terça-feira, 28 de setembro de 2010

que confusão

Na minha vida, faço muitos planos, mutáveis e mutantes, tenho ideias um tanto vagas e projetos que vão se delineando, se concretizando aos poucos - porque tudo é processo. Mas tenho uma prioridade: o amor. E quando ele chega, avassalador, forte, verdadeiro, refaço meus planos (com o outro), tenho novas ideias (juntos) e abandono alguns projetos, para empreender outros, que envolvam dois. Acho que é um movimento natural da vida. Já foi mais intenso e extremo, hoje está abrandado, mas assim sou eu.
Se me dôo para tudo, por que não para o amor?
E hoje ouvi de um amigo que sou contraditória e incoerente. Que largar meus planos por um homem não combina comigo, que meu discurso de mulher independente cai por terra quando digo que posso mudar tudo por causa de um amor. Então eu fiquei confusa... sem entender a lógica desta vida um tanto frívola que levamos. O que tem a ver eu ser uma mulher independente e autônoma com a minha decisão única, pessoal e intransferível de mudar meus planos pelo sentimento mais nobre e fenomenal do universo? Acho que as pessoas andam desacostumadas com a simples decisão de ser feliz. Parece mais importante e natural manter o discurso intacto, a aparência incólume, do que revelar sua verdadeira essência. Isso me custa.
Coragem.

domingo, 26 de setembro de 2010

sobre a reciprocidade

Ontem fui ver "Inverno da luz vermelha", de Adam Rapp. Daniela Thomas como sempre arrasando no cenário e Monique Gardeberg na direção, conduzindo muito bem aqueles três jovens atores. O texto é muito perspicaz. Cheio de surrealismos e situações improváveis, mas também tão real que me assustou. É impressionante como o teatro, quando bem feito, traz a vida em toda sua potência: é a sua vida sendo representada no palco e contada por outrém. Isso dá muita energia para dejavus nem sempre desejados. Eis que o psicodrama involuntário trouxe de volta aquela noite almodovariana.

Eu pensava:
Foi tão forte que não era possível que você tivesse sentido diferente. Tinha que ser igualmente intenso, especial, excepcional, incrível para você. Como podia ser só um passatempo, um encontro casual, uma conversa corriqueira de bar? Não! Definitivamente aquele sentimento era recíproco!! Eu batia no peito bradando que eu SABIA, que eu não era uma imbecil, que não podia estar enganada, porque eu SENTIA que você e eu estávamos em uma conexão profunda.

Mas eu estava enganada. E a peça de ontem fez cair a ficha: por mais forte que pareça, nem sempre o que é pra um, é verdadeiro pros dois.
Tá tudo certo.

Eu sou você que se vai no sumidouro do espelho.
Guinga e Aldir Blanc

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

gastura

Sou uma pessoa que sabe viver com pouco. Talvez não exatamente com pouco, mas com coisas simples. Não me conformo com a ideia de pagar 400 mil dinheiros por um pedaço de ar, um apartamento. Não concebo adquirir um par de sapatos ou uma bolsa por mil dinheiros. E não me importo em andar com meu carrinho velho (quando uso) porque acho um despropósito colocar mais um veículo na rua. Pratico a economia solidária, na medida do possível - e cada vez mais acredito em um novo modelo de troca, que não só a moeda. Dinheiro não está na minha lista de coisas mais importantes, acho que nunca vai estar. Tendo pro básico e pra uma vida divertida, pra que mais??

Mas hoje (só hoje), eu queria ter 30 mil reais pra realizar um sonho já tão antigo que tá caducando de velho. Eu queria ter 30 mil pra gerar reflexão, educação, conexão. Fazer uma coisa bonita e oferecer isso pro mundo, pras pessoas serem mais felizes. E tô numa gastura terrível, porque a sensação de que o que eu tenho de bonito pra doar pro mundo está (em algum momento) diretamente ligado ao dinheiro é extremamente aflitiva. Estou com vontade de vomitar. E de gritar. Bem alto.

Esse idealismo ainda acaba me matando.
Puta que o pariu, mundo injusto do caralho!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Não: eu me nego a te reencontrar. Eu me nego a repetir padrões, a viver de novo o que já sei que não funcionou. Eu não quero olhar pela janela e ver o tempo cinzento, as flores murchas e a garoa orvalhando a grama.

