minha intuiçao nao me deixava dormir...
Logo, Sono parou o carro. "Estou cansado". Estavamos na metade do caminho, e poderiamos parar por uma hora para descansar e chegar em Delhi a tempo de pegar meu aviao, afirmou. Concordei, mas dez minutos depois, Sono nao conseguia pegar no sono e resolveu seguir viagem. Trocadilho infame a parte, a viajante aqui começava a ficar tensa. Ainda teriamos mais de tres horas ate Delhi e nao estava muito animada com a perspectiva de um motorista cansado.
Tentei puxar assunto e, de repente, Sono simplismente dormiu ao volante. Dei-lhe um chacoalhao e perguntei se ele queria que eu dirigisse. A resposta veio imeditamente: ele encostou o carro no "acostamento" e pediu para que eu pulasse para o banco do motorista. Enquanto eu dirigia numa estrada indiana, na mao direita, no meio da noite, Sono dormia o sono dos justos praticamente deitado no meu colo - e ganhava 60 dolares por isso! Parallel Universe.
Eu nao sabia se rir ou chorar, mas como em quase todas as situaçoes desta viagem, escolhi o riso. Dirigi por quase duas horas, apreensiva e atenta, zelando pela minha vida que tanto amo, por entre caminhoes na contramao e motoristas sonambulos, buzinando a cada 30 segundos, porque assim se dirige na India. Eu que tanto odeio buzinar, veja voce que ironia... Sono, vez em nunca, abria os olhos e escancarava um sorriso: "indian driver!!! Good!!!". Nas proximidades de Delhi, o transito se intensificou e pedi a Sono que pegasse o volante. Estava cansada e muito brava com a cara de pau dele, mas so queria chegar ao aeroporto o mais rapido possivel.
Quando entrei no aviao, tudo aquilo parecia um sonho. Percebi que o universo paralelo estava muito alem da ponte: o fantastico estava presente em cada momento, em cada cena alucinante dessa incredible India.
Feliz em poder voltar pra casa, adormeci suavemente.
A ponte representava o surrealismo indiano que nem Dali, com toda sua criatividade e loucura, pode imaginar. A ponte, diria Lenine, "nao é para ir nem pra voltar, a ponte é somente atravessar, caminhar sobre as aguas desse momento". Me bateu uma nostalgia antecipada ao perceber que aquela seria a ultima vez (desta vez) que cruzaria a ponte. Aproveitei ao maximo todas as sensaçoes, dei passos em camera lenta, troquei longos olhares com estranhos, observei tudo com a inocencia de uma criança, como se fosse a primeira vez. Fui caminhando por entre o barulho, as buzinas, as vacas, os mendigos, os macacos, os turistas, acompanhada pelos urros de Antony Kiedis, que fazia toda aquele fantastico parecer normal, todo aquele universo paralelo estar ao alcance das minhas maos.
Chegando à outra margem, nao olhei pra tras. Olhar pra tras nao serve pra nada, senao pra aprender, pensei. Mas neste momento me faria sentir mais nostalgica. Me restavam apenas algumas horas antes de tomar o taxi para Delhi. Apesar de menos de 300 Km separarem Rishikesh da capital, a viagem poderia durar ate 8 horas, dependendo do transito. Assim, em decisao pensada e cuidadosamente avaliada, contratei um taxi particular para me levar diretamente ao aeroporto, sem a desagradavel passagem pela insana Delhi. Me certifiquei de que o taxista era de confiança e sobretudo de que nao dormiria ao volante, ja que pegariamos a estrada à noite.
Malas prontas, por volta das 23h30, como combinado, o taxi me buscou no ashram. Nao pude deixar de derramar algumas lagrimas nao de tristeza, mas sobretudo de gratidao pelo intenso mes de aprendizados. Tentando me distrair do meu estado emotivo, o motorista se apresentou calorosamente, com seu jeito bonachao, como uma inacreditavel piada pronta:
- Boa noite, madam. Qual seu nome?
- Beta.
- Beta? Prazer, Beta! Meu nome é Sono.
Sono?!?!?!
Achei melhor nao explicar pra ele o que "sono" significava em portugues.
- Prazer, disse. E seja o que Deus quiser.
Entre as muitas coisas que aprendo com a minha mae, a primeira é: confie. E a segunda: ouça atentamente sua intuiçao, ela nunca se engana. Eu estava confiante. No fundo, la no fundo mesmo, eu tinha certeza de que minha integridade fisica nao seria comprometida. No começo da viagem, dei uma relaxada, mas minha intuiçao nao me deixava dormir...
Logo, Sono parou o carro. "Estou cansado". Estavamos na metade do caminho, e poderiamos parar por uma hora para descansar e chegar em Delhi a tempo de pegar meu aviao, afirmou. Concordei, mas dez minutos depois, Sono nao conseguia pegar no sono e resolveu seguir viagem. Trocadilho infame a parte, a viajante aqui começava a ficar tensa. Ainda teriamos mais de tres horas ate Delhi e nao estava muito animada com a perspectiva de um motorista cansado.
Tentei puxar assunto e, de repente, Sono simplismente dormiu ao volante. Dei-lhe um chacoalhao e perguntei se ele queria que eu dirigisse. A resposta veio imeditamente: ele encostou o carro no "acostamento" e pediu para que eu pulasse para o banco do motorista. Enquanto eu dirigia numa estrada indiana, na mao direita, no meio da noite, Sono dormia o sono dos justos praticamente deitado no meu colo - e ganhava 60 dolares por isso! Parallel Universe.
Eu nao sabia se rir ou chorar, mas como em quase todas as situaçoes desta viagem, escolhi o riso. Dirigi por quase duas horas, apreensiva e atenta, zelando pela minha vida que tanto amo, por entre caminhoes na contramao e motoristas sonambulos, buzinando a cada 30 segundos, porque assim se dirige na India. Eu que tanto odeio buzinar, veja voce que ironia... Sono, vez em nunca, abria os olhos e escancarava um sorriso: "indian driver!!! Good!!!". Nas proximidades de Delhi, o transito se intensificou e pedi a Sono que pegasse o volante. Estava cansada e muito brava com a cara de pau dele, mas so queria chegar ao aeroporto o mais rapido possivel.
Quando entrei no aviao, tudo aquilo parecia um sonho. Percebi que o universo paralelo estava muito alem da ponte: o fantastico estava presente em cada momento, em cada cena alucinante dessa incredible India.
Feliz em poder voltar pra casa, adormeci suavemente.