domingo, 31 de maio de 2009

férias

Busco (boa) compania para viagem de férias.

Possíveis destinos:

* San Blas (Panamá)
* Costa Rica
* Los Roques (Venezuela)

Período: 09 a 31 de julho.

Pré-requisitos do(a) acompanhante: bom humor (especialmente pela manhã), que seja leve, na bagagem e na convivência. Que tenha bom papo e bom silêncio. Que goste de vinho, de ler, de mar e de sol. Que não assista TV no quarto.

Alguém se candidata?

sábado, 30 de maio de 2009

stand clear of the closing doors

Pela centésima vez, quiçá, contei a nossa história para um desconhecido: da minha audácia em te pedir em casamento no primeiro encontro, da despedida na esquina da Apinajés na certeza de que nunca mais iríamos nos ver, da nova iorque descoberta por nossos olhos, do calor que fazia naquele quarto, das inúmeras idas à loja do Kevin, das brigas escandalosas, do apaziguamento cinematográfico. Da volta - aeroporto de guarulhos e os malditos tacos de golfe.
Do fim. Da raiva. Do choro. Da dor.

Desta vez, porém, contei também do reencontro. De como é bom poder te ligar quando eu quero, quando você quer, para falarmos nada ou tudo, para descobrirmos finalmente que gostamos do mesmo sabor de pizza e que nossas mães fazem aniversário no mesmo dia. E mesmo numa sexta à noite pra te perguntar: "Que música é essa: lárariri larárirara...?", numa demonstração de sintonia que há bastante tempo não sentia.

Percebi então o quanto essa história foi importante. Agora, à distância, sem dor nem raiva nem paixão, consigo enxergar a quantidade de coisas boas que trouxemos à vida um do outro nessa troca louca e intensa e absurda, os milhares de pedecinhos de mosaicos de generosidade e música que colamos.
E o mais legal: enxerguei o quanto mudamos pra melhor.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Olha: essas andanças da vida são de muito rápida passagem. Faz um tempo quase eterno que não nos vemos. Na verdade não aguentava mais olhar pras tuas camisetas estrategicamente posicionadas num local de fácil pegada no meu armário, para sentir teu cheiro de vez em quando e para que não esquecesse de te devolvê-las caso você aparecesse (surpresa de palhaço) para aquele café da tarde. Então, agora elas moram num cantinho escuro do guarda-roupas, num lugar onde eu não mais as encontro todas as manhãs quando vou pegar um lenço ou um cachecol para me proteger desse frio fajuto.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

o fim é certamente um (re)começo

Há palavras que são reveladoras como um lençol de algodão branco ventando ao sol do meio dia. Há palavras de amor próprio que são capazes de superar o vazio que se causou. Outras de persistência que aos poucos dissipam a tristeza e amenizam a escuridão fundamental. Só quem já escreveu essas palavras é que pode reconhecê-las. Só quem já vivenciou no próprio corpo uma revolução, uma queda livre no vácuo, é que pode ter certeza que, no limite, o para-quedas abre. E o vôo torna-se macio.
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Agora é só flutuar.

terça-feira, 26 de maio de 2009

saúde

Não é legal passar mal.
Hoje passei mal o dia inteiro. Dá uma sensação de fragilidade, de feiura.
Fico na cama deitada pensando nas milhares de coisas que o mundo oferece, no sol, no vento, no trabalho, na cerveja, nas risadas. E o corpo lá jogado, cheio de dores, pedindo um merecido descanso. Forçado. Que eu não quero dar.

Ai ai, não deve ser nada fácil ser o meu corpo...

segunda-feira, 25 de maio de 2009

27

Eu tava no meio de um show de rock, cantando em coro e balançando os braços vigorosamente. Adoro shows de multidão, rola uma energia incrível, uma vibração imensa sai daquele emaranhado de pessoas unidas pela emoção da música. Memorável o The Police, no Maracanã, a Di reclamando dos peludos sem camisa na nossa frente, o Ferracina infernizando, a Thata gritando Every Little Thing she Does is Magic. Outro do qual nunca mais vou esquecer é o do U2 no Morumbi. Fui sozinha nesse show e fiquei absolutamente fascinada com aquela imagem das arquibancadas brilhando como a via láctea enquanto o Bono cantava with or withou you. Minha memória de shows de estádio na adolescência ainda era de isqueiros acesos ao ritmo das canções, essa era a primeira vez em que exclusivamente celulares iluminavam as músicas. Enfim, lá estava eu, no meio do show do Oasis. Cantando em coro - podia ser don´t look back in anger, ou what´s the story morning glory. Não lembro. O que lembro foi que me bateu uma puta sensação de juventude e de liberdade. Olhei pra Di e falei "Eu tenho 27 anos, amiga. Tô tão feliz! Eu não tenho mais 42 anos, tenho 27!!!".