Eu quero é deitar na grama. Tomar banho de lua, de sol, de mar e de música. Inundar meu mundo com acordes que caibam em uma só melodia, daquelas bem bonitas que você ouve e chora. E quero chorar muito. E me emocionar muito.

Não sei mais o que é real ou não. Não sei se o que sinto é real, ou se foi mera criação do meu cérebro, só pelo vício de sentir. Não sei se o seu olhar doce é real, ou se ele é mera mania de ser doce e apaixonante com o mundo. Não sei mais se as coincidências são sinais ou apenas acasos.

Deve ser uma doença grave.
Ou apenas sinal de que estou mais sonhadora. E isso só pode ser bom.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

o mendigo e o cachorro

Neste fim de tarde inusitado, andando na garoa como há muito tempo não fazia, curtindo o visual da minha avenida preferida, dei de cara com uma cena muito corriqueira. Sentados na calçada, um mendigo - pés muito pretos e barba longa - e seu clássico vira-lata mais fofo do mundo. Com um amor imensurável, o mendigo beijava o cão, fazia carinhos, afagava o bichinho até cansar, e repetia uma dose de beijos verdadeiros. Era tanto amor que transbordava daquele homem sujo, com frio, talvez com fome...! que eu pensei: talvez eu esteja sendo exigente demais com o amor.

Por via das dúvidas, cheguei em casa e agarrei a Vitória.
Só pra não perder o hábito.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

la nevera se muere

Minha geladeira dá sinais de falência múltipla de órgãos. O médico já veio aqui em casa visitar, tentou reanimá-la, mas não adianta. Ela quer mesmo se despedir desse mundo. Isso é ótimo e significativo em um momento em que estou mais é querendo esquentar a vida e descongelar tudo.

sábado, 18 de setembro de 2010


Chegando em casa de um dia de muitas emoções, detém seu olhar no espelho por alguns segundos, prende os cabelos com desajeito, enfiando uma piranha entre os cachos para lavar o rosto. A fronteira entre a loucura e a sanidade é muito (muito) tênue - pensa enquanto joga água fria sobre os olhos. Um pouco louca, um pouco sã. Seca o rosto. Sem condições de decidir nada, sem vontade de pensar em ninguém, nem de cantar, com preguiça do voyeurismo, das discussões conceituais, apaga a luz. E se lembra que, desde pequena, acha que seu penteado, feito no instante de lavar o rosto à noite, fica ótimo assim desprentecioso.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

amaciando

tô tentando não perder a mão
manter a calma, apesar da explosão
manter a doçura, mesmo na solidão

espalhar pétalas no corredor
para passos flutuantes
e silenciosos

perfumar meu cangote com gerânio
não deixar a tristeza se instalar

só passar

sorrir com a alma,
ouvir conselhos bons.

tô tentando não perder a mão:
quero achá-la na sua.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

terça-feira, 7 de setembro de 2010

shelter

Quando eu viajo pra cá, eu como muito (bem), bebo muito, durmo muito, faço muita yoga, tomo banho de rio e de mar. Quando eu durmo aqui, meus sonhos acordam frescos. Aqui é meu refúgio, onde abrigo minhas tristezas e me apaziguo. Na noite passada, sonhei com a mesa da sala que eu quero comprar. Era ela, exatamente bela como eu imaginei. Ainda não sei onde encontrá-la e nem quanto ela custa, mas agora ela tem forma. É engraçado como cores, texturas, formas e cheiros me confortam, ainda que só em sonho. E no meio do meu devaneio noturno veio a casa Battló, a Pedrera, o parque Guell, muito Gaudí, loucamente inspirador com suas formas e cores, e eu andando em corredores de vento.
Acordei pra outra viagem, pronta para recobrar a poesia em mais andanças, novos olhares, encontros e inspirações. E decidida a adiar um pouco mais a compra da mesa nova - agora ela já tem forma mesmo, né?

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

ressaca

Ressaca de paixão é a pior que pode haver.
Tô precisando de um banho de mar.
Urgente.
Tchau.