Convenhamos: eu nunca tive minha idade real. Sempre fui velhinha, desde que saí da barriga da minha mãe. Quando eu tinha 6 anos, era apaixonada por um menino do colegial, o Carlo. Ele devia ter uns 17 e quando a gente se encontrava na hora do recreio, ele me dava um beijinho e apertava minha bochecha. Acho que ele me achava uma criança fofinha. Mas eu era apaixonada (sério!): chegava em casa e contava que tinha ganhado um beijo dele "no cantinho da boca", especificava. Foi culpa dele meu envelhecimento na primeira infância, certeza! Aí eu fui crescendo: minhas responsas e minhas cobranças comigo mesma também começaram a ser de velhos. Fui me envolvendo com caras mais maduros. Em geral, os amigos também eram mais velhos. Meus papos eram "de velho" e eu era sempre a que ia embora mais cedo e tinha que ouvir "ai, como você é veeeelha!". E assim era...
Não mais que de repente, alguns anos de terapia surtiram efeito: uma porralouquice tardia e alguns capotes da vida me fizeram perceber que eu tinha realmente 20 e poucos. E como foi bom viver essa mudança no meu corpo, nas minhas relações, até a vitória percebeu que eu estava mais jovem, mais bonita, meis leve.

Aí, no meio do caminho (porque SEMPRE há uma porra de uma pedra no meio do caminho!), eu conheci os 40 antes mesmo de chegar aos 30. E como diz a mãe da Di - agora eu não vou lembrar exatamente da frase, mas é algo como: quem dorme na mesma cama, se assemelha. Enfim, virei uma jovem senhora de quarenta. E tava bem confortável, afinal, quem passou mais da metade da vida assim, não podia encontrar desculpa mais propícia para retomar o padrão. Mas depois de passar por uma dor que (se eu já não fosse tão velhinha) poderia ter feito eu envelhecer de verdade, uma dor que talvez não teria essa intensidade se eu tivesse 40 anos, uma dor que espremeu meu coração e chacoalhou meu cérebro, eu voltei a perceber que continuo tendo vinte e poucos - um pouco mais do que antes, mas ainda na casa dos 20.

Portanto: eu tenho 27 anos.
E preciso me lembrar disso todo dia.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

ai

hoje eu descobri (sem querer) que ela (de fato) existe.
Me contaram que ela é feia.
Que bom. Então, vocês combinam.

cansaço e alegrias - um post metalinguístico

cara, eu queria escrever.
Mas agora voltei a ser estudante.
Tá foda.
Tô cansada, com aquele cansaço engraçado de estudante que trabalha muito - tinha esquecido o gosto disso.
Mas vou escrever, vai... Depois fico no ônibus melancólica pensando "puxa, devia ter escrito isso, aquilo, ah, aquilo outro". Não dá pra ficar colecionando temas! Bateu, escreveu. Senão perde a graça.
Aliás, este blog só tem me trazido alegrias. Tenho descoberto (ou sido descoberta por?) leitores elogiosos, bem humorados, loucos, anônimos, tímidos, interessados em mim. Pessoas de quem há muito tempo não ouvia falar, me escreveram "ei, seu blog é muito legal". Pessoas que eu nem imaginei que me lessem, me encontram em festinhas "ow, seu blog, tenho acompanhado, muito bom!". E pessoas que eu não conheço (essa é a parte mais divertida), pessoas que eu não conheço, eu estou conhecendo. É muito louca essa relação que se estabelece virtualmente e depois de alguma forma se concretiza - ou não. As que se concretizam são particularmente deliciosas. São tantas expectativas construídas por um imaginário ingênuo, tantas intimidades já partilhadas e uma vontade ensandecia de conversar tudo que não se falou até hoje na vida. Eu agora penso nessa coisa de me expor assim num blog, sem ter o menor controle e a menor idéia de quem está me lendo, isso é muito louco, meu! Eu sempre encarei esse espaço como um universo interior e paralelo ao mesmo tempo, um instrumento de catarse e evasão, de coração e de estômago.
Eu não sei bem quem eu sou aqui - aqui do outro lado da tela e aqui, nessas letras. Se sou a mesma... provavelmente sou muitas. Eu não sei bem o que é este blog, a que ele se destina, a que ele veio.
Mas estou gostando muito dessa nova forma de encontrar o mundo.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

pérola do almoço

- Oi, por favor, eu quero uma casquinha de creme.
- É mista?
...
- Qual foi a parte do creme que você não entendeu?

segunda-feira, 18 de maio de 2009

sobre a espontaneidade e a sincronicidade

Ontem uma criança teria gritado, chorado, esperneado: "Quero ir emboraaaaaa, mãe!!!!". "Mas por que, minha filha? Por que você quer ir embora?". "Porque eu não gosto do tio marcio, ele é bobo e feio, ele tira meleca do nariz e depois passa o dedo cheio de meleca no sofá". Essa espontaneidade é o que vamos perdendo enquanto (achamos que) crescemos. Mas se você levanta educadamente, sem chorar, sem espernear e sem gritar e simplesmente diz: "Com licença, eu vou embora", o seu comportamento passa a ser visto como algo bizarro. Mesmo educada, você se torna agressiva. Mesmo deixando claro que o lance é contigo, as pessoas fazem questão se assumir pra si uma parcela da loucura do outro. Mesmo estando na sua verdade, não há como evitar julgamentos: Você surtou? Você tá louca?. Não, gente, eu só quis ir embora.
Então eu fui. Vivenciando no meu corpo o prazer do descontrole, de soltar a vida, deixar ela correr sem rédeas. O prazer de assistir uma peça ótima, linda surpresa, e de receber carinho e (re)conhecimento inesperados. O prazer de pagar a conta do bar e sair andando numa noite fria paulistana, dobrar a esquina e dar de cara com a sincronicidade, a mesa posta, ali, para revelar pequenas intimidades - colher, fio dental e óculos escuros - e se fartar de breves descobertas.
Sim, definitivamente, a vida é filme.

NÃO PERCAM:
Bem Aventurados os Anjos que Dormem, de Marília Toledo
Direção: Kleber Montanheiro
Elenco: Daniela Flor, Juliana Bogus Saad, Ariel Moshe, Carlos Dias e Márcio Bueno Dias
Sextas e sábados, às 0h
Até 26 de Junho
Miniteatro
Praça Roosevelt, 108 (Centro)
Tel: (11) 2865-5955
Ingressos: R$30,00 e meia-entrada

domingo, 17 de maio de 2009

a estatística do amor

Antes de sair pro aeroporto ela se olhou no espelho, ajeitando o cabelo. Como de costume, falou com sua imagem refletida: "Como você está linda!". E sorriu. Embaçou o espelho com o hálito fresco de mentol. Colou os lábios no vidro frio e deixou um beijo rosado para ele. Apagou a luz e foi.
No balcão do check in, pouca fila. O vôo estava no horário, o que lhe deixava pouco tempo para aquele café-observador de que tanto gostava. Mesmo assim foi até o bar. Encostou no balcão, distraída: "Um café. Curto, por favor".
"Açúcar ou adoçante, senhora?".
"Nada, obrigada. Tomo amargo".
Então, antes do primeiro gole, sentiu. Um arrepio escalava cada uma de suas vertebras e um perfume inundou-lhe o pescoço. Com a xícara quase entre os lábios, levantou levemente o olhar.
"Um café, por favor. Curto".
"Açúcar ou adoçante, senhor?".
"Nada, obrigada. Tomo amargo".
Desviou. Deu o primeiro gole. Quente.
"Engraçado", disse ele. "Poucas pessoas tomam café sem açúcar".
Sorriram.
"É... os brasileiros gostam de café muito doce", replicou ela.
"É um povo muito doce", ele - em tom elogioso.
Sorriram.
"Hmm, estão chamando meu vôo, vou indo", disse ela, dando o último gole. "Tchau".
"Tchau. Boa viagem", respondeu ele.
Apanhou o sobretudo e virou-se evitando encontrar seus olhos, levando consigo o perfume.
Agora em seus cabelos, cangote, orelhas.
O arrepio havia se transformado em olhar que a seguia.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

moça de família

Se eu fossa filha de pais divorciados que se odeiam e se xingam, se meu pai fosse alcoolatra e minha mãe apanhasse, se ele fosse um mulherengo imbecil e minha mãe uma balzaquiana tarada, ou submissa a um machista violento... se tudo isso fosse verdade e possível, eu poderia ter uma boa desculpa para usar generalizações sobre o universo masculino - e sobre o feminino [e ainda assim relutaria, porque eu acredito no ser humano].
Acontece que eu sou uma moça de família. Bem nascida e bem criada numa família de classe média, bem educadinha mesmo. Nunca vivi num conto de fadas, nunca fui poupada dos problemas da casa - em sua maioria financeiros. Vi meus pais brigando muitas vezes - até hoje vejo - gritando, chorando, expondo o que há de verdadeiro num relacionamento: a dor, a raiva, a monotonia... e também a alegria de estar junto, de partilhar a vida, de celebrar as conquistas. Vi(vi) relacionamentos felizes (contraditórios, amargodoces, desistentes e resistentes) nascendo e se mantendo no seio de uma família burguesa e conscientemente feliz. Meus pais têm um casamento feliz. Meus avós tiveram casamentos felizes.
Então, de referências é que eu não padeço. Não tenho desculpa nenhuma pra acreditar que homens são canalhas, cretinos, machistas ou imaturos. Não acho que serei traída "porque ele é homem" (ponto). E quase nunca acho que as coisas vão dar errado: mesmo quando sinto que elas poderão não fluir, continuo querendo acreditar que elas podem dar certo de outro jeito.
Mas... tá difícil, viu? É com imenso pesar que vos confesso: tá dificil manter esse otimismo e, por ter essas referências, fica ainda mais complicado olhar pro mundo e perceber como as estruturas estão corroídas, como as relações estão no estágio anterior ao da superficialidade, gritando por um carinho, por um afago, por uma franqueza. Tá todo mundo desesperado por amor, as pessoas só não se dão conta disso.
Tô triste. (hoje) acho que não quero ter filhos.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

pingado

O amor não é expresso, é café-com-leite.

Adoro o Carpinejar, cara!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

lucy in the sky with diamonds

Tem jeito de menina, mas é uma fortaleza de mulher. Carismática, deixa um rastro de perfume onde passa. Dela herdei o que tenho de pior e de melhor, graças a Deus. Colou em mim a paixão por tudo que é dessa vida. A visceralidade, a musicalidade, a impulsividade. Sonhadora por natureza, sempre alimentou em mim a fantasia, o sonho. Incentiva a busca pelos meus sonhos, qualquer que seja o preço a ser pago - pois descobrimos juntas que sempre há um.
Juntas também estamos crescendo: aprendendo a não fácil tarefa de se escutar, de se respeitar, de se limitar, em meio a esse desmesurado amor incondicional.
Ontem a Dido falou: "vocês se parecem tanto que dá até raiva!".
Pois é: amor uterino. Simbiose transcendente.

Feliz aniversário, minha mais querida Luci-diamante.

domingo, 10 de maio de 2009

porque...

..., no fundo, a única coisa com que eu devo me importar nesse mundo sou eu.

We´re all part of the masterplan.
Noel Gallagher

sexta-feira, 8 de maio de 2009

exercício experimental da liberdade

Fiquei um pouco raivosa com esse congresso. Incomodada naquele ambiente, porque jornalista baba ovo o tempo inteiro e se acha o rei das cocadas de todas as cores (depois dizem que artista é que tem ego desmesurado...). E quando alguém diz uma coisa que vem do coração, vira piegas. Legal é reclamar das horas trabalhadas a mais e do parco salário recebido em troca. Ir pro Filial depois do fechamento, pedir um chopp pro Ailton e ficar reclamando do fechamento, esbanjando cansaço, exibindo olheiras. Adorei quando o Danilo Miranda disse pra todo mundo ouvir: "vocês me desculpem, mas tá cheio de colega de vocês por aí fazendo gênero...". Em grande medida, esse comportamento, essa persona fake que você vai assumindo à medida que entra nesse rol, foram os responsáveis pela minha escolha em me afastar do jornalismo. Não foi escolha fácil, mas pensada. Como em qualquer outra profissão, tem muito pouca gente que acredita no que fala - e que pratica o que fala. Mas nessa profissão não dá pra aguentar essa discrepância. Não dá pra você dizer uma coisa e escrever outra, não dá pra você dar a tua cara pra bater por coisas em que você não acredita.
Bom, pra mim não deu.
... mas tem muita coisa boa também. E muita gente boa e competente, que se envolve, faz jornalismo com paixão genuína. E hoje, apesar de ter passado o dia com a cabeça estourando, os olhos ardendo febris, os pensamentos em qualquer lugar menos onde eles deveriam estar, pensei nisso.
Ouvi a Ana Maria Tavares dizer que a arte é o exercício experimental da liberdade. Essa frase caiu como um colírio nos meus ouvidos. Sem perceber, acho que apliquei isso à minha vida, ao meu caminho profissional. Estou, a cada dia, exercitando experimentalmente a minha liberdade, fazendo o que eu amo. Leitora curiosa, executora de projetos, neo-chefe, cantora, dialogadora voraz, blogueira, estudante sedenta, criadora de ideias...
O mais legal dessa vida (MESMO) é que a gente pode ser o que quiser.
Inclusive jornalista.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

veja (bem):

O Carlos Graieb é um idiota.
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Posto o título, vamos ao lide:
O editor-executivo da revista Veja, Carlos Graieb, participou na tarde de ontem do I Congresso de Jornalismo Cultural, promovido pela Revista CULT no Tuca, Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Graieb dividiu a mesa com seu colega de profissão, Marcos Flamínio, editor do caderno Mais!, e com os acadêmicos Olgária Matos e Vladimir Safatle, ambos professores de filosofia da USP.

O debate, mediado pelo editor da revista CULT, Eduardo Socha, propunha uma reflexão crítica sobre a pauta das ciências humanas na Universidade e na imprensa, a falta de diálogo existente e a inadequação entre a produção acadêmica e jornalística.

Graieb começou sua fala se defendendo (de quê?). Em um tom já bastante alterado, iniciou dizendo que a manipulação ideológica é um "mito" construído pela "esquerda" a respeito do jornalismo praticado pela grande imprensa, considerada por esta mesma "esquerda" como um grande "vilão" - perdoem, não foi essa a palavra usada pelo ilustre editor, mas eu fiquei tão chocada que esqueci de anotar (...).

"Vocês se esquecem de toda a parte de apuração das notícias. São FATOS apurados e verificados muitas vezes: se o ônibus que bateu no carro veio da esquerda ou da direita, se a história foi contada pela mãe do pai ou pela mãe da mãe do personagem... Parecem coisas irrelevantes, mas são detalhes importantes", disse.

Não há dúvida.

O editor-executivo da revista trouxe exemplos esdrúxulos cercados de discursos inconsistentes e arrogantes, buscando justificativas injustificáveis ao jornalismo indigno e sensacionalista praticado pela revista para a qual ele trabalha - que pertence à Editora Abril, como fez questão de esclarecer, caso a platéia, composta em sua maioria por jornalistas, não soubesse.

Fez querer parecer que a escolha de palavras, de enunciados, de pautas, de ângulos não traz embutidas implicações ideológicas e formação de opiniões. Fez querer parecer que tudo isso não passa de invenção de uma esquerda acadêmica fora de moda, que, segundo ele, não reconhece a capacidade crítica dos leitores e acredita que o público de 1 milhão de leitores da revista veja seja levado como gado ao celeiro. De fato, tudo não passa de uma teoria da conspiração às avessas. Mattelart, Deleuze, Bourdieu, Martín-Barbero, Morin, Benjamin (só para citar alguns) não têm nada a ver com isso.

O cara deve estar de brincadeira, pensei. Deve ser uma provocação... Mas por que foi afinal que não chamaram o João Gabriel Lima, já que se trata de jornalismo cultural, e botaram esse pulha aqui pra estragar essa mesa que poderia ser tão profícua? Se chamaram alguém da concorrência, podia ser da concorrência cultural, não?

Estava no meu limite, o sangue subindo. Por diversas vezes, quase me levantei para ir embora. Mas calma, esta é a diversidade, certo? É preciso saber e aprender a conviver com ela... é o que prego todos os dias.

Entre outros absurdos, insurgências contra o governo sobre o caso Larry Rohter (que, depois, deu pra entender: foi só uma lavagem de roupa suja com o Vladimir Saflate, outro dos palestrantes, coisa feia...), Graieb só faltou xingar os blogueiros de vagabundos, quando afirmou que "não saem às ruas para verem os fatos de perto". Por certo vemos os fatos de longe, quem vê de perto são os repórteres da veja.

E por fim, quando terminou sua defesa de nenhuma acusação (pelo menos não naquele contexto), ele citou o Antônio Cândido (coitado!), idealizador do suplemento literário do Estadão, "criado por e para uma elite - os amigos do Mesquita”.

Boa mesmo é a seção de cultura da veja, né? Que traz informações apuradas... FATOS! É extensa e sobretudo abrangente. É diversificada, aberta, não está ligada ao jet set e convive nas páginas ao lado do adorável Diogo Mainardi. Puta que o pariu.

p.s: e não me venha falar em imparcialidade. Nunca acreditei nem pratiquei isso.

terça-feira, 5 de maio de 2009

inquieta

Não tem como falar essa palavra e não lembrar de você.
E nem ouvir Chet Baker sem lembrar de você.
Mas pouco eu não quero mais.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

declaração ufanista

Em conversa de bar com uma simpática libanesa que vive em Amsterdã há 7 anos, sobre os mais belos países da Europa, as comidas, a diversidade, ela me perguntou: "Então, qual é, na sua opinião, o melhor país para se viver?". Sem hesitar, respondi que o este era o melhor país, o Brasil. Ela me olhou surpresa, não porque não concordasse, mas ela deve ter ficado pasma com a minha rapidez na resposta certeira.
Até eu fiquei meio surpresa com isso, pra dizer a verdade. Passei anos sonhando em como seria o dia da minha partida, da minha mudança para outro país. Passei anos idealizando um outro país. Passei a vida (até hoje) lidando com a dilacerante realidade da dupla cidadania, da dupla formação, dos duplos e contrastantes valores, sempre priorizando os do velho continente (essa maldita síndrome de cachorros vira-lata!).
Há alguns anos, descobri o Brasil. Fascinada. Hoje não me mudo. Não vou embora. E não tampo o sol com a peneira: sei dos problemas que temos e eles continuam me indignando. Só que, diferentemente de antes, eles agora me instigam a ficar.
Então, quando a libanesa me olhou supresa, eu contei pra ela o que o Augusto de Franco me insinou: ele dizia que qualquer localidade do mundo pode ser o melhor lugar pra se viver. Estar imbuído da certeza de que não há melhor lugar para se viver do que aquele em que se vive já é, de certa forma, transformá-lo no melhor lugar do mundo - com os milhares de fatores envolvidos em toda essa questão, sem querer simplificá-la. Por isso minha resposta certeira, sem hesitações: porque eu já materializei o Brasil como o melhor lugar do mundo para eu viver. Porque todo o resto do mundo maravilhoso que eu conheci até hoje me mostrou que Brasil é puro sol, fonte de vida, de luz, com todas as suas quenturas e brilhos.

sábado, 2 de maio de 2009

para viver as coisas

Há sempre duas escolhas para encarar as coisas da vida. Ou mais de duas. Mas nunca menos. Olhando a situação de fora, mesmo estando dentro dela, naquele momento de lucidez que precede o ato, aquele micro-instante em que você parece que vira observador de si mesmo, você realmente se dá conta de que tem, no mínimo, duas opções.

1) Quem deixa esse cheiro bom assim?

....

2) Lágrimas vão de mim por quem?

Contudo, após a escolha, é preciso de um outro momento de lucidez para o ato em si.
Hoje esse momento não veio.
Surpresa: fiquei com o cheiro bom E com as lágrimas, que, na verdade, não sei mais por quem vão.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

feliz aniversário

Andando por essa cidade dura e cinzenta, as árvores floridas de abril me chamam atenção. Me emocionam. Um pingo de tinta no cinza encarpeta o chão com flores marcadas por passos apressados. Chão rosa: uma árvore linda e enorme se ergue na fresta do concreto entre a Consolação e o Minhocão. Há dias a observo, de dia e de noite, de noite e de dia. Hoje, passando a pé ao seu lado, lembrei daquela mesma espécie, "Pata de Vaca", rua fradique coutinho, no teu quintal. A casinha de campo é eterna, com sua grande árvore, exuberantemente florida de presente prá você no dia do teu aniversário.
É incrível como há coisas que vão estar pra sempre na nossa memória.
Feliz aniversário, flor.